A Semana - Opiniões
Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

Antes de toda plantação, a terra precisa ser trabalhada - 12/03/2010
A famosa lei da semeadura

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Uma das grandes causas de tantas insatisfações hoje em dia é, sem dúvidas, o fato de querermos colher onde nunca plantamos.

Não dá, é a famosa lei da semeadura, precisa plantar para depois ter o que colher. Há que se considerar que para haver plantação, a terra precisa ser trabalhada, o que, num mundo imediatista como o nosso, faz com que muitas pessoas tenham dificuldades para compreender esta verdade.

São muitas as vezes que os nossos alunos e filhos, por exemplo, quando querem receber algum presente ou alguma permissão, melhoram significativamente o seu comportamento. Começam a nos tratar com mais gentileza, diminuem o número de palavras grosseiras que costumam falar, levantam cedo para ir estudar sem as habituais reclamações...

Nós, como pais e professores, sabemos bem o que é isso. Normalmente diminuímos as possíveis expectativas deles com frases do tipo “não vem, não, que eu até posso imaginar o que você está querendo, agindo assim” ou “o que será que você está aprontando desta vez?”.

Neste processo corremos muitos riscos, pois é perfeitamente aceitável nós almejarmos que nossos alunos e filhos vão bem em tudo o que fazem. O que passa a não ser aceitável é estabelecermos um relacionamento com eles apenas baseado na troca. Coisas do tipo “se arrumar o seu quarto hoje, você terá permissão para sair à noite” ou “dependendo da forma como se comportar hoje, verei como posso melhorar a sua nota da prova”.

Nós bem sabemos que uma permissão para sair à noite requer uma análise muito mais criteriosa do que apenas a verificação se o quarto do jovem está ou não arrumado. E, no que se refere à avaliação escrita, o professor precisa considerar que é apenas o conhecimento do aluno na sua disciplina que deve ser levado em conta nesta modalidade avaliativa, ou seja, a prova escrita não pode sofrer influência do mau ou bom comportamento do aluno.

Desta forma, há que se ponderar que jamais poderemos agir de uma forma que só pense no hoje, no agora, pois em todos os setores da nossa vida precisaremos preparar a terra para a semeadura.

O jovem não pode pensar que resolverá todos os seus problemas, apenas agindo de forma positiva hoje. É claro que o hoje refletirá no amanhã e, se realmente os nossos alunos e filhos desejarem uma mudança positiva de atitude, é nosso dever auxiliá-los neste processo, apenas lembrando que a muralha construída durante tantos anos precisará de mais algum tempo para ser demolida.

O jovem precisa saber que algumas atitudes, indiferenças e agressividade constroem muralhas entre eles e as pessoas que são vítimas de atitudes assim.

De qualquer forma, existe o outro lado que também precisa ser levado em consideração, que é o fato de que toda muralha, do mesmo jeito que serve como separação, serve também como proteção. Esta proteção nem sempre é positiva. Às vezes construímos muralhas para não sofrermos mais com as palavras e determinadas atitudes do outro, contudo, o outro também é um ser humano que possui uma rica virtude indispensável a todos nós, ou seja, a virtude da mudança, do querer corrigir-se do erro, do engano e da injustiça.

Desta maneira, vamos pensar em maneiras de melhorarmos nossas intervenções em relação aos nossos filhos e alunos. Vamos dar a chance de eles se corrigirem de pensamentos que os conduzem a tantos erros. Vamos buscar fazer um novo modelo de muralha da proteção, que não se baseie mais em proteção contra a agressividade do outro, mas uma muralha que tenha abertura para trazer o outro para atrás dela junto a nós mesmos, de forma que o outro também esteja protegido do desamor e da indiferença.

Quem sabe desta maneira nossos alunos e filhos conheçam e se permitem envolver com os encantos da proteção e do cuidado, quem sabe dessa maneira eles comecem a trabalhar a terra para dar início a um ano de plantação e, em algum tempo, também de colheita de frutos que sejam bons no paladar e no coração.

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1 COMENTÁRIOS

1 Eneida Soares Costa Melo. - Piumhi / Minas Gerais.
Lendo este texto, me lembrei da Cora Coralina, que assim escreveu: “Todos estamos matriculados na escola da vida onde o mestre é o tempo, e o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”. Cora Coralina
14/03/2010 10:15:15


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