Nossas Crianças - Continuação - 10/11/2010
Ricardo Rolando Irigoyen
Nove meses depois somos lançados ao mundo e aí cada história começa a ser diferente. Podemos cair numa realidade que vai do desamparo à superproteção. Na fase anterior à escola, aprendemos a como nos relacionar com nossa família e o mundo, e percebemos, pelo menos os mais afortunados, que há um mundo totalmente protegido, nosso lar.
Cada vez que sentimos algum problema no nosso relacionamento com o exterior, voltamos ao seio familiar. Quando ingressamos no mundo escolar, passamos a experimentar o mundo externo e damos início ao nosso aprendizado de como relacionar-nos com e na sociedade.
A sociedade pode intervir de alguma forma no primeiro período, mas somente passa a ter uma ação ativa a partir que começa a educação social de nossos rebentos. Nossas crianças, tanto no lar como na escola, aprendem e copiam o que pais e professores fazem, não muito do que lhes falam.
Somente prestam atenção ao que é dito quando é acompanhado de atitudes condizentes. Exemplo clássico: - Filho, não deve mentir! Segundos depois o telefone chama e a mesma pessoa diz ao filho: Filho, caso seja para mim, fala que não estou! O mesmo acontece nas escolas quando a criança percebe que os professores têm um discurso diferente de suas atitudes.
Nos primeiros anos desta vivência triangular (família – criança - escola), vai surgindo uma nova personalidade com valores próprios e um raciocínio singular. Educação é o único serviço que os pais pagam e muitos de seus filhos não consomem.
É como ir a um médico para uma consulta e este dá uma receita para curar a doença. Os pais entregam a receita ao filho e pedem que ele compre os medicamentos e siga o tratamento recomendado.
Muitas crianças não compram os medicamentos nem seguem o sugerido pelo doutor. Os pais que não fiscalizam o tratamento voltam um ano depois para reclamarem que a criança segue doente.
A mesma coisa acontece com a educação, os pais pagam, mas esperam que a criança e o colégio resolvam, eles somente se envolvem com os pagamentos e o resultado final.
O incrível é que muitos destes pais ficam surpresos quando seus filhos são reprovados. Mais incrível ainda é que alguns culpam o colégio e até seus próprios filhos. Soluções: trocar de colégio, deixar a criança de castigo ou, pior ainda, as duas opções.
Lógico que existem pais responsáveis e alunos dedicados, isto é o que ainda dá esperanças ao educador, mas devemos ter consciência que se o Brasil está em último lugar no quesito educação, entre todos os países do mundo, somos todos responsáveis: pais, alunos, professores, colégios e burocratas da educação. Ao final de contas, Brasil deveria estar numa melhor posição no ranking da educação mundial, e não em último lugar com o Zimbawe.
Um tempo atrás, ouvi uma analogia muito interessante: “Comendo 50 gramas de carne todos os dias, será uma pessoa bem alimentada. Mas, se você tenta comer a mesma quantidade de carne que você comeria num ano, em um período de um mês teria que comer mais de 180 quilos de carne. Provavelmente você morreria de intoxicação alimentar. O mesmo passa com os estudos, é impossível aprender num mês o que deveríamos ter aprendido durante o ano letivo. Os pais devem cuidar dos estudos de seus filhos como cuidam da sua alimentação. Todos os dias.”
Lógico que alguns de meus leitores podem dizer que há pais que não se ocupam nem da alimentação de seus filhos, mas essa á outra história e outra crônica.
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