O fim da repetência nas escolas - 31/05/2011
Michelle Laudilio
No
terceiro ano do Ensino Médio, quem deseja seguir uma
carreira acadêmica se questiona: qual profissão
quero exercer? O que eu quero me oferece dinheiro, sonho ou me faz
viver financeiramente bem? Enfim, quem eu quero ser por toda vida:
médico, advogado, professor?
Foi nessa época que decidi: serei professora. Isso porque a
situação das escolas brasileiras, as
públicas, ainda não estava tão grave.
Nesse tempo, alunos não "preparados" ainda eram reprovados.
E o Ministério da Educação (MEC) ainda não recomendava às escolas de Ensino Fundamental brasileiras a não reprovarem seus alunos.
Juro, acreditava que o Brasil era o país do futuro e que a Educação melhoraria. E ainda que o docente poderia mudar a configuração das escolas públicas do Brasil e que ele seria capaz de despertar o interesse dos alunos.
Não
precisa me dizer: eu sei, esqueci-me do sistema. Professores seguem
escolas que, por sua vez, seguem sistemas.
E sabe qual a nova do sistema educacional brasileiro? Descobri ao
folhear uma revista. Entre as páginas, uma manchete me
chamou à atenção: “O fim da
repetência”. No primeiro momento, imaginei:
encontraram a solução para qualidade da
educação brasileira.
Entretanto, não precisei ler muito para perceber que na
verdade, mais uma vez, encontraram uma forma de maquiar a imagem de uma
educação de qualidade.
A notícia informava que, baseado em países que
não reprovam alunos nas escolas particulares e
públicas, como o Japão e França, o MEC
resolveu criar uma diretriz que pretende abolir a repetência
de alunos até o terceiro ano do Ensino Fundamental.
Apesar
de não ser instituída, ou seja, as escolas
escolherão se adotam ou não essa diretriz,
é no mínimo preocupante. Como é
possível um Ministério de
Educação criar uma diretriz tendo como espelho
países como França e Japão?
É simples a resposta, é porque nesses dois
países a taxa de repetência é nula. No
caso do Japão, os índices de analfabetismo
são inferiores a 1% e um terço dos alunos que
terminam o segundo grau ingressa no ensino superior. E o Brasil? O
Brasil é o país do futuro. E, por isso, ainda
é o país que mais reprova no mundo com
vergonhosas taxas de 11%.
Enquanto isso, há ainda pessoas que creem que a
reprovação é um erro. Justificam essa
ideia defendendo que reprovando alunos as escolas colaboram para que
eles percam a autoestima.
Junte-se a isso, os gastos que chegam atingir 10 (dez)
bilhões de reais por ano para o governo, comforme dados da
revista Nova Escola. O engraçado é que os alunos
não podem perder a autoestima, já os
professores... Estes aí, em sua maioria, já
desconhecem o que significa autoestima.
Então, como avaliar essa nova diretriz? Será que
com o fim da reprovação os alunos se
tornarão mais motivados? E para onde irão os 10
(dez) bilhões de reais gastos anualmente? Serão
redirecionados para educação ou para
valorização dos docentes?
E
os alunos que deveriam ser reprovados conseguirão acompanhar
os "coleguinhas" nos anos (séries) posteriores? Eles
serão realmente alfabetizados?
A única certeza que tenho é que o fim da
repetência tirará do Brasil os índices
negativos na educação. Não teremos
mais o título mundial de maior taxa de
reprovação.
Posso até imaginar os holofotes, a mídia, a nova diretriz, todos trabalhando para burlar os dados reais e a verdadeira situação da escola pública brasileira. E nas manchetes o orgulho de ser brasileiro: “No Brasil, a taxa de repetência é nula”.
1 Bertha Flegler - Pimenta Bueno
Amei seu artigo, pois sofro o mesmo mal que você sofre.
Sou professora há muitos anos e acretiva na educação, hoje não precisa ser professor para saber que o sistema educacional está falido com o não reprovar alunos para não desmotiválos e querer imitar países com alto índice de aprovação que investem na educação, coisa que o governo brasileiro não faz. O governo brasileiro não quer ter alto índice de reprovação de alunos, mas tem alto índice de reprovação profissional, a começar pela reprovação em concursos para Professores.
19/09/2011 11:17:54
2 Ana Maria Machado Netto - Catalão
Eu gostei muito deste artigo, pois também comungo dos mesmos pensamentos.
Sou professora e a cada dia a situação está mais difícil, pois os alunos não sabem e não tem interesse em saber, pois já tem conciencia de que serão aprovado então pra que estudar e muito melhor conversar, pois a maioria vão a escola com o intuito de passear, brincar e namorar menos em busca do conhecimento.
07/06/2011 11:33:37
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