Diário de Classe
 

Superproteção Materna - 02/10/2012
Maria Irene Maluf

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Proteger seus filhos é uma atitude esperada de todas as mães na nossa sociedade.

Esses cuidados maternos desde o nascimento, sempre amorosos, persistentes, incondicionais, dão uma base de segurança física e emocional à criança nos seus primeiros anos de vida.

Entretanto, na medida em que crescem, todas precisam experimentar o contato com as diferentes pessoas e nas mais diversas situações.

Entre as razões para isso pode-se pensar no conhecimento de seus limites e nos seus devidos alargamentos, no tornarem-se fortes, no serem capazes de superarem frustrações, lutarem por seus objetivos, suportarem adversidades, serem autônomas, entre outras coisas.

Infelizmente, esse processo natural de crescimento exige certo despreendimento materno, o qual nem sempre é fácil para algumas mulheres.

Isso se dá pelo fato de que, frente a um mundo cheio de violência e disputas acirradas, elas não conseguem deixar de manter os cuidados excessivos, necessários aos primeiros anos, mas que depois deles tornam-se excessivos e debilitantes para a autoestima da criança e seu amadurecimento.

Por estranho que pareça, na mesma época em que as crianças assumem ares adolescentes tão cedo buscam a liberdade e se colocam contra as normas mais básicas.

Muitas são também superprotegidas, não respondem por suas decisões mesmo quando agem de modo errado e não toleram sofrer frustrações: seus pais e especialmente suas mães tomam todas as providências para que vivam longe de contrariedades, problemas, perdas, responsabilidades.

Com a desculpa de que precisam cuidar para que seus filhos sejam resguardados da violência e do sofrimento, os fazem viver em uma redoma, longe da realidade e dos encargos que gradativamente todos deviam assumir para aprender a se defender.

Entretanto, esquecem-se que toda proteção não é capaz de livrar seus filhos de acidentes e nem de tragédias de todo tipo, nem de sentimentos de incompetência ou baixa autoestima.

Ao contrário do que algumas mães julgam, cuidado demais não dá a sensação de as crianças serem mais amadas, mas sim de serem incompetentes e daí para a frustração e para a busca de satisfação em outras áreas menos saudáveis é apenas um passo.

Excesso de proteção pode levar a uma falsa ideia de que são pessoas especiais, imunes a qualquer perigo, o que é uma bomba de efeito programado principalmente na adolescência.

Jovens que exageram na bebida, nos esportes radicais, abandonam a escola, tornam-se agressivos contra seus próprios pais, infelizmente estão nas páginas dos noticiários.

Todas as crianças correm alguns riscos durante seu crescimento e superá-los as tornam competentes e fortes perante os demais.

É difícil as mães se reconhecerem como superprotetoras já que raramente percebem o exagero de seus cuidados em relação ao filho.

Normalmente, os atribui a alguma causa externa, o que constitui na verdade um pretexto para continuarem cuidando de seu filho como se este fosse alguém muito indefeso ou imaturo para a idade.

Geralmente, a mãe acaba percebendo que é ou foi superprotetora da forma mais desastrosa.

Seu filho passa a ser alvo de brincadeiras maliciosas dos colegas, se distancia das crianças e adolescentes da mesma idade não apenas pelo fato de ela o impedir de sair com os amigos ou se enturmar, mas porque ao longo dos anos torna-se muito diferente de seus pares, mais despreparado, inseguro, antissocial, mandão, agressivo etc.

Antes que isso ocorra, é sempre bom parar para refletir se o carinho e a proteção que dispensa aos filhos não estão além do que eles precisam para poderem crescer, experimentar o erro, o fracasso, as perdas e aprenderem a superá-las com nossa orientação, mas por si mesmos, para que se fortaleçam e se preparem para serem autônomos, independentes e fortes: aprender a viver é algo que exige alguns tombos.

Alguns sinais nos apontam que a criança está se sentindo sufocada com a proteção excessiva.

Quando pequenos, apresentam comportamentos de criança mais nova: falam como bebê, mandam e não pedem, choramingam, não são capazes de tomar minimamente conta de si mesmos, bem como de sua higiene pessoal, brinquedos, materiais escolares etc., e, por isso, em comparação aos colegas normalmente amadurecidos para a faixa etária tornam-se gritantemente diferentes.

Conforme o tempo passa, como seu amadurecimento é sempre refreado, essa diferença vai crescendo e junto a ela seus problemas de relacionamento social e de fragilidade vão se intensificando.

Adultos criados por mães superprotetoras, em geral, são péssimos pais, pois são infantilizados, narcisistas e egoístas.

Como crianças mimadas, são mais irmãos do que pais: concorrem com seus próprios filhos.

Algumas sugestões podem ajudar mães e filhos:

Se a criança não tiver oportunidade de fazer algo sozinha, não aprenderá devido à falta de motivação, de treino ou mesmo por perceber que seu crescimento não agrada à mãe que a prefere imatura e dependente.

Não é por que a criança depende da mãe, que a amará mais ou que os vínculos familiares são e serão mais fortes: elas serão dependentes.

As dificuldades de aprendizagem estão entre as consequências imediatas do excesso de zelo materno: demoram para se adaptar à escola e, em casos mais graves, não conseguem se socializar a contento.

Aprender exige esforço próprio, resistência à frustração e motivação, atitudes impossíveis para uma criança excessivamente protegida.

Se algo parecer muito difícil para uma criança e sua mãe a incentivar, ela começará a aprender como fazer para superar essa dificuldade.

Mas se a mãe resolver tudo em seu lugar, ela não aprenderá nada que seus amiguinhos já sabem ou saberão fazer em breve e, assim, a criança ficará “para trás”.

Mães superprotetoras também são pessoas que sofrem e que precisam de ajuda e não de recriminações.

Se não conseguem perceber o quanto prejudicam o desenvolvimento do filho e o sofrimento que lhes provocam, uma pessoa amiga as poderá fazer entender a necessidade de um tratamento terapêutico, que não é só indicado, mas indispensável para o bem-estar mental e emocional da criança e dela própria.

Maria Irene Maluf é Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial. Editora da revista Psicopedagogia da ABPp. Coordenadora do Nucleo Sul/Sudeste dos cursos de Especialização em Neuroaprendizagem e Transtornos do Aprender do Grupo SaberCultura/FACEPD. Site: www.irenemaluf.com.br.

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