Cinema na Educação
Leonardo Campos Cerqueira Formado em Letras, na Universidade Federal da Bahia. Pesquisador nesta mesma instituição, atuando na área de cinema, cultura, literatura e mídia.

Um Sonho Possível - 09/03/2010
Leonardo Campos

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Baseado em fatos reais, Um Sonho Possível, produção norte-americana dirigida por John Lee Hancock, é um ótimo filme para dar continuidade aos temas dentro do contexto Mídia e sociedade debatidos no site que, geralmente, envolvem preconceito racial, educação, violência doméstica e outros que caminham nesta linha tênue.

Um Sonho Possível faz um diálogo interessante com outros escritos nossos, além de trazer um enredo tecido com bastante seriedade, envolvendo temas profundos como etnicidade, educação e literatura.

Como vestibulando, você vai perceber ao longo do filme (se já tiver assistido) que não está diante de uma trama perfeita: 

Um Sonho Possível tem os seus momentos enfadonhos e desnecessários, mas como já dito em outros ensaios, o papel do crítico é justamente esse. 

Debater-se com a obra e analisá-la de uma ponta a outra, selecionando o que se pode retirar de bom e, consequentemente, encontrando as suas falhas, mostrando distanciamento necessário para assim, sentir-se preparado para realização de uma prova de vestibular com a segurança necessária.

O filme começa com Leigh Anne Touhy (Sandra Bullock, ótima no papel) narrando algumas regras do jogo de futebol americano. 

Na tv, há cenas do esporte. Sabemos, então, que Michael Oher (Quinton Aaron) é um adolescente negro, que não tem onde morar. 

Ele recebe a ajuda de Leigh Anne ao encontrá-lo na rua, em plena noite de intenso frio. Michael passa a receber o apoio dos Tuohy, que o trata como se fosse um dos integrantes da família. 

A partir deste momento, o garoto passa a ser incentivado a alcançar seus sonhos, especialmente quando demonstra ter talento para o futebol americano. 

Um Sonho Possível é um filme que enaltece a “bondade cristã”, a ascensão social através do esporte e que trata os problemas sociais com delicadeza – maquiando a realidade, o que no cinema da retomada brasileiro, chamaríamos de Cosmética da fome.

Lançado pela ensaísta Ivana Bentes, a “cosmética da fome” é uma expressão que representa a fome e a miséria, dentro do panorama do cinema da Retomada, período de novo fôlego das produções nacionais, que estavam em plena decadência no início dos anos 90. 

Segundo ela, a fome apresentada na “estética da fome” de Glauber Rocha no Cinema novo foi remodelada no cinema da Retomada, que a apresenta de forma lírica, cheia de colorido e maquiagem, como em Deus é brasileiro e Eu, Tu, Eles. 

Um Sonho Possível consegue fazer algo de efeito similar: até nos momentos de pura miséria, a trama se apresenta de forma lírica, seja por sua trilha sonora ou pelos planos escolhidos, principalmente nas cenas apresentadas pela atriz Sandra Bullock, numa surpreendente atuação, talvez a melhor da sua carreira, representadas de forma profunda, seja pelo olhar ou por sua performance maternal.

Algumas pessoas (uma minoria, na verdade) criticaram o filme por mostrar o esporte como uma forma de ascensão social. 

Mas não foi isso que pérolas nacionais brilhantes como Linha de Passe, dirigido por Walter Salles, também apresentaram? 

Ainda neste encalço, alguns alegaram a bandeira dos Estados Unidos, que aparece em alguns momentos-chave do filme como um problema. 

Vale ressaltar que estamos diante de uma produção americana, que traz alguns temas ditos universais, mas que no frigir dos ovos, vai realmente pender para o lado “nacional” da questão: se fosse no Brasil, a coisa não seria diferente.

Nossa belíssima bandeira verde, amarela, azul e branca estaria lá, no ar, pomposa. 

É preciso estar bastante atento a esse sentimento de pertença para, assim, mostrar-se crítico diante de uma prova de vestibular, ou mais, num bate-papo culto entre amigos. 

Sabe-se que o imperialismo norte-americano irrita muita gente, portanto, é preciso separar bastante as coisas e analisar determinadas questões com distanciamento. Isso é ser um ser “crítico”.

Para ler o artigo completo, clique no link abaixo:
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