Não dá para fingir ter forças para
agir em quaisquer circunstâncias, de boa
consciência, como se fôssemos imbatíveis.
Simplesmente não dá. O curso das coisas vai
mudando e a vida passa a nos mostrar que não somos
tão poderosos assim, para vivermos a despeito do que
causamos na história de alguém que passa por
nós.
Não dá para defender uma imagem de
invencível como se fôssemos senhores do
amanhã, como se nada pudesse fugir ao nosso alcance.
Um homem moderno, uma mulher destemida, um simples alguém
que acha que consegue ser plenamente feliz vivendo sozinho, sem ter
alguém para compartilhar bons e maus momentos.
A imagem do forte, do destemido, daquele que fala o que tem vontade
para quem quiser e a hora que tem vontade, a imagem daquele que parece
sempre ter uma saída estratégica e bem-humorada
para qualquer situação, enfim, essa imagem pode
atrair pessoas, mas ninguém conseguirá
mantê-las somente com esse recurso.
Chega um ponto que a imagem daquele alguém forte, a mesma
que aproximou pessoas que o admiram por não se lamentar e
chorar por coisa alguma, desfalece-se diante do espelho, que
não nega a fragilidade que qualquer de nós tem
quando não achamos ninguém para confiar.
A palavra amiga, o olhar de ternura, o abraço que substitui
qualquer capacidade argumentativa são componentes que
não podem se ausentar da vida de nenhum de nós.
A vida de alguém que se dedica para alcançar
objetivos profissionais cada vez maiores, por exemplo, pode se tornar
um grande embaraço quando, finalmente, todos os objetivos
já tiverem sido alcançados.
Ora, isso é fácil de constatar, pois quando as
metas profissionais estiverem cumpridas, para onde aquele grande
profissional voltará?
Se tiver um apartamento muito confortável em uma localidade
altamente disputada numa grande cidade, bom, esse parece um bom lugar
para se voltar depois de um dia vitorioso, que pode ser
consequência de intensa dedicação ao
trabalho.
Mas se em vez do “para onde” perguntarmos
“para quem”, talvez a resposta se torne mais
tardia, mais demorada para ser atendida.
Junto à conquista do destaque em algum setor, há
olhares de pessoas curiosas para saber até onde aquele ser
em evidência chegará, se ele conseguirá
manter-se por muito tempo em desejável destaque, se ele
é tudo isso mesmo que aparenta ser.
O “ninguém tem nada a ver com a minha
vida” será um argumento vazio de significado
prático quando o objeto de destaque estiver enfrentando
momentos de algum tipo de instabilidade.
A imagem do invencível, daquele que tem resposta para tudo,
que se mostra como um bom exemplo a ser seguido poderá ter,
naturalmente, seus dias contados.
Ora, se tudo é tão passageiro e
falível assim em nossas vidas, por que será que
empregamos tantos esforços para conseguirmos destaques que
pouco aproveitaremos em alguns momentos-chave?
Muitas são as vezes que a “ciranda de pedra de
amigos” mostra-se ineficaz para impedir que
lembranças amargas roubem o nosso sono quando estamos
sozinhos em casa.
Nem tudo na vida é conquistado com o dinheiro, com o
prestígio social, com a roda de “amigos”
nas mesas dos bares por aí.
Nem tudo na vida é satisfeito com uma bela imagem que
desejamos, consciente ou inconscientemente, passar para os outros.
Flashes de desejos não satisfeitos devido a conquistas
diversas atormentam o dia a dia de muitas pessoas, impedindo-as de
serem felizes em meio a outras pessoas.
Muitas dessas outras pessoas não foram vistas durante a
ânsia de se conquistar metas e objetivos, os quais hoje foram
entendidos como incapazes de promover um pouquinho que seja de paz e
tranquilidade.
Portanto, empenhe-se em zelar por uma imagem real do que você
é. Não pense em conquistar coisas antes de
conquistar pessoas que você poderá contar quando
todas as luzes estiverem apagadas em sua estrada.
Trilhe caminhos seguros, pois muitos não permitem o retorno,
o recomeço, a retomada.