Resumo: Compreender
o processo de aquisição da Língua
Portuguesa escrita por indivíduos surdos é de
fundamental importância a todos os educadores, tanto os de
línguas como os de outras áreas do conhecimento,
a fim de que possam refletir sobre a maneira mais adequada de mediar
aprendizado que estimulem as habilidades e competências que
cada educando traz consigo, respeitando e valorizando toda bagagem
interna e externa, de forma que o educando codifique e decodifique todo
contexto sociocultural, político e econômico em
que estejam inseridos. Salientamos que a escola e os educadores
são os responsáveis pela inclusão dos
surdos no ambiente escolar e social e pela garantia de
serviços de apoio especializados, currículos,
técnicas e recursos específicos para atender suas
necessidades educativas especiais, conforme regulamenta a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB,
1996). No entanto, muitos professores desconhecem a história
da educação e a cultura surda, a Libras
(Língua de Sinais Brasileira), e a forma como os surdos
aprendem a escrita da língua oral e também o fato
de que esses conhecimentos poderiam facilitar a
organização de suas estratégias de
ensino.
Palavras-Chave:
Alfabetização,
leitura, escrita e surdez.
Introdução
Em séculos passados, não havia escolas para os
surdos, pois eles eram considerados incapazes e, portanto, eram
excluídos da sociedade. Somente a partir do
século XVIII surgiram os primeiros educadores nessa
área, que divergiam, no entanto, quanto ao método
de ensino mais apropriado. No Brasil, a educação
de surdos só foi iniciada em 1855, com a chegada do
francês Ernest Huet, no Rio de Janeiro, o qual organizou a
escola para educandos surdos, o Imperial Instituto de Surdos Mudos.
É essencial ressaltar, segundo Góes (1996) e
Silva (2005), que o trabalho educacional precisa ser orientado para os
pontos fortes da criança, para seus talentos, e
não para o que lhe falta, a fim de que sejam respeitadas as
diferenças desses indivíduos. Assim, o aluno deve
ser incentivado a desenvolver a língua de sinais,
não só porque ele tem maior
predisposição para o processamento visual, mas,
principalmente, porque é nesse sistema
linguístico, característico de sua comunidade,
que as interações e a
comunicação podem acontecer com maior
êxito.
As crianças surdas, portanto, devem ser expostas, desde o
mais cedo possível, à língua de
sinais, que constitui a sua língua própria, pois
é esse sistema que lhes assegura uma
comunicação completa e integral. Além
disso, essa língua tem papel importante no desenvolvimento
cognitivo e social da criança, já que permite a
aquisição de conhecimentos sobre o mundo
circundante e auxilia no desenvolvimento de sua
identificação com o mundo surdo. De acordo com
Quadros (1997a), a língua de sinais também
fornece todo o aparato linguístico necessário
para a estruturação do pensamento e a
aquisição da segunda língua.
A escola é a responsável pela
aquisição e o desenvolvimento da
língua própria dos surdos, pois, a maioria das
crianças chega ao ambiente escolar sem uma língua
constituída, devido ao fato de, no convívio
diário, não dispor da língua
de sinais para desenvolvê-la e de uma modalidade oral ser-lhe
inacessível. A instituição escolar,
portanto, segundo Quadros (1997a) e Karnopp (2004), têm a
função de criar um ambiente
linguístico apropriado, considerando o desenvolvimento
cognitivo e as condições físicas das
crianças surdas; de assegurar o desenvolvimento
socioemocional dos indivíduos surdos e de seus pais,
mantendo sempre o contato entre eles; de garantir a possibilidade de a
criança construir sua teoria de mundo através de
suas experiências diárias e do diálogo
com pessoas que a rodeiam; e de oportunizar acesso à
informação curricular e cultural.
O estabelecimento de ensino também deve proporcionar aos
pais das crianças surdas o acesso a Libras, para que eles
possam comunicar-se, eficazmente, com seus filhos, auxiliando-os,
assim, na aquisição de sua língua
própria. Para Quadros (1997a), vários programas
podem ser desenvolvidos, na escola, no sentido de resguardar a
relação pais e filhos e de garantir o acesso
à língua de sinais, como: atividades para os
pais, orientadas por adultos surdos e profissionais especializados,
para a discussão sobre aspectos sociais,
linguísticos e culturais da comunidade surda; programas para
os pais e seus filhos que envolvam a interação
usando a Libras (jogos, brincadeiras, passeios), orientados por adultos
surdos; e visitas sistemáticas às
residências dos alunos feitas por pessoas surdas.
Considerações
finais
Enfim, considerando a realidade observada e a importância da
aquisição das Libras, na forma sinalizada e
escrita, e da aquisição da leitura e da escrita
da Língua Portuguesa, percebe-se que muito ainda
há para ser estudado e refletido sobre esse assunto. Nota-se
também que a área de Letras carece de pesquisas
nesse campo, pois é essencial que os professores de
Língua Portuguesa e Pedagogos de séries iniciais,
saibam como os surdos aprendem a escrita da língua oral, a
fim de que proporcionem a seus alunos um ensino significativo e
prazeroso.
Autoras:
Jhucyrllene C. dos Santos Rodrigues é Pedagoga e
Especialista em Educação Especial e Dacilvania
Laurentino Nobre é professora.