Nos dias de hoje, discussões e reflexões sobre as
relações entre pais e filhos ocupam
significativos espaços na mídia.
A autoridade parental ganha foco nestes debates, uma vez que, embora
haja consenso quanto a sua indispensável
existência, vivenciamos um momento no qual muitas
famílias protagonizam a verdadeira “soberania do
infante”.
A maioria dos pais, perdidos entre as especificidades do
desenvolvimento da criança e do adolescente e a necessidade
de ensinar os comportamentos sociais esperados para a
adaptação à vida em sociedade, procura
formas interessantes de cumprir seu papel educador.
Todavia, a busca deste novo modo de ser pai e educador causa-lhes muita
insegurança, porque a vida não admite ensaios e
lhes é cobrada uma atuação educadora
diante dos filhos.
Durante muito tempo e até mais ou menos três
décadas atrás, o papel tradicional dos pais lhes
permitia uma autoridade inquestionável.
Os pais, autoritários, tendiam a controlar a vida dos filhos
por meio de regras fixas e pouco diálogo. Determinavam o que
devia ou não ser feito e usavam de
coerção para a instituição
da obediência.
Todavia, tais procedimentos de ação parental
passam a ser rejeitados quando se pretende abandonar um modelo familiar
baseado no comando para estabelecer um padrão relacional
baseado na negociação.
Há, neste movimento, a busca de uma forma de
relação entre pais e filhos que precisa ser
reinventada. Isso porque muitos pais não objetivam repetir o
mesmo que experienciaram enquanto filhos.
O problema é que na ausência de um
parâmetro relacional vivido, posto que nos dias de hoje
não se sabe utilizar as referências transmitidas
em decorrência da espantosa
transformação dos hábitos e posturas
que se deu nos últimos cinquenta anos, corre-se o risco de
passar diretamente “de oito a oitenta”. Ou, dizendo
de outra maneira, nega-se a autoridade absoluta para adotar uma
desastrosa permissividade.
Pensando estar agindo de maneira amistosa e democrática,
pais permissivos são propensos a exigir pouco, praticar um
controle muito fraco e satisfazer todos os desejos dos filhos.
São presentes como grandes
“coleguinhas”, mas são ausentes como
pais. E ao observarmos os estilos de práticas parentais
acima descritos, concluímos que a autoridade
despótica e as atitudes punitivas drásticas dos
pais autoritários são tão causadoras
de problemas quanto os mimos exagerados dos pais permissivos.
É esperado que a legítima autoridade dos pais
exista no sentido de dar limites para estabelecer a
organização interna da criança e do
jovem e fazer a mediação dos conflitos, pois a
construção de relações
familiares fundamentadas na participação e na
negociação reivindica dos pais o estabelecimento
de uma exigência compreensiva em
relação aos seus filhos.
Há que se cobrar responsabilidade desde quando eles
são pequenos, para que tenham a clareza daquilo que podem ou
não decidir e fazer.
Nesta direção, o autoritarismo e a permissividade
cedem lugar à flexibilidade. Diante de regras que devem ser
obedecidas, há espaço para
negociações, no contexto dos quais os pais
têm o direito e o dever de manter as regras,
alterá-las e, quando necessário,
também abandoná-las.
Contudo, é preciso esclarecer que toda
negociação deve acontecer por meio de muito
diálogo. Caso contrário, pode-se propiciar o
aparecimento de comportamentos arbitrários, o que confunde e
atrapalha a educação dos mais jovens.
Encontrar modelos eficientes para promover uma forma “quase
ideal” de ser pai e mãe é tarefa
essencial para o fortalecimento de uma juventude não
só autônoma, mas também mais
responsável.
Francisca
Romana Giacometti Paris
é Pedagoga, Mestre em Educação,
diretora Pedagógica do Agora Sistema de Ensino
(www.souagora.com.br) e do Ético Sistema de Ensino
(www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva, e ex-secretária
de Educação de Ribeirão Preto (SP).