Não existe educação inclusiva - 24/03/2010
Fábio Adiron
Questionado sobre a existência de algum bom curso de especialização em educação inclusiva fui obrigado a responder ao meu interlocutor que não conhecia nenhum, mesmo porque eu não acreditava na existência de nenhum curso sobre esse assunto.
Diante da surpresa da pessoa a essa minha afirmação, expliquei que o mercado está cheio de cursos que se batizaram com esse título, mas nenhum deles é um curso de educação inclusiva, são cursos para a integração de pessoas com deficiência na escola regular. Não estão preocupados em como tornar a escola um local de qualidade para todos, mas apenas e tão somente querendo preparar pessoas para receber alunos com deficiência.
E se estamos falando de inserção de um grupo específico de pessoas, isso não é inclusão.
Também não se trata de inclusão quando esses cursos focam parte do seu currículo nas características fisiológicas das deficiências. Como se para um professor fizesse alguma diferença saber se a cegueira do seu aluno foi provocada por glaucoma, diabetes ou por algum acidente.
E, mesmo se fizesse, nem por isso duas pessoas cegas pelas mesmas causas poderiam ser educadas da mesma forma. As pessoas com deficiência não são pacotes homogêneos de acordo a deficiência que possuem.
O modelo deficitário ressaltado nesses cursos leva as pessoas que o fazem a acreditar que especialistas médicos vão resolver o problema da educação. Isso apenas reforça a ideia de que é o aluno com deficiência é que precisa se preparar para ser aceito na escola. Se fosse inclusão, estariam discutindo o que a escola precisa fazer para atender todos os alunos.
Nenhum desses cursos deixa de falar em legislação, pena que sejam apenas os artigos das leis que garantem a educação para as pessoas com deficiência, deveriam estar lendo a LDB inteira e não só um pedaço. Aí sim descobririam que avaliação é algo decidido pela escola e que ninguém é obrigado a dar prova em 50 minutos e notas de 0 a 10.
Um curso que ensine seus alunos a respeito de como educar todas as crianças. Um curso que ensine a explorar o potencial de cada uma. Um curso que fale de escolas que atendam com qualidade todo mundo. Um curso que ensine as leis e diretrizes da educação do país. Isso sim seria um curso inclusivo.
Para não deixar a pessoa que me questionava na mão, fui ver se descobria algum curso com esse perfil. E descobri. Atende pelo nome de pedagogia.
Educação inclusiva não é uma modalidade de ensino é a própria educação. Não é uma especialidade, se for, deixa de ser inclusiva.
Precisamos de escolas que preparem os professores a ser educadores de todos? Claro que sim. As nossas faculdades de pedagogia hoje preparam seus alunos para ser educadores dos alunos "médios", uma aberração estatística inexistente na vida real. Precisamos de pedagogos que estejam preparados para educar pessoas. Todas as pessoas.
Quando a formação dos professores for inclusiva, ninguém vai precisar correr atrás de pseudoespecializações.
O que todos nós precisamos mesmo é de boa educação.
1 Andréa de Souza - Lages SC
Concordo com seu texto, temos que desconstruir, construir conceitos, paradigmas. A formação inicial e continuada ainda não tem dado conta disso. Os estudantes e famílias, professores estão sendo vítimas desse processo...
24/11/2010 10:49:19
2 Walquiria - são paulo
Seu artigo é excelente! Sou aluna de Pedagogia e tenho como matéria Educação Inclusiva. Estamos vendo tudo isso e a intenção do curso é realmente formar bons Pedagogos que saibam , exatamente, ensinar para todos.
02/04/2010 23:40:53
3 Cláudia - Guaratinguetá
Concordo com você. Inclusão é atender a todos e a cada um individualmente, pois todos são especiais.
O que acredito ser necessário é que o professor, mesmo não sendo especialista, entenda um pouco de todas as dificuldades e saiba lidar com elas, pois, por exemplo, não dá para alfabetizar se não se conhece o processo de aquisição da leitura e da escrita.
29/03/2010 11:02:46
4 Josefa Aparecida Neri Guido - Indaiatuba
Excelente o artigo! Pois me fêz refletir quando iniciei o processo de inclusão em 1991 em nossa escola, naquela época já tinha a preocupação de atender todas as crianças, não me detendo às deficiências, mas sim as competências. Atualmente posso afirmar que nosso Instituto é uma escola que atua com a diversidade da maneira mais natural estimulante possível. Todos aprendem de todos.
26/03/2010 19:44:52
5 Marlene Oliveira Buoro - Cubatão
Excelente o artigo. Sou formada em educação especial e dou aula em sala comum, sempre achei que o curso que fiz foi um excelente curso, mas me preparou para trabalhar com todos os alunos e não apenas com os inclusos!
26/03/2010 08:41:58
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