Planeta Literatura
Isabel Florinda Furini  Escritora, educadora e autora de "O Livro do Escritor", da editora Instituto Memória, Curitiba, 2009. Também escreve poesias e livros para o público infantil.

Poesia em Sala de Aula - 20/04/2011
Isabel Furini

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A sala de aula mudou. Ficou para trás aquele lugar onde as crianças escutavam passivamente os discursos dos professores. Sala de aula é hoje um lugar interativo. A educação do século XXI está voltando à verdadeira origem da palavra. Educar deriva da palavra latina educere – “aquilo que vem de dentro”. Quase um segundo nascimento.

O filósofo Lombardo Radice dizia que não nascemos humanos, tornamo-nos humanos com o processo de educação. E o verdadeiro ser humano é aquele que educa a si mesmo. Por isso, os professores precisam de acuidade estética para despertar o gosto pela arte nos educandos e guiá-los para assumirem o processo de constante autoeducação.

Uma experiência muito interessante é diversificar as aulas, torná-las mais dinâmicas e vivas. Vejamos as aulas de poesia, elas podem acordar o lado poético dos educandos. A poesia era muito apreciada pelos gregos, eles valorizavam o poético como enigma, como verdade mítica.

Em grego, Poiesis significa produzir, fazer. Hoje pode resultar estranho o sentido desse termo, pois a poesia é considerada “improdutiva” pela sociedade de consumo. Mas, para os gregos, a poesia produzia uma realidade diferente da objetiva. Para eles a poesia estava unida a uma realidade mítica (dando ao mito seu sentido original).

Uma verdade mítica é aquela que nunca foi, mas que sempre é. Pode parecer um paradoxo, mas o mito não é uma verdade histórica, é algo que sempre acontece, como o Complexo de Narciso e o Complexo de Édipo, tão falados em psicologia, baseados na mitologia grega.

Esses fatos nunca aconteceram da maneira exata como foram narrados, mas podem existir sempre. Existiram, existem e existirão pessoas narcisistas, ou seja, o mito de Narciso é uma verdade que ultrapassa épocas.
Assim é a poesia: uma realidade diferente. Toca as cordas da alma, desperta a sensibilidade estética e ajuda a compreender a filosofia. A poesia nos leva pelo caminho da palavra e das ideias.

Geralmente, consideramos três tipos de poemas: lírico, dramático e épico. O lírico possui ritmo e musicalidade e está relacionado à música. O dramático corresponde à fala por meio de diálogos em conflitos interiores ou sociais e está relacionado ao teatro. Já o épico refere-se a batalhas e guerras.

Como ensinar poesia para crianças?

As aulas de poesia para crianças devem ser lúdicas. Será necessário fazer ênfase nos efeitos de sonoridade, de cores, de imagens, de movimento. O importante é que a criança inicie o processo sem limitações, sem bloqueios. Paradigmas rígidos tolhem a criatividade.

O professor deverá ser paciente, pois nem todos os alunos terão habilidade poética. A finalidade das aulas não é formar poetas, mas despertar o espírito poético. Orientar os alunos para que possam perceber a poesia e (para que possam também) exprimir o sentido estético que os ajudará a crescer como seres humanos e a realizar-se como pessoas.

A poesia para crianças pode começar com “jogo de palavras”. O educador coloca uma lista de palavras que possam rimar e deixa que os alunos escolham livremente.

Por exemplo: Arminho – Burburinho – Carinho – Adivinho – Ninho – Cozinho – Pergaminho - Espinho - Padrinho – Cavaquinho - Passarinho – Sobrinho – Alinho – Anjinho – Armarinho - Engatinho – Desalinho – Marinho - Moinho – Pinho – Focinho – Colarinho.

Ainda que os trabalhos sejam simples como: “O gatinho pisou um espinho”, ou: “O passarinho está no ninho”, o professor não julgará os poemas, só estimulará a produção poética. Aos poucos, as crianças vão se encantando com a sonoridade das rimas e com a possibilidade de criar poemas.

O educador precisará de muita paciência e de bom humor. Quando eu era estudante, um professor de matemática, ainda jovem, mas careca, solicitou aos alunos que escrevessem o que achavam dele como professor. Alguns colocaram elogios, outros criticaram. Mas teve um aluno que escreveu: “Céu sem nuvens / ninho sem pássaros / cabeça sem cabelo”.

Os colegas riram, o professor ficou zangado e o criativo poeta foi encaminhado à diretoria. Mas não podemos negar que ele foi criativo. A poesia contribui para estimular a criatividade, ajuda na aquisição da linguagem, enriquece o vocabulário, contribui para aumentar a sensibilidade estética, exterioriza emoções, além de desenvolver a capacidade de leitura e compreensão.

Exercícios – Primeira Aula: Sensibilizar
A primeira aula deve ser quase uma brincadeira. O educador pode começar com a leitura de um poema livre ou trova. Imediatamente escreve no quadro e faz com que as crianças leiam em coro duas ou três vezes.

Os alunos copiam o poema no caderno. Depois o professor assinalará algumas palavras do poema e solicitará às crianças que procurarem sinônimos ou antônimos, ou palavras que possam substituir a palavra assinalada. Ou ele mesmo proporcionará uma lista de sinônimos, antônimos e palavras afins para que as crianças utilizem as palavras de que mais gostem. Não se preocupar com aspectos teóricos como métrica.

O tom será de divertimento para que as crianças se aproximem da poesia sem medo e sem bloqueios. Nesse primeiro momento, o importante é que elas se aproximem do poema. Que apreciem a sonoridade.

Por exemplo: O professor pode trabalhar o poema da página 33 do livro “O Dr. Pingüim e a Mensagem de Santo Agostinho”, de minha autoria (escolhi um poema de minha autoria porque é preciso autorização escrita para colocar poemas de outros autores).

A Sucuri é uma cobra muito grande / que só sabe fazer ssssshhhh / A Sucuri é uma cobra muito feia / que só sabe carregar uma lancheira / Ela está nas aulas de Filosofia, mas acha que são aulas de Anatomia.

Trabalhar com algumas palavras do poema. Dar liberdade para que os alunos troquem as palavras que desejem. Por exemplo: sucuri - mudar para outro nome de cobra como Coral, Jararaca, Cascavel, Cobra Cipó; grande - procurar outra palavra como enorme, gigante, poderoso, vasto etc., ou antônimos: pequena, mínima, anã, nanica; carregar - levar, transportar, assegurar, sobrecarregar; Anatomia - o aluno pode colocar outras matérias como Geografia, Biologia, Aritmética etc.

Segunda Aula: Percepção
É muito importante treinar o olhar poético das crianças. Peça aos alunos que olhem pela janela. Como está o céu? Tem nuvens? Tem sol? Chove? Tem vento? Da janela dá para ver uma árvore? Um passarinho? Um inseto?

Solicitar que escrevam a experiência em um poema pequeno de duas ou de três linhas. Não exigir métrica. Depois, falar para as crianças que observem a natureza todos os dias e, se sentirem vontade, que escrevam poemas.

O importante não é só escrever um poema, mas adquirir o pensar poético, a visão poética da vida. A mente se abre para a beleza, e isso também é poesia. É importante solicitar que registrem, no mínimo, uma vez na semana, em três linhas curtas, o que eles observarem.

Devem só falar do que viram, mas sem dizer: eu acho, eu vi, eu percebi, porque... Repetimos que o propósito não é só inventar um poema, mas adquirir o pensar poético, a visão poética da vida, despertar a sensibilidade estética.

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6 COMENTÁRIOS

1 SARA CARDOSO DA SILVA - MACAE
QUERO TAMBEM EXPOR MINHAS POESIAS NAO SEI SE FICOU BOA QUANDO NOA TENHO NADA PARA FAZER EU POETIZO.SOLUÇOES ILUSIONISTAS PROUCUREITE NAS NOITES DE LUA CHEIA E SÓ ENCONTREI OS GRILOS QUE POR LÁ RODEIA PROUCUREITE NO SONETO DA PAIXAO E E SÓ ACHI ILUSAO PROUCUREITE NO MEU CORAÇAO E POR FIM , LÁ ESTAVA ESTAVA TU ME ESPERANDO COM UMA FAIXA EM DECLAÇAO.MEU NOME É SARA CARDOSO DA SILVA. E AI GOSTARAM???????
06/12/2011 14:35:38


2 Mafra - Curitiba
Oi Isabel, muito bom conteúdo. É porisso que te chamo deMestra. abç mafra
06/05/2011 21:32:16


3 Vanice Ferreira - Curitiba
Olá Isabel, ensinar poesias para as crianças é importante, pois além de incentiválas a trabalhar seus sentimentos, também colabora para que observem as pessoas e o mundo a sua volta. Seu texto está ótimo! Gostei!Abraço.
28/04/2011 08:25:35


4 SONIA CARDOSO - CURITIBA
IMPORTANTE SEU TEXTO POIS NOSSAS CRIANÇAS PRECISAM VALORIZAR A PALAVRA E TAMBEM O BELO E LIRICO, NESTES TEMPOS DE DOENÇA PSICO SOCIAL COLETIVA.
23/04/2011 17:18:45


5 Juliana Angelica da Costa - Itabira
Gostei muito do texto. Coincidentemente estou trabalhando este tema com meus alunos só que, além do citado no texto, estamos trabalhando a estética/recursos do gênero. Se possível, gostaria de sugestões para o ensino médio. Obrigada, Juliana Angelica
21/04/2011 23:25:26


6 Solange Gomes da Fonseca - Curitiba
Isabel, Significante e importante amostra no teu texto, que deve ser seguida, desde a idade tenra por professores para desenvolver o gosto e mostra a riqueza da poesia em sala de aula. Pois, além de desenvolver e despertar a criação literária nas crianças, a poesia mostra a doçura da criação do poeta e vai fomentano saberes com as palavras, em forma de versos e prosas. Adorei teu texto e espero que mais uma das muitas ferramentas didáticas sejam levada à sala de aula, como exerício de prazer e criação poética para os alunos. Beijos, Solange
21/04/2011 04:21:05


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