Sei que é ruim se sentir sozinho, mas há
vários momentos que isso, necessariamente, acontece.
Ali, num canto qualquer e aparentemente abandonados, a vida nos
dá a chance de organizar os sentimentos, os pensamentos,
enfim, é hora de colocar a “casa em
ordem”.
Às vezes, não queremos entender isso, queremos e
até mesmo precisamos de alguma palavra amiga, mas
há situações que elas, simplesmente,
não acontecem.
As pessoas, tão falhas como qualquer de nós,
não são capazes, por mais que tentem, de aliviar
a dor que sentimos quando alguém que amamos precisa partir.
Palavras, por si só, são insuficientes nesses
momentos, pois o nosso interior grita pelo retorno desse
alguém ou de algo que se foi, ou seja, daquilo que tanta
falta vai nos fazer.
O que são palavras nesses momentos se dentro de
nós nada parece no lugar?
Um abraço, um olhar ou a simples presença de
alguém podem amenizar um pouco o que estamos sentindo, mas
nada vai substituir aquele momento que teremos de ficar sozinhos,
acompanhados apenas de nossos próprios medos e incertezas.
Tudo parece confuso e, infelizmente, parece que a dor não
terá fim.
Bom, não tendo fim, somos obrigados a aprender a conviver
com ela, seguindo a vida como fazíamos antes.
Em meio a suspiram que revelam a dor que tentamos sufocar dentro de
nós, tentamos retomar nossas atividades buscando nelas uma
alternativa de fuga.
Contudo, após o fim do expediente, quando precisamos voltar
à nossa casa, tudo volta à nossa mente,
confrontando-nos com a realidade fria e cruel dos fatos.
O momento de ficar sozinho vai chegar mais uma vez e o que se tem a
fazer é encará-lo, é tentar chorar
mais um pouco para, quem sabe, dar um passo a mais para vencer as
angústias que tomam conta do nosso interior.
Algumas vezes, negamos a nós o direito de administrar nossa
vida, retomando-a em seus diversos setores, como se, ao
retomá-la, estivéssemos fazendo pouco de tudo o
que aconteceu.
Mas não, infelizmente pouco podemos fazer diante de fatos
consumados.
Esconder as nossas dores não vai fazer o tempo voltar e nos
dar mais uma chance para, pelo menos, abraçarmos mais um
pouco a pessoa que se foi...
Fechar o semblante, tampouco, mudará qualquer coisa que
tenha acontecido.
Gritar, correr, desesperar-se... Tudo parece inútil, nada
faz diminuir o que estamos sentindo.
É, então, momento de ficarmos sozinhos, as
pessoas agora, talvez, não possam nos ajudar na
proporção que estamos precisando.
Mas pessoas são ajudadas por outras pessoas, se assim houver
permissão entre as partes.
Falar do que aconteceu ajuda muito, escrever um diário
poderá nos ajudar a organizar nossos pensamentos.
Entender que não somos os únicos a sentir essa
dor e que a ausência de algumas pessoas que deveriam estar
conosco para nos ajudar em momentos difíceis pode nos
ensinar alguma coisa.
Há momentos que precisamos estar em grandes eventos, em
festas, em reuniões, mas há outros momentos que a
vida nos deixa só para que o silêncio da aparente
solidão nos ajude a organizar “nossa
casa”.
A vida é mesmo assim, infelizmente todos nós
teremos que viver momentos de espinhos nesse mar de rosas que dia a dia
tentamos conquistar para nós e nossos filhos.
Quando tivermos que fixar sozinhos, que tenhamos forças para
conseguirmos nos organizar, secar as lágrimas e nos dar o
direito de continuar com ou sem a presença da dor.