O tempo passou, só o que não passaram foram as
lembranças de uma época que, infelizmente,
não volta mais.
A infância feliz em que as crianças ainda
brincavam seguras na rua, as vontades satisfeitas de um pai que tinha
seu olhar de repreensão lido e respeitado pelos seus filhos,
as mães com tempo para buscarem os filhos da escola e irem
às reuniões de Pais e Mestres, a professora que
começava suas aulas sem grandes dificuldades porque seus
alunos faziam silêncio quando a viam...
Enfim, o tempo passou, mas as lembranças ficaram e se negam
a irem embora.
Se tudo isso for apenas saudade de uma vida menos conflituosa,
não se pode saber assim tão facilmente, mas as
lembranças acontecem diariamente, fazendo com que
reinterpretamos os fatos do nosso presente.
Presente que não vem embalado numa caixa bonita e
enlaçada, mas que nos é dado por Deus para dele
fazermos uso adequado, de forma que aqueles que hoje são
parte dos nossos dias possam, no futuro, sentir saudades das
experiências vividas em nossa companhia.
Mas há perguntas que nos incomodam a ponto de não
mais podermos ignorá-las, temos que superar as
angústias que querem sufocar o nosso dia a dia e dar
respostas cabíveis que ajudarão a escrever a
história de vida de muitas pessoas que convivemos hoje.
Será que, ao crescerem, nossas crianças
também se lembrarão dos nossos dias com tanta
saudade como nós nos lembramos dos nossos?
Será que estamos conseguindo transmitir com fidelidade os
bons ensinamentos que nossos pais e professores nos deram?
Será que a família e a escola estão
presenteando nossos pequenos com dias de menos
reclamação, de menos mau humor, de menos
intolerância?
Será que daqui a alguns anos, nossos alunos vão
sorrir ao lembrarem-se da época da escola e do jantar
quentinho depois de um dia de brincadeiras e aprendizados?
Bom, são perguntas difíceis de responder, mas
ainda mais difícil é ver o rumo que a
mídia televisiva e vários
“espectadores” têm dado à
infância e acharmos que não temos
forças para lutar contra essa onda que quer levar embora a
infância sadia de nossos filhos e alunos.
A escola e a família são meios que podem ser
usados para o resgate do brincar de antigamente, aquele que fazia,
realmente, uma criança experimentar a felicidade sem grandes
custos financeiros.
Não eram necessários jantares luxuosos... O arroz
e o feijão feitos na hora foram suficientes para nos causar
lembranças que são capazes de reproduzir o bom
cheiro de uma noite qualquer junto a nossa família.
Éramos capazes de até comê-los
requentados no dia seguinte, pois tínhamos plena
confiança nas mãos e no
coração de quem os cozinhava.
Não foram necessários brinquedos
caríssimos para, hoje, nos lembrar do dia em que marcamos um
gol de placa com a bola de pano que improvisamos.
Não foram necessárias grandes coisas,
tão somente grandes pessoas que deixaram sua marca na nossa
história, tal qual precisamos, positivamente, fazer nos dias
de hoje.