Qual a grafia correta? Braille, braille ou braile? - 22/07/2010
Depende - Romeu Kazumi Sassaki
Na Língua Portuguesa, as três formas de grafia constantes no título deste artigo estão corretas, dependendo das circunstâncias em que cada uma delas for utilizada. Por razões de clareza, destaquei com grifos estes três termos por todo o presente texto. Conforme MARTINS (1990, p. 344), grafa-se Braille quando se referir ao educador francês Louis Braille (ou quando este nome fizer parte de nomes de instituições) e grafa-se braile nos demais casos.
[1] Braille (maiúscula com dois "L")
Braille é nome próprio. Especificamente, é o sobrenome de Louis Braille, que nasceu em 1809 e morreu em 1862, aos 43 anos de idade. Ele inventou o sistema de leitura tátil e escrita para cegos em 1825, quando tinha 16 anos de idade.
Como exemplos do uso do nome Braille, temos as frases:
“O livro consta de cartas de Braille ao Dr. Pignier” (IBC, 2005, p.30).
“O Centro Cultural Louis Braille, de Campinas, desenvolveu, no ano de 1999, o projeto vídeo-narrado” (MARTINS, 2002, p.22).
“Da organização do Instituto Benjamin Constant faz parte a Imprensa Braille” (IBC, 2004, p.29).
[2] Braille (minúscula com dois "L")
Em 10/7/05, a Comissão Brasileira do Braille (CBB) recomendou a grafia braille, com “b” minúsculo e dois “l” (éles), respeitando a forma original francesa, internacionalmente empregada (DUTRA, 2005). Porém, quando se referir ao educador Louis Braille e quando o sobrenome Braille fizer parte do nome de instituições, grafa-se Braille. A CBB manteve a grafia Sistema Braille, como nome próprio e não como termo técnico.
O sistema braile (método em si) ou Sistema Braille (nome do método) não surgiu do nada. Um oficial do exército francês, Charles Barbier, havia inventado um aparelho chamado sonografia ou código militar, que “tinha como objetivo possibilitar a comunicação noturna entre oficiais nas campanhas de guerra. Ele se baseava em 12 sinais, compreendendo linhas e pontos salientes, representando sílabas na língua francesa” (MEC, 2003, p.63).
Como o invento não atingiu o resultado esperado, Barbier levou-o para ser utilizado por alunos cegos do Instituto Real dos Jovens Cegos, em Paris. Foi então que o adolescente Louis Braille tomou conhecimento desse invento. Aproveitando a significação tátil dos pontos em relevo do invento de Barbier, Braille concebeu em 1825 um sistema cuja estrutura divergia fundamentalmente da sonografia e lhe deu o nome de Procédé de L. Braille.
Passados 25 anos, o Procédé de L. Braille foi trazido ao Brasil em 1850 por um jovem cego de nome José Álvares de Azevedo, que o instalou no então Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje Instituto Benjamin Constant). O nome do sistema foi mudando gradativamente de Sistema de Louis Braille para Sistema de Braille e, finalmente, para Sistema Braille.
[3] Braile (minúscula com apenas um "L")
A palavra braile foi aportuguesada do vocábulo francês braille, que por sua vez veio do nome Braille. Portanto, braile é um substantivo comum masculino. A palavra braile é utilizada em duas situações:
a) com a função de adjetivo formando um conjunto: sistema braile, máquina braile, relógio braile, dispositivo eletrônico braile, biblioteca braile etc.
b) como substantivo, antecedido pela preposição “em”: escrita em braile, cardápio em braile, placa metálica em braile, livro em braile, jornal em braile, texto em braile etc.
Exemplos do uso do termo braile
No verbete “Braille writer”, o Moderno Dicionário Inglês-Português, Português-Inglês (MICHAELIS, 2000, p.81) explica que ele é “substantivo: máquina de escrever braile”.
A Academia Brasileira de Letras, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, registra os seguintes verbetes: “braile adj. 2g. s.m.; braille adj. 2g. s.m.” (DUTRA, 2005).
O livro “Dificuldades de comunicação e sinalização: deficiência visual”, da coleção Saberes e Práticas da Inclusão, nível Educação Infantil, da Secretaria de Educação Especial (MEC, 2004, p. 50-52 e 57), traz as seguintes frases no subcapítulo “O sistema braile; via de comunicação e acesso à construção do conhecimento”:
“As pessoas cegas conquistaram o acesso ao mundo da leitura e escrita e a participação na construção do conhecimento por meio do sistema braile – sistema universal de leitura tátil e escrita”.
“A leitura braile é realizada da esquerda para a direita, mediante o movimento contínuo das mãos e habilidade tátil desenvolvida na ponta dos dedos, em leve pressão”.
“Para uma leitura rápida e eficiente, os pontos em relevo devem ser precisos, com caracteres bem delineados, sem furos, na dimensão adequada às pontas dos dedos das crianças, permitindo boa identificação e discriminação dos símbolos braile”.
“O braile produzido por meio da máquina Perkins Braille (...) é de ótima qualidade de impressão”.
“O primeiro instrumento de escrita utilizado por pessoas cegas é a reglete e o punção (espécie de lápis) para escrever o braile”.
“Mais rápida, prática e fácil é a máquina de datilografia braile, que é constituída basicamente por seis teclas, correspondentes aos pontos da cela braile”.
“A primeira máquina braile foi desenvolvida pelo Prof. David Abraham em 1939, nos EUA”.
“... como também experimentados todos os recursos e ajudas ópticas e não ópticas, para depois se discutir com o aluno sobre a necessidade do braile”.
Exemplos de outro livro
O livro “Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos cegos e de alunos com baixa visão”, da coleção Saberes e Práticas da Inclusão, da Secretaria de Educação Especial (MEC, 2003, p.60, 63, 64, 66-75, 77, 78, 80 e 83) traz as seguintes frases:
“Além dessas atividades grupais, as atividades individuais de manuseio e a utilização de recursos específicos como reglete, punção, acesso ao código braile e ao texto em braile deverão ser priorizadas no contexto escolar”.
“Os seis pontos formam o que se convencionou chamar ‘cela braile’”.
“As diferentes disposições desses seis pontos permitem a formação de 63 combinações ou símbolos braile”.
“... correspondendo aos 10 sinais da primeira linha, localizados na parte inferior da cela braile: pontos 2-3-5-6”.
“... uma vez que a tabela Taylor, adotada desde a década de 40, não vinha atendendo satisfatoriamente à transcrição em braile, sobretudo após a introdução dos símbolos da Matemática Moderna”.
“A produção braile. O aparelho de escrita usado por Louis Braille consistia de uma prancha, uma régua com 2 linhas, com janelas correspondentes às celas braile que se encaixam pelas extremidades laterais na prancha, e o punção. (...) A placa superior funciona como a primitiva régua e possui as janelas correspondentes às celas braile”.
“Além da reglete, o braile pode ser produzido através de máquinas especiais de datilografia, de 7 teclas”.
“O braile é produzido da esquerda para a direita, podendo ser lido sem a retirada do papel da máquina”.
“As imprensas braile produzem seus livros através de máquinas estereotípicas”.
“Essas máquinas permitem a escrita do braile em matrizes de metal. Essa escrita é feita dos dois lados da matriz, permitindo a impressão do braile nas duas faces do papel. Esse é o braile interpontado”.
“Novos recursos para a produção braile têm sido empregados, de acordo com os avanços tecnológicos de nossa era. O braile, agora, pode ser produzido pela automatização de recursos modernos dos computadores e de uma variedade de modelos de impressora”.
“O braile por extenso é denominado grau 1”.
“... na transcrição de quaisquer obras pelos centros de produção e imprensas braile do Brasil”.
“Os símbolos fundamentais do braile (...) foram, também, apresentados pelo próprio Louis Braille”.
“... visto que o manuseio dos recursos materiais específicos para a escrita braile, reglete, punção e/ou máquina Perkins, exigirão destreza, harmonia e sincronização de movimentos”.
“Com o uso dos dedos é que o aluno escreverá e fará o reconhecimento dos símbolos braile”.
“Leitura em braile”.
“... a fim de que ele entre em contato com os pontos do código braile”.
“Para dominar o sistema de leitura e escrita braile, é necessário que o aluno tenha bom desempenho...”.
“A leitura braile. (...) É a simplicidade do braile que permite essa velocidade de leitura”.
“O tato é um fator decisivo na capacidade de utilização do braile”.
“A leitura tátil e a escrita dos símbolos braile devem ser processadas concomitantemente”.
“Com a maior disponibilidade de material em braile, o conhecimento das limitações da modalidade tátil...”.
“Antes mesmo de definir qualquer metodologia para a aprendizagem da leitura e da escrita braile, deve-se tecer algumas considerações...”.
“Nessa perspectiva, podem também ser oferecidas cartelas com o símbolo braile”.
“Quais instrumentos permitem a redação em braile?”.
“O que se recomenda para a postura do aluno cego quando este escreve em braile?”.
Referência bibliográfica: SASSAKI, R. K. Qual a grafia correta: Braille, Braille ou braile? In: CURSO DE TERMINOLOGIA SOBRE DEFICIÊNCIA, 15 ago., 2008, Praia Grande: Prefeitura Municipal, Seduc, 2008.
Referências bibliográficas
DUTRA, Claudia Pereira. Parecer sobre a grafia da palavra “braille”. Benjamin Constant, Rio de Janeiro, ano 11, nº 31, agosto 2005, p. 27.
IBC. Fundação Dorina Nowill para Cegos lança a obra “Cartas de Louis Braille”. Benjamin Constant, ano 11, n. 30, abril 2005.
___. Regulamento do Instituto Benjamin Constant. Benjamin Constant, edição comemorativa de 150 anos do Instituto Benjamin Constant, set. 2004.
MARTINS, Eduardo. Manual de redação e estilo. São Paulo: O Estado de S.Paulo, 1990.
MARTINS, Maria Cristina Loiola. Vendo filmes com o coração: o projeto vídeo-narrado. Benjamin Constant, ano 8, n. 22, agosto 2002.
MEC. Dificuldades de comunicação e sinalização: deficiência visual, da coleção Saberes e Práticas da Inclusão, nível Educação Infantil, da Secretaria de Educação Especial (Brasília: MEC, 2004.
___. Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais de alunos cegos e de alunos com baixa visão, da coleção Saberes e Práticas da Inclusão, da Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC, 2003.
MICHAELIS. Moderno Dicionário Inglês-Português, Português-Inglês. São Paulo: Melhoramentos, 2000.
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