Proteger seus filhos é uma atitude esperada de todas as
mães na nossa sociedade.
Esses cuidados maternos desde o nascimento, sempre amorosos,
persistentes, incondicionais, dão uma base de
segurança física e emocional à
criança nos seus primeiros anos de vida.
Entretanto, na medida em que crescem, todas precisam experimentar o
contato com as diferentes pessoas e nas mais diversas
situações.
Entre as razões para isso pode-se pensar no conhecimento de
seus limites e nos seus devidos alargamentos, no tornarem-se fortes, no
serem capazes de superarem frustrações, lutarem
por seus objetivos, suportarem adversidades, serem autônomas,
entre outras coisas.
Infelizmente, esse processo natural de crescimento exige certo
despreendimento materno, o qual nem sempre é
fácil para algumas mulheres.
Isso se dá pelo fato de que, frente a um mundo cheio de
violência e disputas acirradas, elas não conseguem
deixar de manter os cuidados excessivos, necessários aos
primeiros anos, mas que depois deles tornam-se excessivos e
debilitantes para a autoestima da criança e seu
amadurecimento.
Por estranho que pareça, na mesma época em que as
crianças assumem ares adolescentes tão cedo
buscam a liberdade e se colocam contra as normas mais
básicas.
Muitas são também superprotegidas, não
respondem por suas decisões mesmo quando agem de modo errado
e não toleram sofrer frustrações: seus
pais e especialmente suas mães tomam todas as
providências para que vivam longe de contrariedades,
problemas, perdas, responsabilidades.
Com a desculpa de que precisam cuidar para que seus filhos sejam
resguardados da violência e do sofrimento, os fazem viver em
uma redoma, longe da realidade e dos encargos que gradativamente todos
deviam assumir para aprender a se defender.
Entretanto, esquecem-se que toda proteção
não é capaz de livrar seus filhos de acidentes e
nem de tragédias de todo tipo, nem de sentimentos de
incompetência ou baixa autoestima.
Ao contrário do que algumas mães julgam,
cuidado demais não dá a
sensação de as crianças serem mais
amadas, mas sim de serem incompetentes e daí para a
frustração e para a busca de
satisfação em outras áreas menos
saudáveis é apenas um passo.
Excesso de proteção pode levar a uma falsa ideia
de que são pessoas especiais, imunes a qualquer perigo, o
que é uma bomba de efeito programado principalmente na
adolescência.
Jovens que exageram na bebida, nos esportes radicais, abandonam a
escola, tornam-se agressivos contra seus próprios pais,
infelizmente estão nas páginas dos
noticiários.
Todas as crianças correm alguns riscos durante seu
crescimento e superá-los as tornam competentes e fortes
perante os demais.
É difícil as mães se reconhecerem como
superprotetoras já que raramente percebem o exagero de seus
cuidados em relação ao filho.
Normalmente, os atribui a alguma causa externa, o que constitui na
verdade um pretexto para continuarem cuidando de seu filho como se este
fosse alguém muito indefeso ou imaturo para a idade.
Geralmente, a mãe acaba percebendo que é ou foi
superprotetora da forma mais desastrosa.
Seu filho passa a ser alvo de brincadeiras maliciosas dos colegas, se
distancia das crianças e adolescentes da mesma idade
não apenas pelo fato de ela o impedir de sair com os amigos
ou se enturmar, mas porque ao longo dos anos torna-se muito diferente
de seus pares, mais despreparado, inseguro,
antissocial, mandão, agressivo etc.
Antes que isso ocorra, é sempre bom parar para refletir se o
carinho e a proteção que dispensa aos filhos
não estão além do que eles precisam
para poderem crescer, experimentar o erro, o fracasso, as perdas e
aprenderem a superá-las com nossa
orientação, mas por si mesmos, para que se
fortaleçam e se preparem para serem autônomos,
independentes e fortes: aprender a viver é algo que exige
alguns tombos.
Alguns sinais nos apontam que a criança está se
sentindo sufocada com a proteção excessiva.
Quando pequenos, apresentam comportamentos de criança mais
nova: falam como bebê, mandam e não pedem,
choramingam, não são capazes de tomar minimamente
conta de si mesmos, bem como de sua higiene pessoal, brinquedos,
materiais escolares etc., e, por isso, em
comparação aos colegas normalmente amadurecidos
para a faixa etária tornam-se gritantemente diferentes.
Conforme o tempo passa, como seu amadurecimento é sempre
refreado, essa diferença vai crescendo e junto a ela seus
problemas de relacionamento social e de fragilidade vão se
intensificando.
Adultos criados por mães superprotetoras, em geral,
são péssimos pais, pois são
infantilizados, narcisistas e egoístas.
Como crianças mimadas, são mais irmãos
do que pais: concorrem com seus próprios filhos.
Algumas sugestões podem ajudar mães e filhos:
–
Se
a criança não tiver oportunidade de fazer algo
sozinha, não aprenderá devido
à falta de motivação, de
treino ou mesmo por perceber que seu crescimento não agrada
à mãe que a prefere imatura e dependente.
–
Não
é por que a criança depende da mãe,
que a amará mais ou que os vínculos familiares
são e serão mais fortes: elas
serão dependentes.
–
As
dificuldades de aprendizagem estão entre as
consequências imediatas do excesso de zelo materno: demoram
para se adaptar à escola e, em casos mais graves,
não conseguem se socializar a contento.
Aprender exige esforço próprio,
resistência à frustração e
motivação, atitudes impossíveis para
uma criança excessivamente protegida.
Se algo parecer muito difícil para uma criança e
sua mãe a incentivar, ela começará a
aprender como fazer para superar essa dificuldade.
Mas se a mãe resolver tudo em seu lugar, ela não
aprenderá nada que seus amiguinhos já sabem ou
saberão fazer em breve e, assim, a criança
ficará “para trás”.
Mães superprotetoras também são
pessoas que sofrem e que precisam de ajuda e não de
recriminações.
Se não conseguem perceber o quanto prejudicam o
desenvolvimento do filho e o sofrimento que lhes provocam, uma pessoa
amiga as poderá fazer entender a necessidade de um
tratamento terapêutico, que não é
só indicado, mas indispensável para o bem-estar
mental e emocional da criança e dela própria.
Maria
Irene Maluf é
Especialista em Psicopedagogia e Educação
Especial. Editora da revista Psicopedagogia da ABPp. Coordenadora do
Nucleo Sul/Sudeste dos cursos de Especialização
em Neuroaprendizagem e Transtornos do Aprender do Grupo
SaberCultura/FACEPD. Site: www.irenemaluf.com.br.