Esse é o título do mais recente livro, que
publiquei pela Editora Integrare, de São Paulo, e que busca
refletir sobre os aspectos mais graves que, desde sempre se
vêm abatendo sobre o setor.
A educação do povo é
fenômeno recente no Brasil, abordado pelas
constituições democráticas do
país, isto é, a de 1946 e de 1988 (sem falar no
breve arejamento trazido pela de 1934, logo substituída pelo
monstrengo da “polaca” de 1937), visto que, nos
tempos coloniais, imperiais e republicanos (neste caso,
até
o fim da 2ª Guerra Mundial) voltou-se a
educação brasileira apenas para o atendimento das
elites econômico-sociais do país: o povo mesmo
permaneceu à margem do processo.
Foi preciso haver urbanização,
industrialização e inserção
do Brasil no concerto internacional, para que a escolaridade do povo se
impusesse como preocupação inadiável.
Alguém poderá indagar: e os jesuítas
não educaram índios e colonos nos
séculos 16 e 17? De fato, mas não se o fez como
direito dos educandos, e sim, como política de
preservação do catolicismo nos
trópicos, tanto que a aprendizagem inaciana de
então foi sinônima de catequese.
No livro, que dá título a estes
comentários, os caminhos tratam da natureza da
educação moderna, seu potencial em
relação ao preparo das novas
gerações para viverem na era do conhecimento, e
com isso, assegurar a inclusão das massas na
práticaativa da cidadania.
Quanto aos descaminhos, procura-se demonstrar quais as dificuldades
todas que, ao longo do tempo, se vêm antepondo ao sucesso do
ato de educar o povo: obsolescência dos modelos
pedagógicos, insuficiência da
formação dos docentes, ausência de
modernidade e pertinência nos processos didáticos,
limitação derecursos financeiros, planos
educacionais que são mais declarações
de intenções, do que outra cousa qualquer. Os
apagões da educação se localizam, de
preferência, nesses e noutros fatores, que são
amplamente analisados na referida obra.
Ainda recentemente, a mídia publicou e comentou os
resultados de duas avaliações sucessivas: a Prova
Brasil, que verificou o grau de aproveitamento das crianças
matriculadas no terço inicial do curso fundamental, e o
ENEM, que mediu o desempenho de jovens matriculados nos cursos
médios. Em ambos os casos, o resultado mostrou-se bastante
precário.
Na Prova Brasil constatou-se que a metade dos alunos de oito anos
não aprende o mínimo necessário para
justificar a sua presença na escola. E no caso do ENEM, a
maioria dos concluintes do ensino médio tem nota abaixo do
índice desejável. Nas
avaliações internacionais da UNESCO e da OCDE, de
cujas provas o Brasilparticipa o fiasco não é
menor.
E por que isso acontece? Porque a escola brasileira não
alcançou ainda qualidade suficiente para oferecer a seus
alunos uma educação dotada de
pertinência. No caso, pertinência, significa um
ensino de tal forma qualificado, que satisfaça os anseios
dos estudantes, em particular, e os da nação como
um todo, por um preparo capaz de a todos incluir nos padrões
da modernidade, a saber, da era do conhecimento.
Para fazer uma piada, que soa como sendo de mau gosto, costumo dizer
que a educação brasileira obedece, hoje, as duas
leis, concomitantemente: a LDB, que traduz o que de melhor se deva
fazer nos diversos graus de ensino, e não tem sido aplicada
no seu potencial mais avançado; e a lei dos comboios,
segundo a qual a velocidade de uma frota naval é determinada
pela velocidade da unidade mais lenta. Infelizmente tem esta
última presidido o regime de funcionamento de nossas redes
escolares.
A grande reforma a fazer-se na educação nacional
está em engavetar definitivamente a segunda dessas leis e
assegurar ampla utilização dos aspectos mais
progressistas (claro que pedagogicamente falando) da primeira.
Só assim poderá o ensino formal alavancar o
preparo dos jovens e, com isso, estabelecer o maior dos
pré-requisitos ligados ao desenvolvimento brasileiro, a
saber, uma educação
pertinente.
Paulo
Nathanael Pereira de Souza
é Doutor em Educação e Ex-Presidente
do Conselho Federal de Educação.
Fonte:
Site:
www.viveiros.com.br
Editoria:
www.biografiaempresarial.com.br
Twitter:
www.twitter.com/RVComunicacao