Os frutos e a tão sonhada felicidade - 09/06/2010
Uma reflexão sobre ser feliz
Se pararmos um pouco para pensar em algumas questões da nossa vida, perceberemos que muitas são as pessoas que querem que alguma coisa em suas realidades fosse diferente do que é hoje, agora.
A insatisfação tem tomado conta de muitas pessoas, enquanto que o pessimismo tem sido, infelizmente, uma constante na vida de milhões de vidas que se rendem diante de algo que não as agradam e, por isso, passam longos momentos a reclamar e a questionar o porquê de sua realidade não ser diferente do que é e, desacreditadas na verdade que diz que toda realidade é modificável, deixam de lutar efetivamente por uma mudança de horizontes.
Tais insatisfações são a causa de muitos transtornos e conflitos pessoais e sociais e as impedem de conseguir identificar o bom sabor de simplesmente viver. Viver é uma dádiva, é um presente que tem valor inestimável. Enquanto vivemos, temos a chance de ser felizes e fazer alguém feliz, pois a vida é muito melhor quando a ela somamos uma boa dose de felicidade.
Mas como alcançar a felicidade se a realidade parece não dá base para tal vivência? A felicidade pode ser sentida mesmo em meio a dificuldades, ela é um estado de espírito que não depende de circunstâncias externas e, acredite, sim internas.
Entre muitas outras possibilidades de interpretação, pode-se dizer que a felicidade está estreitamente ligada ao sermos frutíferos, ou seja, certamente seremos muito felizes se tivermos a capacidade de, não obstante às nossas muitas insatisfações, darmos frutos bons àqueles que estão próximos ou não de nós. Acha isso estranho?
Talvez seja porque hoje em dia a felicidade está mais atrelada aos sucessos e às realizações egoístas, em que só é interessante a felicidade do “eu” e de ninguém mais. Ora, se mudarmos a nossa perspectiva sobre esta palavra cujo significado real e concreto é buscado por muitos, certamente encontraremos menos conflitos em nossa caminhada.
É interessante pensarmos que dar bons frutos é fator indispensável para a concretização da felicidade. Ninguém é ou será feliz se insistir em querer que todos os seus desejos sejam plenamente satisfeitos como se o mundo girasse em torno de si próprio.
Sozinhas e incapazes de reproduzir algo de bom para outros, muitas são as pessoas que estão em busca da felicidade, mas desta forma, infelizmente não a encontrarão. Somos seres sociáveis, não dá para aplaudirmos a solidão. É claro que estar sozinho não significa ser solitário, não, definitivamente não.
Desta forma, se desperdiçarmos a nossa vida reclamando do que não está do nosso jeito, passaremos por ela sem nunca termos sido felizes de verdade. O ato de reclamar anula o sabor que há no fato de estarmos vivos e, nesta condição, frutificarmos tal como uma árvore grande e forte.
Contudo, não podemos nos iludir, pois também é verdade que nos dias atuais ninguém tem mais tempo para admirar a beleza de uma grande árvore, ninguém tem mais tempo para olhar para o céu e elogiar a beleza da lua, ninguém tem mais tempo para dedicar-se àquilo que realmente interessa, ou seja, um viver repleto de felicidade, em que um é feliz contribuindo para a real felicidade do outro.
Como tudo o que é realmente bom, a felicidade precisa de dedicação. Não dá para pensarmos que um belo dia ela chegará e baterá em nossa porta se oferecendo para nós. Não, não é assim. Normalmente, facilidade nada tem a ver com felicidade, pois ninguém dá muito valor àquilo que se consegue sem dedicação e trabalho.
A conquista da felicidade requer trabalho e, muitas das vezes, este trabalho é o exercício que fazemos conosco mesmo, de maneira a nos corrigir de equívocos que machucam e afastam pessoas de nós e, consequentemente, acabam por levar para bem longe a tão desejada felicidade, fazendo que os frutos que produzimos não sejam bons ao paladar daqueles que estão, de alguma forma, envolvidos conosco.
Neste ponto podemos fazer uma ponte e pensarmos no relacionamento entre pais, professores e alunos, pois muitas vezes as diferenças entre um e outro dificultam a convivência no dia a dia e secam quaisquer possibilidades de saciar verdadeiramente a fome e a sede entre eles. Não é difícil vermos pais, alunos e professores reclamando uns dos outros como se tais queixas fossem capazes de melhorar alguma coisa.
Se pararmos de reclamar e começarmos a fazer o exercício de, pelo menos, tentarmos entender o ponto de vista de cada um, veremos que cada pessoa tem algo a contribuir conosco, de maneira que as raízes de nossas árvores sejam fortificadas dia a dia.
Isto tudo não é uma receita para ser feliz, pois simplesmente não se pode prescrever algo tão substrato como o é o próprio ato de ser feliz, mas são palavras que podem ser adequadas ao nosso dia a dia, tornando-os melhores e ampliando nosso campo de visão para entender a pessoa do nosso lado como peça fundamental para nossa construção.
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