Universo Escolar
 

Ações Pedagógicas em Relação ao Plágio - 03/10/2012
Inge R. F. Suhr

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Muitas instituições de ensino superior têm enfrentado uma situação desagradável: a presença do plágio nos trabalhos apresentados pelos alunos.

Cada vez mais é necessário utilizar ferramentas de busca na internet e de programas de computador, tais como farejador de plágio, armando-se, assim, verdadeiros “esquadrões de caça ao plágio”.

Neste artigo, desejo abordar outro aspecto, embora com o mesmo objetivo: coibir o plágio.

Vamos explorar algumas ações pedagógicas com o objetivo de evitar que o plágio ocorra.

Primeiramente, precisamos ter claro que há dois tipos de plágio no que se refere à intenção do aluno.

O primeiro deles é aquele cometido conscientemente, ato de má fé.

O segundo, comum em alunos de início de curso, é o plágio involuntário, no qual o estudante copia trechos dos autores ou costura um “mosaico” de ideias sem se dar conta de que isso é plágio.

A escola básica, na maioria dos casos, não tem ensinado aos alunos o que é pesquisa e, de certo modo, os induz ao plágio quando solicitam – e aceitam – trabalhos que são mera cópia de livros ou sites da internet.

Raramente os alunos são orientados antes de ingressarem no ensino superior em relação ao uso indevido das ideias e conhecimentos alheios.

Por isso, há uma tendência de os alunos chegarem a nós achando que é normal copiar trechos de obras sem citar as fontes.

Nosso trabalho é, de certa forma, desconstruir o que foi construído no imaginário do aluno no decorrer de, no mínimo, 11 anos de estudo e, em seu lugar, colocar uma nova visão.

Portanto, é um trabalho a médio e longo prazo.

Ainda no que se refere ao plágio involuntário, vários professores relatam situações nas quais os alunos reescrevem (parafraseiam) o texto original e acham que “ao mudarem as palavras” já não estão plagiando.

Foram citados exemplos de alunos que afirmam: “professora, mas eu escrevi o que eu entendi”, ou ainda “eu não copiei, escrevi com as minhas palavras”.

Na visão desses alunos, plágio é somente a cópia ipsis literis do texto consultado.

Em nossa prática diária no ensino superior, é preciso empreender dois tipos de ação em relação ao plágio. Um deles se refere ao ensino e outro à sanção.

Sugestões para Coibir o Plágio Relacionado ao Ensino:

– Nas primeiras aulas do semestre, quando o professor deve apresentar seu plano de curso para os alunos, explicar o que é ser estudante de ensino superior, como se constrói o conhecimento e qual a forma correta de utilizar as ideias daqueles pesquisadores que nos antecederam.

– Ainda nas primeiras aulas do semestre, no “contrato pedagógico” que estabelece com os alunos, o professor deve incluir as orientações e também deixar bem claro quais serão as sanções em caso de uso indevido de ideias alheias.

– Utilizar fatos divulgados na mídia, como o caso do ministro alemão Karl-Theodor Guttenberg, que perdeu seu cargo porque ficou comprovado que em sua tese de doutorado ele não referenciou corretamente as fontes e a bibliografia utilizadas em seu trabalho. Ler com os alunos a reportagem, discutir o aspecto ético e as consequências do fato.

– Expor aos alunos quais os prejuízos do plágio para o desenvolvimento da ciência e, portanto, do desenvolvimento do Brasil.

– Trabalhar com os alunos, indiferente de qual é a nossa disciplina, orientações relativas de como usar as pesquisas já realizadas de maneira correta, dando créditos ao(s) autor(es). Isso significa, a cada semestre, retomar como se faz citação longa, breve, indireta etc. Alguns colegas relataram que os alunos agem de modo diferenciado com um ou outro docente, tomando mais cuidado com a forma de escrever nas disciplinas em que o professor, explicitamente, se referiu ao plágio e sendo menos cuidadosos naquelas em que esta conversa não ocorreu.

– Corrigir detalhadamente os trabalhos solicitados, apontando ao aluno os trechos plagiados. Advertir o aluno em relação ao fato e descontar nota. É muito importante que o aluno sinta que os trabalhos serão realmente corrigidos, pois, no seu imaginário, os professores não corrigem trabalhos, apenas os usam para “aumentar a nota”.

– Se o professor não tiver tempo para corrigir detalhadamente os trabalhos, então deverá optar por outras estratégias de avaliação.

– Solicitar aos alunos que pesquisem em casa, em qualquer fonte, e tragam para a aula seguinte o material sobre o tema que desejamos trabalhar. Averiguar no início da aula se os alunos realmente trouxeram o material solicitado e deixar um tempo (aproximadamente 10 minutos) para que cada um (re)leia o material que trouxe. A seguir, reunir os alunos em duplas que tenham fontes diferentes e pedir que, com base nos dois textos, a dupla elabore, em sala, uma síntese do conteúdo. Esta síntese deve ser referenciada e entregue ao final da aula. Poderá valer algum “ponto” na nota bimestral.

– Realizar os trabalhos em sala de modo a coibir a “cópia”.

– Definir um tema a ser pesquisado no decorrer de uma aula, levar os alunos à biblioteca, orientá-los sobre como localizar as informações e, ao final da aula, cada aluno deverá apresentar uma síntese individual do conteúdo apreendido, sempre citando qual foi a obra de referência.

– Solicitar trabalhos que exijam o posicionamento do aluno e não apenas a cópia. Exemplificando: em vez de solicitar “pesquisa sobre empreendedorismo”, pedir que os alunos analisem um caso com base no referencial sugerido pelo professor.

– A problematização dos temas também contribui para isso, pois exige a análise do problema e há busca de diferentes formas de solução e comparação com a proposição dos autores, enfim, leva ao desenvolvimento da autonomia intelectual. Mesmo assim, é importante orientar os alunos em relação ao modo correto de fundamentar suas escolhas e análises, dando os créditos às obras e autores consultados.

– Mesmo que seja um plágio involuntário, o aluno deve ser notificado do fato e não deve receber nota integral em seu trabalho. A questão de qual será o percentual de nota a ser descontado dependerá da extensão do plágio no texto do aluno e da etapa do curso no qual ele se encontra (a exigência com alunos de início, meio e fim de curso precisa ser diferenciada).

– Convidar professores do curso de Direito para fazerem uma explanação sobre os aspectos jurídicos do desrespeito à lei de Direitos Autorais.

Sugestão de Ações de Sanção em Relação ao Plágio:

– Se um trabalho foi totalmente plagiado (de uma ou mais obras), conferir nota zero ao aluno.

– Guardar “prova documental” do plágio cometido. Se for necessário, devolver o trabalho ao aluno, fotocopiá-lo com todas as anotações feitas no decorrer da correção. Deve haver indicação clara de quais trechos estão plagiados e qual a origem do texto copiado indevidamente. Tal procedimento é importante para que não sejamos acusados de calúnia e difamação.

– Constatado o plágio em alguns trabalhos de uma turma, realizar um comentário coletivo sobre o fato, sem personalizar nem citar nomes. A conversa com o(s) aluno(s) que incorreu (incorreram) em plágio deverá ser à parte, alertando, lendo o regimento da instituição e, se for o caso, advertindo por escrito.

– Conversar com o coordenador de curso sobre o fato e, se ambos julgarem procedente, advertir o(s) aluno(s) por escrito. Esse termo de advertência deverá ser arquivado na coordenação de curso.

– Em casos de TCC, não aceitar, em hipótese alguma, trabalho plagiado. Cabe à Banca Examinadora discutir sobre as ações a serem tomadas nessa situação.

Professora Msc. Inge R. F. Suhr é Coordenadora Pedagógica de Ensino Presencial do Grupo Uninter.

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