A
natureza sempre decide em se recriar. E você
também é a natureza.
Conta certa história que dois sujeitos caminhavam lado a
lado. Enquanto um não se cansava de elogiar a beleza do
céu estrelado, do outro só se ouviam
reclamações sobre os buracos e as pedras do
caminho. Esta narrativa demonstra que é através
da nossa percepção é que nos
posicionamos no mundo, se de forma positiva ou negativa. Isso significa
que somos os únicos responsáveis por sermos do
jeito que somos. Tudo passa pela questão do
livre-arbítrio, da capacidade de tomar decisões.
A natureza nos revela muitas lições que podemos
utilizar para estabelecer uma postura mais realizadora e positiva na
vida. Uma delas é a capacidade de
recriação. Os cientistas denominam a isso de
auto-organização. E que na dimensão
humana eu costumo associar com a nossa capacidade de decisão.
Observemos o período prolongado da seca. A mata, ressentindo
do calor e da falta de água, dá a
impressão de que as plantas ali não
resistirão. No entanto, nas primeiras gotas de chuva o
potencial de vida é estimulado. Já no dia
seguinte ao da chuva constataremos os verdes brotos viçosos
rompendo o solo, alterando o que até então era
uma paisagem cinzenta e desoladora. A vida se auto-organizando,
recriando, renascendo das cinzas!
Na realidade humana, encontramos exemplos fabulosos de pessoas que
enfrentaram uma situação devastadora, tendo
conseguido não somente superá-la, mas tendo elas
recriado a si mesmas, conferindo-lhes um significado grandioso da vida.
Estes dias assisti a entrevista de João Carlos Martins, um
dos mais talentosos instrumentistas que o Brasil já teve.
Para se ter uma ideia de seu talento, tocou com as maiores orquestras
americanas, além de gravar a obra completa de Bach para
piano.
Tragicamente teve, por forças misteriosas do destino, a sua
carreira de pianista interrompida por várias vezes. A
primeira interrupção aconteceu quando teve um
nervo da mão direita rompido jogando futebol em Nova York.
Mesmo diante das perspectivas nada favoráveis, decidiu
manter-se firme no seu propósito de retornar aos concertos.
Depois da cirurgia e um longo processo de tratamentos, retornou aos
concertos, mas sem poder contar com os movimentos perfeitos de sua
mão.
Tempos depois, contraiu LER devido aos longos períodos de
estudos e práticas que se submetia diariamente. Chegou a
abandonar a carreira. Mas a sua paixão pela
música foi mais forte que as
limitações físicas, decidiu retornar.
Para isso, desenvolveu uma forma de executar suas peças
utilizando apenas a mão esquerda.
E o destino novamente impôs-lhe uma
restrição. Ao ser assaltado na
Bulgária, recebera um golpe na cabeça que acabou
originando dores intensas em suas mãos, principalmente na
esquerda. Ao invés de parar, decidiu se submeter aos
tratamentos e treinamentos para poder tocar com os dedos que podia usar
de cada mão. E foi o que aconteceu.
Mas o tempo foi impondo gradativamente as
restrições até que se viu
forçado a renunciar ao piano, mas não renunciou o
seu amor pela música. Decidiu tornar-se maestro. E novamente
a sua decisão lhe confere um prêmio. Em Maio de
2004, fez a sua estréia regendo a English Chamber Orchestra,
uma das maiores orquestra de câmara do mundo, com uma
ressalva: incapaz de segurar a batuta e virar as páginas da
partitura, João Carlos faz um trabalho minucioso de decorar
as partituras!
Atualmente, João Carlos Martins realiza um trabalho de
iniciação à música com
jovens carentes no Brasil.
Na entrevista, fica bem evidente a sua postura positiva e de abertura
em relação à vida. Revelando um senso
de humor incrível, brincou: antes eu chegava a tocar vinte e
uma notas em um segundo, hoje toco uma nota em vinte e um segundo.
Rolando Toro, criador do Sistema Biodanza, afirmou que somos
pavorosamente livres. Tal pavor se deve, em grande parte, ao medo de se
decidir em relação a um dilema, a uma escolha,
uma vez que isso significa correr riscos. O irônico
é que não tomar nenhuma decisão
também é uma decisão.
É através das decisões que seguimos
adiante na jornada pela vida. A decisão abre as portas da
realidade. Que realidade você deseja adentrar? Uma realidade
rica ou pobre de alegria, satisfação e
criatividade?
Ninguém pode decidir por você e tampouco pode
impedir de você decidir o que quer, a não ser que
você permita. Não decida em se tornar uma natureza
morta.
Hélio Arakaki é Graduado em
Comunicação Social pela Escola Superior de
Propaganda e Marketing de São Paulo - ESPM, Professor de
Karate - 5º Grau, Consultor para o Desenvolvimento dos
Potenciais Humanos em Empresas, Facilitador de Biodanza, Especialista
em Jogos Dramáticos para Empresas e Modelo de Ajuda, Autor
do livro Atitude Samurai para a Vida. Site:
http://www.muryokan.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17&Itemid=32