A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

20/2/2004 - Pais e Filhos - 20/02/2004
Encurtando as distâncias que nos separam

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Elis-Regina-e-Legiao-Urbana
Elis Regina é paixão legada por meus pais. Meus gostos musicais herdaram intensa relação com a voz e o repertório da gauchinha radicada em Sampa. Legião Urbana é parte da minha adolescência, da minha rebeldia e da minha individualidade.

"Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo"
(Pais e Filhos, Legião Urbana)

"Minha dor é perceber que apesar de termos
feito tudo que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos
e as aparências não enganam não"
(Como Nossos Pais, Belchior)

O tempo que separa a letra das duas músicas apresentadas no início desse editorial explica um pouco a diferença (ou proximidade?) das duas canções, sucessos grandiosos na interpretação do grupo de rock nacional Legião Urbana (do cultuado e saudoso Renato Russo) e daquela que é considerada a maior entre todas as cantoras brasileiras, Elis Regina (quanta falta você faz!).

Se olharmos com atenção as colocações feitas nas letras, veremos que apesar da apregoada "tirania" de nossos adolescentes (conforme artigo publicado na revista Veja, edição 1841, de 18 de fevereiro de 2004), em que se explicita essa dificuldade de comunicação entre os jovens e seus pais ("Mas você não entende seus pais"), a admiração e a proximidade entre pais e filhos ainda é muito grande ("Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais").

Se os adolescentes de hoje agem de forma totalitária isso se deve, em grande parte, a formação que lhes é dada por seus pais. Mesmo a escola tem parcela de responsabilidade no surgimento desses novos "monarcas absolutistas". E não esqueçamos de destacar que a televisão e os meios de comunicação de massa também tem contribuído para o estabelecimento dessas novas "autoridades".

Livros-sobre-orientacao-de-criancas
Se você tem dúvidas, leia sobre o assunto, há vários livros sendo publicados por especialistas. Destaque para os trabalhos de Tânia Zagury, Içami Tiba e Steve Biddulph.

O estabelecimento de limites, salutar para o pleno funcionamento de uma sociedade politicamente organizada, também deve ocorrer no âmbito familiar e escolar. A definição de restrições e deveres é fundamental para que a criança e o adolescente saibam exatamente o que lhes espera na vida adulta. Se pais e educadores não fizerem suas "lições de casa" no que se refere ao estabelecimento dessas fronteiras, o resultado pode ser desastroso para seus filhos ou alunos.

A lista de direitos dos pais mencionada na reportagem da revista Veja, elaborada com o apoio da educadora Tânia Zagury deve servir como referência para pais e escolas. Até mesmo por quê, se os pais não puderem entrar nos quartos de seus filhos, posteriormente isso poderá acontecer por mandato judicial, com a polícia invadindo o quarto para averiguar denúncias de posse ou tráfico de drogas (é apenas uma hipótese, mas...).

Soube de uma palestra de um promotor público, dada em uma escola da cidade onde moro, em que o palestrante foi muito claro quanto às responsabilidades dos pais ao terminar uma de suas ponderações afirmando que se os pais (e a escola) se eximissem de suas responsabilidades de orientação quanto a direitos e deveres de seus filhos, isso poderia se tornar atribuição da lei. Dizia esse sábio promotor que os "puxões de orelha" dos pais eram preferíveis a "noites passadas em celas" ou "cacetadas" por desacato a autoridades...

Vale destacar também que, apesar de toda a reação desencadeada pelas alterações hormonais pelas quais passa o corpo de um adolescente, o que ocasiona mudanças de humor e uma certa rejeição aos pais, teimo em acreditar que essa falta de empatia com os pais seja resultante apenas de fatores fisiológicos.

Acho que os pais também são responsáveis por esse distanciamento. Como professor de adolescentes (trabalho com alunos das três séries do Ensino Médio), percebo que os pais passam a acreditar que seus filhos, com idades entre 13 e 17 anos, são praticamente independentes e, de certa forma, acabam lhes dando as costas...

Pai-e-filha-em-biblioteca-com-livro-aberto
Participe da vida de seus filhos desde cedo. Seja companheiro durante a adolescência. Seus filhos lembrarão disso para sempre e nunca se cansarão de agradecer.

Quando os pais se preocupam e continuam acompanhando de perto o desenvolvimento e a maturação de seus filhos, particularmente durante a adolescência, os resultados são diferentes. A rebeldia não deixa de existir. Os surtos de mal-humor continuam a acontecer. A freqüência, entretanto é menor. A segurança e a confiança desses jovens, por outro lado, é muito maior.

Adolescentes que tem seus pais como companheiros nessa viagem de transição da infância para a idade adulta (quando se tornam jovens se preparando para o trabalho ou mesmo ingressando no mercado e atuando como profissionais) são mais responsáveis, dedicados em suas atividades, respeitosos no convívio com as outras pessoas e capazes de obter grandes vitórias em seu futuro.

Mais importante ainda, não perdem sua irreverência, sua disposição, seu amor pela vida. Continuam a achar graça em coisas que os adultos nem mesmo percebem. Dão suas risadas as nossas custas. Ironizam nossa "seriedade". Curtem cinema, adoram esportes, namoram,...

O acompanhamento dos pais não significa marcação cerrada. O ideal é sempre saber por onde andam nossos garotos e garotas. Certificar-se a respeito das companhias. Dividir segredos com nossos filhos. Guardar tempo para sairmos juntos. Compartilhar risadas. Prestigiar eventos esportivos, culturais ou artísticos nos quais eles estejam envolvidos. Dar o ombro amigo sempre que necessário (e recorrer a eles sempre que o coração pedir). Aplaudir quando vitórias forem obtidas. Confortar quando as derrotas acontecerem. Dar os devidos "puxões de orelha" quando preciso...

Educar em síntese é um pouco de tudo isso. Quando a educação de nossos filhos e alunos é movida por um forte sentimento de querer bem, os resultados têm que ser somente positivos. Ame profundamente seus filhos ou seus alunos. Queira estar perto deles. Deixe que eles saibam o quanto eles são importantes para você. Só assim conseguiremos derrubar a tirania e estabelecer um novo tempo de governo, baseado na amizade, na confiança e no amor...

Obs. Agradeço a meus pais todos os dias por tudo que fizeram por mim. Se hoje sou um adulto feliz e realizado, tenho que expressar minha eterna gratidão e amor. Espero que meus filhos alimentem igual amor e amizade por mim e por minha esposa.

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1 COMENTÁRIOS

1 rivania - CaruaruPE
Achei o artigo de ótimo proveito, visto que sou educadora e mãe. Obrigada.
25/08/2008 18:32:12


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