Catástrofes entram nas salas de aula - 31/01/2011
Francisca Romana Giacometti Paris
Terremotos. Tsunamis. Furacões. Erupções vulcânicas. Chuvas torrenciais. Enchentes. Deslizamentos. Os desastres naturais, como o nome diz explicitamente, são eventos naturais que ocorrem quando um fenômeno físico provoca direta ou indiretamente muitos danos e faz um grande número de vítimas.
Nos últimos tempos, a mídia - TV, internet, jornais impressos, rádios e revistas, entre outros -, nos mostrou cenas catastróficas causadas pelas chuvas na Austrália e na região serrana do estado do Rio de Janeiro.
Tanto o distante continente quanto as serras cariocas foram inundadas por águas fluviais que, segundo alguns estudos, são resultantes do aquecimento do planeta e do fenômeno La Niña.
Todavia, ao analisarmos o número de pessoas vitimadas pelas tragédias, de lá e daqui, nos deparamos com números bem diferentes. Enquanto no nordeste australiano o dilúvio atingiu uma área cinco vezes maior do que o Reino Unido e deixou cerca de vinte mortos e mais de setenta pessoas desaparecidas, a região serrana carioca já contabiliza mais de 650 mortos, sem contar os desaparecidos.
Com base nesses dados, observa-se que os fenômenos naturais são transformados em desastres quando o vento, a chuva, a neve, as larvas, o terremoto ou as gigantescas ondas se encontram com a vulnerabilidade.
Esse deve ser o eixo central sobre o qual se deve estudar as tragédias climáticas em sala de aula. A vulnerabilidade opõe-se à cidadania. As pessoas que habitam muitas das áreas de risco, por mais contraditório que pareça, recolhem o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), ou seja, os governos legitimam a ocupação dessas áreas.
Podem-se trabalhar os mais diversos conteúdos (precipitações, urbanismo, ocupação de encostas, divisão de renda, ecologia, moradias etc) ao contemplarmos, no currículo da sala de aula, os deslizamentos ocorridos neste início de 2011.
Porém, não podemos reafirmar, como fazem algumas autoridades, que a causa da tragédia é a chuva. Faz-se necessário que desenvolvamos nas crianças e jovens a consciência pelo cuidado com o meio ambiente e a postura política de cobrar das autoridades públicas ações que, a longo prazo, minimizem o número de vítimas, ou seja, cobrar planejamento e preparação para enfrentar ocorrências naturais.
Um ponto, entretanto, deve ser ressaltado: a solidariedade dos amigos, parentes e vizinhos das vítimas. Particularmente, fiquei admirada com a ação de pessoas que cavavam a lama à procura de soterrados, com outras que abriram suas casas para acolher desabrigados, com aqueles que subiam e desciam morros para comunicar-se com helicópteros e indicarem localidades isoladas, com aqueles que enfrentaram o odor da morte no IML (Instituto Médico Legal) para dignificar com um enterro entes queridos, com aquelas crianças que adotaram animaizinhos que perderam seus donos, com os voluntários que separam doações e fazem faxina nos alojamentos provisórios e com o grande número de brasileiros que encaminharam os mais diversos materiais para sobrevivência das vítimas.
Essa
lição de solidariedade deve ser lembrada e
relembrada em vários momentos da escola. A
catástrofe acontece quando não encontra uma
organização que pode preveni-la ou
atenuá-la, mas deixa de ser ainda mais trágica
quando encontra a solidariedade materializada nas mãos de
cada voluntário.
*Francisca Romana Giacometti Paris é Diretora pedagógica do Agora Sistema de Ensino (www.souagora.com.br), pedagoga, mestre em Educação e ex-secretária de Educação de Ribeirão Preto (SP).
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