Carpe Diem
 

A Natureza se Recria - 07/12/2010
Hélio Arakaki

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A natureza sempre decide em se recriar. E você também é a natureza.

Conta certa história que dois sujeitos caminhavam lado a lado. Enquanto um não se cansava de elogiar a beleza do céu estrelado, do outro só se ouviam reclamações sobre os buracos e as pedras do caminho. Esta narrativa demonstra que é através da nossa percepção é que nos posicionamos no mundo, se de forma positiva ou negativa. Isso significa que somos os únicos responsáveis por sermos do jeito que somos. Tudo passa pela questão do livre-arbítrio, da capacidade de tomar decisões.

A natureza nos revela muitas lições que podemos utilizar para estabelecer uma postura mais realizadora e positiva na vida. Uma delas é a capacidade de recriação. Os cientistas denominam a isso de auto-organização. E que na dimensão humana eu costumo associar com a nossa capacidade de decisão.

Observemos o período prolongado da seca. A mata, ressentindo do calor e da falta de água, dá a impressão de que as plantas ali não resistirão. No entanto, nas primeiras gotas de chuva o potencial de vida é estimulado. Já no dia seguinte ao da chuva constataremos os verdes brotos viçosos rompendo o solo, alterando o que até então era uma paisagem cinzenta e desoladora. A vida se auto-organizando, recriando, renascendo das cinzas!

Na realidade humana, encontramos exemplos fabulosos de pessoas que enfrentaram uma situação devastadora, tendo conseguido não somente superá-la, mas tendo elas recriado a si mesmas, conferindo-lhes um significado grandioso da vida.

Estes dias assisti a entrevista de João Carlos Martins, um dos mais talentosos instrumentistas que o Brasil já teve. Para se ter uma ideia de seu talento, tocou com as maiores orquestras americanas, além de gravar a obra completa de Bach para piano.

Tragicamente teve, por forças misteriosas do destino, a sua carreira de pianista interrompida por várias vezes. A primeira interrupção aconteceu quando teve um nervo da mão direita rompido jogando futebol em Nova York. Mesmo diante das perspectivas nada favoráveis, decidiu manter-se firme no seu propósito de retornar aos concertos.

Depois da cirurgia e um longo processo de tratamentos, retornou aos concertos, mas sem poder contar com os movimentos perfeitos de sua mão.

Tempos depois, contraiu LER devido aos longos períodos de estudos e práticas que se submetia diariamente. Chegou a abandonar a carreira. Mas a sua paixão pela música foi mais forte que as limitações físicas, decidiu retornar. Para isso, desenvolveu uma forma de executar suas peças utilizando apenas a mão esquerda.

E o destino novamente impôs-lhe uma restrição. Ao ser assaltado na Bulgária, recebera um golpe na cabeça que acabou originando dores intensas em suas mãos, principalmente na esquerda. Ao invés de parar, decidiu se submeter aos tratamentos e treinamentos para poder tocar com os dedos que podia usar de cada mão. E foi o que aconteceu.

Mas o tempo foi impondo gradativamente as restrições até que se viu forçado a renunciar ao piano, mas não renunciou o seu amor pela música. Decidiu tornar-se maestro. E novamente a sua decisão lhe confere um prêmio. Em Maio de 2004, fez a sua estréia regendo a English Chamber Orchestra, uma das maiores orquestra de câmara do mundo, com uma ressalva: incapaz de segurar a batuta e virar as páginas da partitura, João Carlos faz um trabalho minucioso de decorar as partituras!

Atualmente, João Carlos Martins realiza um trabalho de iniciação à música com jovens carentes no Brasil.

Na entrevista, fica bem evidente a sua postura positiva e de abertura em relação à vida. Revelando um senso de humor incrível, brincou: antes eu chegava a tocar vinte e uma notas em um segundo, hoje toco uma nota em vinte e um segundo.

Rolando Toro, criador do Sistema Biodanza, afirmou que somos pavorosamente livres. Tal pavor se deve, em grande parte, ao medo de se decidir em relação a um dilema, a uma escolha, uma vez que isso significa correr riscos. O irônico é que não tomar nenhuma decisão também é uma decisão.

É através das decisões que seguimos adiante na jornada pela vida. A decisão abre as portas da realidade. Que realidade você deseja adentrar? Uma realidade rica ou pobre de alegria, satisfação e criatividade?

Ninguém pode decidir por você e tampouco pode impedir de você decidir o que quer, a não ser que você permita. Não decida em se tornar uma natureza morta.

Hélio Arakaki é Graduado em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo - ESPM, Professor de Karate - 5º Grau, Consultor para o Desenvolvimento dos Potenciais Humanos em Empresas, Facilitador de Biodanza, Especialista em Jogos Dramáticos para Empresas e Modelo de Ajuda, Autor do livro Atitude Samurai para a Vida. Site: http://www.muryokan.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17&Itemid=32

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