Muitas instituições de ensino superior
têm enfrentado uma situação
desagradável: a presença do plágio nos
trabalhos apresentados pelos alunos.
Cada vez mais é necessário utilizar ferramentas
de busca na internet e de programas de computador, tais
como farejador de plágio, armando-se, assim,
verdadeiros “esquadrões de caça ao
plágio”.
Neste artigo, desejo abordar outro aspecto, embora com o mesmo
objetivo: coibir o plágio.
Vamos explorar algumas ações
pedagógicas com o objetivo de evitar que o plágio
ocorra.
Primeiramente, precisamos ter claro que há dois tipos de
plágio no que se refere à
intenção do aluno.
O primeiro deles é aquele cometido conscientemente, ato de
má fé.
O segundo, comum em alunos de início de curso, é
o plágio involuntário, no qual o estudante copia
trechos dos autores ou costura um “mosaico” de
ideias sem se dar conta de que isso é plágio.
A escola básica, na maioria dos casos, não tem
ensinado aos alunos o que é pesquisa e, de certo modo, os
induz ao plágio quando solicitam – e aceitam
– trabalhos que são mera cópia de
livros ou sites da internet.
Raramente os alunos são orientados antes de ingressarem no
ensino superior em relação ao uso indevido das
ideias e conhecimentos alheios.
Por isso, há uma tendência de os alunos chegarem a
nós achando que é normal copiar trechos de obras
sem citar as fontes.
Nosso trabalho é, de certa forma, desconstruir o que foi
construído no imaginário do aluno no decorrer de,
no mínimo, 11 anos de estudo e, em seu lugar, colocar uma
nova visão.
Portanto, é um trabalho a médio e longo prazo.
Ainda no que se refere ao plágio involuntário,
vários professores relatam situações
nas quais os alunos reescrevem (parafraseiam) o texto original e acham
que “ao mudarem as palavras” já
não estão plagiando.
Foram citados exemplos de alunos que afirmam: “professora,
mas eu escrevi o que eu entendi”, ou ainda “eu
não copiei, escrevi com as minhas palavras”.
Na visão desses alunos, plágio é
somente a cópia ipsis literis do
texto consultado.
Em nossa prática diária no ensino superior,
é preciso empreender dois tipos de
ação em relação ao
plágio. Um deles se refere ao ensino e outro à
sanção.
Sugestões
para Coibir o Plágio Relacionado ao Ensino:
–
Nas primeiras
aulas do semestre, quando o professor deve apresentar seu plano de
curso para os alunos, explicar o que é ser estudante de
ensino superior, como se constrói o conhecimento e qual a
forma correta de utilizar as ideias daqueles pesquisadores que nos
antecederam.
– Ainda nas primeiras aulas do semestre, no
“contrato pedagógico” que estabelece com
os alunos, o professor deve incluir as
orientações e também deixar bem claro
quais serão as sanções em caso de uso
indevido de ideias alheias.
– Utilizar fatos divulgados na mídia,
como o caso do ministro alemão Karl-Theodor
Guttenberg, que perdeu seu cargo porque ficou comprovado que em sua
tese de doutorado ele não referenciou corretamente as fontes
e a bibliografia utilizadas em seu trabalho. Ler com os alunos a
reportagem, discutir o aspecto ético e as
consequências do fato.
– Expor aos alunos quais os prejuízos do
plágio para o desenvolvimento da ciência e,
portanto, do desenvolvimento do Brasil.
– Trabalhar com os alunos, indiferente de qual é a
nossa disciplina, orientações relativas de como
usar as pesquisas já realizadas de maneira correta, dando
créditos ao(s) autor(es). Isso significa, a cada semestre,
retomar como se faz citação longa, breve,
indireta etc. Alguns colegas relataram que os alunos agem de modo
diferenciado com um ou outro docente, tomando mais cuidado com a forma
de escrever nas disciplinas em que o professor, explicitamente, se
referiu ao plágio e sendo menos cuidadosos naquelas em que
esta conversa não ocorreu.
– Corrigir detalhadamente os trabalhos solicitados, apontando
ao aluno os trechos plagiados. Advertir o aluno em
relação ao fato e descontar nota. É
muito importante que o aluno sinta que os trabalhos serão
realmente corrigidos, pois, no seu imaginário, os
professores não corrigem trabalhos, apenas os usam para
“aumentar a nota”.
– Se o professor não tiver tempo para corrigir
detalhadamente os trabalhos, então deverá optar
por outras estratégias de avaliação.
– Solicitar aos alunos que pesquisem em casa, em qualquer
fonte, e tragam para a aula seguinte o material sobre o tema que
desejamos trabalhar. Averiguar no início da aula se os
alunos realmente trouxeram o material solicitado e deixar um tempo
(aproximadamente 10 minutos) para que cada um (re)leia o material que
trouxe. A seguir, reunir os alunos em duplas que tenham fontes
diferentes e pedir que, com base nos dois textos, a dupla elabore, em
sala, uma síntese do conteúdo. Esta
síntese deve ser referenciada e entregue ao final da aula.
Poderá valer algum “ponto” na nota
bimestral.
– Realizar os trabalhos em sala de modo a coibir a
“cópia”.
– Definir um tema a ser pesquisado no decorrer de uma aula,
levar os alunos à biblioteca, orientá-los sobre
como localizar as informações e, ao final da
aula, cada aluno deverá apresentar uma síntese
individual do conteúdo apreendido, sempre citando qual foi a
obra de referência.
– Solicitar trabalhos que exijam o posicionamento do aluno e
não apenas a cópia. Exemplificando: em vez de
solicitar “pesquisa sobre empreendedorismo”, pedir
que os alunos analisem um caso com base no referencial sugerido pelo
professor.
– A problematização dos temas
também contribui para isso, pois exige a análise
do problema e há busca de diferentes formas de
solução e comparação com a
proposição dos autores, enfim, leva ao
desenvolvimento da autonomia intelectual. Mesmo assim, é
importante orientar os alunos em relação ao modo
correto de fundamentar suas escolhas e análises, dando os
créditos às obras e autores consultados.
– Mesmo que seja um plágio
involuntário, o aluno deve ser notificado do fato e
não deve receber nota integral em seu trabalho. A
questão de qual será o percentual de nota a ser
descontado dependerá da extensão do
plágio no texto do aluno e da etapa do curso no qual ele se
encontra (a exigência com alunos de início, meio e
fim de curso precisa ser diferenciada).
– Convidar professores do curso de Direito para fazerem uma
explanação sobre os aspectos jurídicos
do desrespeito à lei de Direitos Autorais.
Sugestão
de Ações de Sanção em
Relação ao Plágio:
–
Se um trabalho
foi totalmente plagiado (de uma ou mais obras), conferir nota zero ao
aluno.
– Guardar “prova documental” do
plágio cometido. Se for necessário, devolver o
trabalho ao aluno, fotocopiá-lo com todas as
anotações feitas no decorrer da
correção. Deve haver
indicação clara de quais trechos estão
plagiados e qual a origem do texto copiado indevidamente. Tal
procedimento é importante para que não sejamos
acusados de calúnia e difamação.
– Constatado o plágio em alguns trabalhos de uma
turma, realizar um comentário coletivo sobre o fato, sem
personalizar nem citar nomes. A conversa com o(s) aluno(s) que incorreu
(incorreram) em plágio deverá ser à
parte, alertando, lendo o regimento da
instituição e, se for o caso, advertindo por
escrito.
– Conversar com o coordenador de curso sobre o fato e, se
ambos julgarem procedente, advertir o(s) aluno(s) por escrito. Esse
termo de advertência deverá ser arquivado na
coordenação de curso.
– Em casos de TCC, não aceitar, em
hipótese alguma, trabalho plagiado. Cabe à Banca
Examinadora discutir sobre as ações a serem
tomadas nessa situação.
Professora
Msc. Inge R. F. Suhr é
Coordenadora Pedagógica de Ensino Presencial do Grupo
Uninter.