“Aprendi com as Primaveras a
me deixar cortar para poder
voltar sempre inteira”, palavras de Cecília
Meireles que hoje parecem esquecidas, desconsideradas.
Entre uma estação e outra, muita coisa acontece,
muita gente deixa de existir, muitas pessoas reaprendem a viver.
Há poesia, há beleza, há sentimento em
quaisquer momentos, e cada um deles pode muito nos ensinar.
Mesmo com a aparente desordem das estações do
ano, a primavera, hora menos hora, vem dar a nós sua mais
bela demonstração de sabedoria.
A sabedoria, contudo, pode não ser evidente, principalmente
quando nossos olhos estão voltados apenas para o nosso
próprio bem-estar ao desconsiderarmos a
importância do outro para sermos, de fato, completos.
É claro que, às vezes, fatos só nos
são claros dentro de muitos anos, após termos
vivido o suficiente para atribuirmos valores justos ao que realmente
é importante.
Cheios de razão, queremos, muitas vezes, falar dela para
aqueles a quem pensamos serem os responsáveis por alguma
insatisfação ou desventura que, por um acaso,
estivermos vivendo.
Às vezes, a vida nos tira alguém sem nos permitir
um último abraço, um pedido de desculpas, um
sincero “eu te amo”.
São fatores importantes da vida que podem acontecer com todo
mundo, mas que nem todo mundo pensa em tais aspectos.
Mais uma vez, a primavera vem nos ensinar, como nos versos acima, a
importância de nos permitir cortar para, depois, termos
chances de voltarmos mais inteiros, mais completos.
Assim como as flores são cortadas na primavera, é
importante cortar nossa vez de falar, de agir impulsivamente, de
alimentar possibilidades insanas.
Deixar passar aquele momento de ira para depois pensar melhor no que
fazer é uma boa dica de sabedoria que a primavera nos
dá, pois ela é a passagem entre o frio do inverno
e o calor do verão, ensinando que nem tudo precisa ser
tratado a “ferro e fogo”.
O perfume das flores não as protege da
ação do homem que as corta para seu
próprio deleite. O perfume faz com que as desejemos por
perto e daí uma das necessidades do corte, tal como uma dor
necessária que nos faz crescer e amadurecer.
A cada primavera que alguém completa,
felicitações lhe são desejadas. A cada
novo ano, uma nova oportunidade que é construída
no passar dos dias e dos meses.
Mesmo se não estivermos “na primavera da
vida”, ou seja, em anos de juventude e vitalidade, estas
precisam deixar em nós impressões de sabedoria e
conhecimentos, conquistados com o observar da beleza de cada
estação de nossas vidas.
Temos ainda o outono e o inverno para serem cumpridos, mas nossa
primavera, se assim Deus nos permitir, chegará e, com ela,
novos aprendizados que já temos a oportunidade de construir.
Que o nosso frio não seja motivo para não nos
vermos mais, mas que a baixa temperatura possa ser compensada com
momentos de ternura entre cada família, entre o filho e o
pai, entre a nora e a sogra, entre o irmão e a
irmã.