Dicionário Filosófico -
Voltaire
Voltaire foi um dos mais destacados pensadores
do Iluminismo.
Escreveu peças teatrais, obras científicas,
tratados filosóficos e romances.
Crítico feroz das vantagens e benefícios
vividos pela nobreza e pelo Clero,
fazia críticas inteligentes, marcadas
pela ironia e pelo sarcasmo.
Para compreender o espírito de um tempo, de uma sociedade, temos que recorrer a sua essência. Se o período ao qual nos referimos ficou para trás, cabe a nós o resgate de sua memória a partir de suas fotografias, filmes, cartas, documentos oficiais, roupas, utensílios e, principalmente, sua literatura e sua filosofia, transcritas em páginas e páginas de pensamentos esclarecedores da natureza de homens e seus trabalhos, amores, alimentos, guerras, religiões,...
Um dos períodos mais prodigiosos da aventura humana no planeta foi a Revolução Francesa (1789-1799). Mais que enterrar os resquícios do Antigo Regime, esse movimento consagrou o mundo burguês e estipulou bases para as sociedades que se estabeleceriam nos séculos XIX, XX e XXI.
As ações de Danton, Robespierre, Saint Just e Marat não teriam acontecido sem a produção valiosa dos pensadores iluministas que viveram na Europa entre os séculos XVII e XVIII. Sem Rousseau, Montesquieu, Diderot e D´Alembert ou Voltaire, não existiriam os princípios, as fórmulas, os pensamentos e conceitos que consolidaram a "Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade" obtidas a custa de muita luta no final do século XVIII.
Se a "Enciclopédia" de Denis Diderot virou história ao se tornar o primeiro livro em que se tentava sistematizar o pensamento humano, de forma racionalizada, como um material que deveria ser acessível ao povo e que fora escrito por um grande número de especialistas, Montesquieu não ficava para trás e produzia sua obra prima "O Espírito das Leis", em que discorria sobre formas de organização política, sendo muito crítico quanto a algumas delas e propondo, em contrapartida, alternativas que se tornariam a base futura, como o sistema de três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
Se Rousseau defendia em seu "Contrato Social" o tácito acordo que deveria ser firmado entre a sociedade e seus governantes e propunha a educação pública em "O Emílio", Voltaire não deixava por menos e atacava o Clero e os privilégios da Nobreza em suas Cartas; além disso, tentava esclarecer seus contemporâneos com sua obra imortal o "Dicionário Filosófico".
Uma das grandes contribuições dos iluministas ao pensamento contemporâneo, o "Dicionário Filosófico" de Voltaire está disponível para leitura na internet (veja os links indicados ao final do artigo). Trata-se de documento de grande valor para quem quer entender o momento histórico em que viviam esses pensadores, o modo como organizavam seus pensamentos e a própria Revolução das Luzes.
Apresento abaixo dois "verbetes" retirados do "Dicionário Filosófico" de Voltaire. Espero com isso, abrir o "apetite" dos leitores quanto ao restante do conteúdo da obra desse renomado escritor e pensador francês. Bom proveito!
BELO, BELEZA
Perguntai a um sapo o que é a beleza, o supremo belo, o to kalon.
Responder-vos-á ser a sapa com os dois olhos exagerados e redondos encaixados na cabeça minúscula, a boca larga e chata, o ventre amarelo, o dorso pardo. Interrogai um negro da Guiné, o belo para ele é - uma pele negra e oleosa, olhos cravados, nariz esborrachado. Indagai ao diabo. Dir-vos-á que o belo é um par de cornos, quatro garras e cauda. Inquiri os filósofos. Responder-vos-ão com aranzéis. Falta-lhes algo de conforme ao arquétipo do belo em essência, o to kalon.
Assistia
eu certa vez à representação
de uma tragédia em companhia de
um filósofo.
- Como é belo! - dizia ele.
- Que viu de belo o senhor?
- O autor atingiu seu fim.
No dia seguinte ele tomou um purgante que lhe fez efeito.
- O purgante atingiu seu fim - disse-lhe eu. - Eis um belo purgante.
Ele compreendeu não se poder dizer que um purgante seja belo, e que para chamar belo a alguma coisa é preciso que nos cause admiração e prazer.
Conveio em que a tragédia lhe inspirara estas duas emoções, e que nisso estava o to kalon, o belo.
Realizamos uma viagem à Inglaterra. Lá se representava a mesma peça, impecavelmente traduzida. Fez bocejarem todos os espectadores.
- Oh! - exclamou o filósofo - o to kalon não é o mesmo para os ingleses e os franceses.
Após muita reflexão concluiu ser o belo extremamente relativo, como o que é decente no Japão é indecente em Roma, o que é moda em Paris não o é em Pequim.
GUERRA
A miséria, a peste e a guerra são os três ingredientes mais famosos deste mundo vil. Podem-se colocar na classe da miséria todas as más alimentações a que a penúria nos força a recorrer para abreviar nossa vida na esperança de a suster.
Compreendem-se na peste todas as doenças contagiosas, que são em número de, dois ou três mil. Esses dois presentes nos vêm da Providência, A guerra, porém, que reúne todos esses dons, nos vem da imaginação de trezentas ou quatrocentas pessoas disseminadas pela superfície do globo sob o nome de príncipes ou ministros; é provavelmente por essa razão que em várias dedicatórias se chamam imagens vivas da Divindade.
O mais determinado adulador convirá sem esforço em que a guerra acarreta sempre a peste e a miséria, por pouco que tenha visto os hospitais dos exércitos da Alemanha, ou que tenha passado em aldeias onde se fez algum grande movimento militar.
É
sem dúvida uma bela arte a de desolar
os campos, destruir as casas e
fazer morrer, anualmente, quarenta mil
homens sobre cem mil.
Links
-
http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/colecaoridendo/dicionario_filosofico.htm
-http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/filosofico.html
1 ana carla carstens - são jorge d`oeste
realmente ao ler o relato dessa história
me senti atraida por saber mais dela.
É uma história muito entereçante e por isso indiquei a varios amigos
abrigado
06/08/2008 17:21:17
2 Danilo Moraes Alves - Maringá/PR
Extremamente interessante, Grande Pensador!
15/05/2008 11:55:40
3 Déa Maria Martinewski - Pirassununga - SP
Estou cursando Pedagogia e estudando atualmente Filosofia e me interesso por esses tipos de artigo. Gostei bastante e pretendo consultar os links mencionados.
15/10/2007 20:03:50
4 luiz gustavo b. feitosa - sertania
adorei este artigos
07/05/2007 20:47:13
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.