Diário de Classe
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Identidade? - 11/02/2004
Coluna Diário de Classe

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Afinal de contas, quem somos?

Tinha duas aulas com a turma do 1° Ano do Ensino Médio, primeira semana de aulas, estávamos começando a discutir um tema pra lá de pertinente:- Identidade.

É muito mais fácil falarmos dos outros que de nós mesmos se apressaram a afirmar alguns dos alunos. Até concordo com isso, por esse motivo, me propus a realizar a atividade junto com eles.

Num primeiro momento, tínhamos que escrever numa folha de papel as características que consideramos próprias do nosso ser. Pergunta vai, pergunta vem, queriam saber se eram necessárias características físicas ou emocionais, comportamentais ou relativas a nossas preferências. Pedi-lhes que colocassem um pouco de tudo.

Comecei a fazer minha lista e, após algum tempo, consegui perto de 30 características. Os alunos ficaram numa faixa que ia das 10 as 20, em média.

Depois deveríamos ver como essas características se encaixavam em nossa relação com as outras pessoas. Até para que pudéssemos ver como adotamos posturas e práticas diferentes em relação a protagonistas diversos, pedi-lhes que dissessem quais características eram mais marcantes em seus relacionamentos com pais, amigos, desconhecidos e na escola (com os professores).

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Carpe diem!

Foi divertido perceber que todos (inclusive eu) conseguimos detectar algumas (ou várias) diferenças na relação que temos com as pessoas na medida em que elas entram em nossas vidas por aspectos diversos.

Aí, terminou a primeira aula. Fomos para um intervalo de 20 minutos.

Voltamos e, reiniciamos a conversa. Tínhamos que continuar descobrindo coisas a nosso respeito e, por esse motivo, propus que nos identificássemos de forma diferenciada, atrelando nossas características a filmes, músicas, livros, pessoas reais e personagens da ficção.

Dessa vez, foi um grande bate papo e, na medida em que eles se manifestavam, eu escrevia suas opções na lousa e, lhes perguntava os motivos daquelas opções. Eles tiveram grandes dificuldades. Escolhiam filmes ou livros que gostavam e não que representavam características deles próprios, que ajudassem a explicar quem eles eram.

No final de cada tópico (livro, música, filme...), eu os desafiava a me perguntar qual era minha música, meu filme, meu personagem de
ficção,...

Eles achavam curiosíssimas minhas respostas. Deixei as explicações para o final...

Um dos encantamentos da atividade era que, na apresentação da música preferida, era pedido aos alunos cantarolassem trechos da canção. Para alguns era um terror, outros entenderam e se soltaram.

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Arte, Aventura, Ciência, Pesquisa, Paz e Fraternidade.

Quando a maioria já havia respondido ao questionamento, passei a explicar-lhes minhas opções:-

- Música: Monte Castelo (Legião Urbana) - expliquei-lhes que tinha muita relação com a minha visão de mundo por prezar o amor como a melhor resposta para todas as grandes questões da vida. Cheguei mesmo a cantar alguns trechos para eles...

- Livro: Muitos esperavam que eu respondesse algum título sofisticado, acadêmico. Escolhi "O Menino Maluquinho", de Ziraldo. Disse-lhes que ainda mantenho o espírito de criança (apesar dos meus "136" anos, como costumo brincar com eles...).

- Filme: "Sociedade dos Poetas Mortos". Para minha surpresa, apenas uma aluna já havia assistido (tenho que fazer algo a respeito). Me identifico com o idealismo, o não-conformismo, o amor pela profissão de educador e a vontade de realizar do personagem principal, o professor Keating (Robin Williams).

- Personagem de ficção: Indiana Jones. Alguns riram. Quiseram saber os motivos dessa escolha inusitada. Brinquei dizendo que me achava tão atlético e bonito quanto o personagem. Mais risadas. Expliquei então que gostava do espírito aventureiro, do fato de Indiana Jones ser um pesquisador, um professor, um cientista...

- Pessoas: Não consegui responder a partir de uma única pessoa. Disse quatro. Comecei por Gandhi, representando a esperança que tenho na paz, no diálogo e na fraternidade. Mencionei Chaplin, por todo amor a arte e a cultura que tenho desde a mais tenra idade. Terminei falando sobre meus pais (João e Ana), de quem herdei a capacidade de dialogar, ser curioso, ser amigo, ser fiel, saber amar,...

De tudo isso brotaram sentimentos e emoções. Algumas lágrimas e a certeza que, continuariam a refletir sobre isso em casa, para retomarmos em nossa próxima lição...

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