Não são raros os
momentos que passamos por tanta
dor que nosso peito parece que vai explodir.
Não são raras as vezes que parece que estamos
caindo num poço sem fundo ou caminhado numa imensa
escuridão que cega nossos olhos.
Não é raro vermos pessoas angustiadas, sem
saberem o que fazer com todo o sentimento que lhes restou.
Não é fácil vencermos os nossos medos
e os incalculáveis temores que nos sobrevêm quando
alguém nos deixa só, mesmo que seja
involuntariamente.
Quem se dispôs a amar sabe que esses momentos podem
acontecer. Quem deseja dispor espaço em seu peito para o
amor tem que saber que nem tudo são flores num mundo
cor-de-rosa.
Na vida de todos que amam, há sim momentos de tão
grande dor que somente as lágrimas são capazes de
traduzir.
Às vezes, para se protegerem do mundo que as cercam, pessoas
buscam no isolamento a chave para abrir portas que mostram novos
horizontes. Contudo, essa nem sempre é a melhor alternativa.
Parece contraditório, mas a solidão sempre vem
acompanhada de infortúnios, queixas e pesares que,
é claro, não queremos viver.
Mas o que fazer com todo aquele sentimento que restou de algumas
experiências vividas em companhias que foram tão
boas para nós?
Como desatar o nó de uma situação que
parece se embaraçar ainda mais a cada tentativa de
resolução?
Como vencer as barreiras que uma circunstância construiu
entre dois corações que durante algum tempo se
entenderam tão bem?
Talvez, um dos caminhos seja o de desconstruir, ou seja, desmontar ou
desmanchar os entraves que atrapalham nossos passos em
direção a dias melhores.
Isso pode ser compreendido facilmente, pois não
dá para reconstruir uma casa sobre entulhos que fazem
referência a momentos que precisam ser superados.
Exemplos de situações assim são o que
acontece entre pais e filhos, entre professores e alunos, entre marido
e mulher, enfim, entre pessoas que querem promover a paz na escola, na
sociedade e na família.
No processo de construção de um relacionamento,
estamos “pisando em ovos”, pois tudo o que sabemos
sobre o outro é ainda muito vago. Isso faz nossa
matéria-prima imprecisa, pois não sabemos, por
exemplo, qual sentimento dispor ou quanto vamos nos permitir envolver.
Reconstruir, por sua vez, exige, ao mesmo tempo, delicadeza e
força, ou seja, não uma delicadeza que foge e se
esconde, mas uma delicadeza que não fere, não
machuca e não causa ainda mais máculas a um
relacionamento já ferido.
Reconstruir exige mais detalhe, mais calma, mais
persistência, pois, nesse processo, já conhecemos
o outro, já sabemos que ele é falho, que pode se
enganar, que pode errar mais uma vez.
Entretanto, quem ama de verdade consegue vencer as barreiras de
possibilidades pessimistas e dá mais uma chance para tornar
a edificar um relacionamento que, agora, conta com bases mais
sólidas.
Durante a infância de nossos filhos, por exemplo, vamos
construindo nossa “casa”, imaginando-a linda, bela,
sem defeitos e falhas. Com o passar do tempo, talvez passamos a
identificar rachaduras que podem comprometê-la por completo.
Se esse relacionamento chegar a um nível em que a
convivência fique ameaçada, é hora,
então, de limpar o terreno dos entulhos e
recomeçar a partir de uma base construída no
conhecimento dos limites e potenciais de ambos.
A mesma situação pode ser entendida nos
relacionamentos de professores e alunos, ou seja, é hora de
“sacudir a poeira”, levantar o rosto e permitir-se,
mais uma vez, ser operário nessa grande
construção, que se dá na
convivência do dia a dia.
O rompimento de um relacionamento pode ser perfeitamente
reversível. Contudo, quando o fim é
inevitável, ficamos sem saber o que fazer com todo o
sentimento que restou e que pulsa junto a cada batida de nossos
corações, ou seja, a pessoa pode até
ir embora, mas deixa em nós impressões que
precisam ser tratadas.
A volta de um filho, o desejo de um aluno tentar se recuperar mais uma
vez, a pessoa amada que quer novamente mais uma chance, bom,
não importa muito o contexto, pois agora pode ser o momento
de reconstruir.