Vemos
com tristeza que um dos bons programas do governo ameaça
naufragar, a proposta generosa, útil e necessária
de dotar todos os municípios brasileiros com bibliotecas
públicas.
A ideia central era a distribuição de kits com
mobiliário e um acervo inicial aos municípios,
cabendo prover as instalações e pelo menos um
funcionário para seu funcionamento.
Das prefeituras que receberam os kits, apenas uma pequena parte
implantou de fato suas bibliotecas.
Os motivos alegados pelas que não o fizeram são
principalmente referentes a custos: faltariam imóveis, as
despesas com água e energia elétrica seriam muito
altas, o pagamento do funcionário pesaria demais,
além da inexistência de bibliotecários
formados no município.
A falta de profissionais pode ser contornada temporariamente com a
ajuda de servidores experientes, enquanto a própria demanda
por bibliotecários poderia gerar interesse de jovens
estudantes por esta profissão.
As questões de custo dizem muito respeito ao que tem sido
chamado nos últimos anos de “vontade
política”.
Todos nós que administramos um orçamento pequeno
ou grande, de uma família ou de um país, sabemos
que os recursos nunca são suficientes para todas as
necessidades e desejos, o gestor deve ter bom senso e sangue frio para
determinar prioridades e cortes.
Dentre as prioridades dos municípios, estão a
Educação, a Saúde, os Transportes.
Com algum discernimento, é possível incluir uma
biblioteca pública pequena e simples na rubrica da
Educação, talvez reduzindo algum
supérfluo em outra área, pois seria um enorme
começo.
Doações de livros são frequentes hoje,
não sendo difícil consegui-las de pessoas que,
apreciando seus livros e tendo pouco espaço em casa,
gostariam de disponibilizá-los, ao mesmo tempo em que os
preservam.
Para os que os amam, os livros são quase entes vivos. Exalam
quando novos o perfume da novidade, velhos algo que remete à
primeira vez que foram lidos, são confortadores, bonitos,
companheiros.
Vistos de outra forma, livros são como as
inscrições rúnicas, papiros,
pergaminhos e códices que os precederam, são
meros objetos funcionais. Blocos de papel impresso, gravados com tudo o
que vale a pena saber no mundo.
Como objetos funcionais, já estão praticamente
superados por “tablets”, audiobooks e outros,
tornando os computadores recursos valiosos para as bibliotecas hoje,
pois representam fontes de consulta, acesso aos grandes acervos de
consulta livre, estado da arte de grande parte das pesquisas mundiais.
Neste tempo, caberia a questão da relevância de
bibliotecas, mas bibliotecas não são
depósitos de livros, são centros de
conservação, aquisição e
propagação de conhecimento.
Bibliotecas são locais de pesquisa, ponto de encontro
daqueles que reconhecem o estudo como fundamental na vida de qualquer
ser humano, e o conhecimento como indispensável à
cidadania.
Independente da forma, da mídia e da época, o
essencial é o conteúdo, e o conteúdo
sempre será mais importante que seu continente.
Wanda
Camargo
é educadora e presidente da Comissão do Processo
Seletivo das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil). Contato:
assessoria@unibrasil.com.br.