Eu e a Poesia na Sala de Aula - 06/07/2010
Paulo Castro
Num tempo de menino, na época de colégio em que dei meus primeiros contatos com a escrita de maneira literária, fui envolvido pelo professor e, que eu me lembre, chamava-se Artur.
Sua aula magnífica de brilhar os olhos de quem ouve do começo ao fim, sua literatura e poesia fantástica.
Encantei-me com os textos literários e as histórias fictícias que há no meio literário e seus respectivos autores clássicos e neoclássicos, estrangeiros ou nacionais, que ele citou na sala de aula.
Mas o que realmente me conquistou e ficou nas minhas lembranças que meus olhos arregalados de contentamento captaram, estando eu todo surpreso, sem piscar e com os ouvidos bem abertos, são as poesias do meu brilhante professor que, com pulmões bravios, as declamou.
Posso relembrar, neste exato momento, um livro com o título “O Livro Perdido”, contendo várias poesias concretas e não concretas, com diversos gêneros que apreendiam as minhas estonteantes palavras, os quais penetraram intensamente como flecha atirada, rasgando o tecido do meu corpo, sentindo de maneira contrária da dor, as palavras me confortando de uma ternura nunca sentida antes.
Naquele instante nem ao menos refleti, só depois ao chegar a minha casa pude profundamente refletir alegremente em meu coração as poesias encantadoras, as quais me mostraram o caminho luminoso.
Coloco-me a questionar a forma deslumbrante como soou as palavras de sua boca unindo-se e compondo narrativas poéticas. “Fantástico!”, eu dizia a mim mesmo.
E, entre algumas delas, há uma frase que me marcou muito, que dizia “Poesia é a linguagem de um estado de crise”, do poeta francês Stephane Mallarmé, a qual fixou tão bem na mente, que de entender o diferente é estar fora do contexto social do sistema, pronto a entrar numa atmosfera luminada de campos não descobertos, registrando na memória as lembranças que não voltam mais.
Não
tive outra maneira a não ser aceitar de bom grado,
absorvendo uma a uma, degustando e saboreando o gosto da literatura
poética que, depois, acalentou muito bem os meus
ânimos.
Como é tentador debruçar nas folhas em branco e
correr com a ponta da caneta, escrevendo versos, poesias e criando
literatura intimista e peculiar.
Tentei várias vezes na frente das folhas em branco e pude perceber que naquele acontecimento que não aconteceu há apenas a sensação triste e decepcionante. Relembrei a imagem do professor na sala de aula, ele tinha muito mais do que ensinar a poesia, existia nele uma cumplicidade íntima de quem escreve e da intuição de quem a transmite.
É uma metafísica, jamais percebida pelos sentidos do homem, e sim, um transcender dos sentidos indo no fluir das próprias intuições.
Eu e a poesia na sala de aula, um contato único e verdadeiro, no qual dá início a tudo para quem quer ser um grande e inesquecível literato.
Paulo Castro - Escritor de livro infantil.
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.