“Estórias
diferentes” é um blog que procura ajudar
crianças, pais e profissionais a desmistiticar e a entender
melhor o significado da bipolaridade. Através das
“estórias” contadas pela autora,
também bipolar, um caminho de reconhecimento e
compreensão é traçado no sentido da
busca por sua inclusão social e afetiva.
O site da Inclusive conversou com a autora do blog,
Cristina Oliveira. Acompanhe abaixo e conheça melhor esse
mundo tão cheio de surpresas.
Visite o blog “Estórias diferentes” no
www.estoriasdiferentes.com.br
1.
Como surgiu a ideia de fazer um blog com as
“estórias diferentes”?
É sonho antigo – escrever para os pequenos.
Suavizar o caminho. Um blog me pareceu uma ferramenta mais atual e
interativa.
2.
Como foram criadas as “estórias” do blog?
Vieram fácil – sou uma contadora de
“estórias”. Mãe de seis e
avó de muitos. Reuni lembranças da minha
infância – inquietudes e dificuldades de uma
bipolar sem diagnóstico ou tratamento. Uma
criança que sempre foi diferente, em busca de algo que nunca
soube o que era até ser diagnosticada com mais de 40 anos.
Um caminho longo de desinformação e
angústia que não recomendo a ninguém.
O linguajar das crianças de hoje veio com a
convivência com as netas. Elas estão curtindo a
vovó “blogueira”.
3.
Quais os desafios que cercam as crianças com bipolaridade ou
com diagnósticos psiquiátricos? Há
muito preconceito?
Ser destaque – “diferente” – em
uma sala de aula é um incômodo danado. A
agitação de uma criança hiperativa, ou
em estado de euforia, quebra o equilíbrio do conjunto da
sala. O não conseguir se concentrar nas tarefas,
além de dificultar o próprio aprendizado,
atrapalha os demais. O diagnóstico do
déficit de atenção é
confundido com a euforia bipolar – que são
diferentes. Uma criança mal educada, com temperamento forte
e sem limites, também pode ser confundida como sendo
portadora de algum distúrbio psiquiátrico.
São situações distintas, aparentemente
parecidas. Crianças com depressão, sem
reação, isoladas, também incomodam, de
uma forma diferente. A falta de informação dos
adultos atrapalha a convivência; crianças e jovens
com estes distúrbios, sem uma
orientação clara de como lidar com eles,
naturalmente ficam mal vistos por seus colegas e pelos
próprios professores que perdem facilmente a
paciência. No calor da irritação surgem
os comentários mordazes até mesmo para aqueles
que já se tratam. As mágoas ficam
profundas…..ser tido como
louco é algo comum e
muito deprimente…..
4.
Como ajudar as famílias e escolas a compreender melhor essas
crianças para que elas tenham boa convivência
social e oportunidades de desenvolvimento?
Com informação. Não sou profissional
da área da saúde. Mas sou portadora. Participo
há quase 10 anos de uma associação que
trabalha com transtornos do humor. Foi lá que troquei
ideias, assisti palestras, fiz cursos, me informei. Tenho a
convicção que somente através da
informação (sintomas, tratamentos) que os pais e
professores poderão interagir melhor com a
criança com Transtorno do Humor ( bipolaridade e
depressão). Informação
também permite lidar melhor com estas crianças e
o grupo a que elas pertencem. E a informação para
portadores – crianças ou adolescentes –
também suaviza o caminho. É necessário
entender as diferenças, por que e como melhorar a vida.
5.
O que um professor ou familiares devem fazer ao suspeitar de que
estão diante de uma criança com bipolaridade?
Ficar atentos; buscar a informação; professores
recomendarem aos pais que busquem um diagnóstico. O
diagnóstico se dá através da consulta
com os profissionais – psicólogo ou psiquiatra
– preferencialmente com aqueles que ratam destes
distúrbios e que lidem com criança e /ou
adolescente.
6.
Quais os suportes que essas crianças devem contar para
reverter situações de exclusão?
O primeiro é o trabalho de informação
ao próprio interessado (criança ou adolescente
com alguma dificuldade). É assustador sentir de forma
diferente…. não conseguir se concentrar, mesmo se
esforçando; se irritar ou magoar com uma intensidade
descomunal; não ter vontade de nada, nem de se mexer, mesmo
querendo agradar aos pais, professores ou amigos. Se uma
criança chega com o pé engessado, muitos ajudam,
está ali à mostra a dificuldade. Se o
“gesso” é dentro do cérebro,
ninguém vê neurônio em
dificuldade… aí a coisa complica. Ir a
psicólogo ou psiquiatra = ser louco.
Trabalhar na escola , nos consultórios esta “
desmistificação” da doença,
é fundamental. Estórias Diferentes pretende ser
uma ferramenta de trabalho no sentido de desmistificar o horror do
diagnóstico, da ida ao médico… mas
principalmente pretende ser um instrumento para que o portador
não se sinta tão isolado, tão sozinho;
há outros “diferentes iguais”!
É possível ler sobre isso, escrever ou se
manifestar a respeito ! Blog permite esta interatividade.
Fonte:
Inclusive
(http://www.inclusive.org.br/?p=22551).