Universo Escolar
Marcelo Luis dos Santos Antonio Diretor de Escola, Biólogo, Especialista em Gestão Escolar pela UNICAMP.

A Educação e a inversão de valores - 08/03/2010
Marcelo Luís

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Foi-se o tempo em que a escola apenas cuidava dos saberes acadêmicos... Foi-se o tempo que a maior preocupação de todo educador era se o seu aluno estava aprendendo... Foi-se o tempo que cada segmento da sociedade dava conta (ou pelo menos tentava) de suas responsabilidades.... Foi-se o tempo...

Hoje, essas responsabilidades foram delegadas unilateralmente à instituição escolar. A princípio, essas competências delegadas estavam alicerçadas na competência histórica da escola que, de um modo ou de outro, sempre dava conta de seu papel dentro da sociedade, por vezes um tanto distorcido pelas políticas temporais e, por vezes, acertado pelas ações de nossos educadores. Mas com o tempo isso passou a ser um processo “osmótico”, algo como “passa a bola para escola que ela resolve”.

Hoje a escola, além de seu papel educacional (gerenciadora da construção do conhecimento do aluno), abraçou o social, o judicial, o psicológico, o terapêutico-familiar, não mais como uma parceira dos vários segmentos da sociedade, mas sim, atuando em seu lugar, muitas vezes.

Todas as mazelas sociais, frutos das políticas hipócritas e desastrosas (em todas as áreas), têm na escola o fármaco ideal. A escola se tornou a porta de entrada de um número incontável de programas sociais (como o bolsa família) e passou a ser a “tutora” de menores que cometeram atos infracionais e que estão cumprindo medidas socioeducativas.

Sob o enfoque das benesses sociais, a escola não pode se tornar prisioneira de uma política assistencialista, que não enxerga a escola como um processo, mas sim e simplesmente, como um meio. O simples fato de associar a matrícula e a frequência escolar como o “start” ao programa social banaliza a importância educacional da escola, pois um grande número de famílias que são beneficiadas pela “bolsa família” só procuram a escola quando ocorre um problema no recebimento do benefício. Não há, em momento algum, um direcionamento pedagógico, um mecanismo de construção da consciência cidadã.

Já na questão de “tutora” de menores infratores, a escola transita entre o utópico e o real. O utópico, pelo fato de se pensar que os órgãos das áreas competentes (área judicial, social e médica) irão dar suporte à escola para gerenciar os efeitos dessa inclusão no cotidiano escolar, pois a realidade tem mostrado que os segmentos da sociedade que deveriam dar suporte à ação educativa da escola, simplesmente lavam as mãos e se esquecem da “parceria”, daquilo que lhes compete. O real, pois a escola está sozinha nessa caminhada. O que se observa é a ingerência desses “órgãos competentes” no cotidiano escolar é de transferir as suas responsabilidades aos gestores escolares.

Se todos os segmentos da sociedade, incluindo-se aqui os Poderes Públicos e Privados, dessem conta de suas responsabilidades sem delegar, muitas vezes sem a querência da instituição escolar, ela (Escola) poderia concentrar todas as suas ações, entre elas as Parcerias, nas questões estritamente pedagógicas e, naturalmente, sem que fosse algo imposto pelas inversões de valores ocasionados pelo fluxo social esmagador. A escola poderia, de fato, ser uma grande parceira nas ações sociais e preventivas.

Quando será que a Educação no Brasil deixará de ser apenas plataforma de campanhas políticas hipócritas?

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5 COMENTÁRIOS

1 Leda Carla Porto e Lins - Belo Horizonte/MG
Aprecio muito os artigos publicados neste portal. O artigo A Educação e a invresão de valores é de uma clareza impar, retratando de maneira objetiva o caos politico de nossa educação. Utilizei o artigo como assunto gerador do trabalho bimestral dos meus alunos do curso de Gestão Educacional. Também apreciei muito os outros dois artigos do Profº Marcelo e vou utilizálos em minhas aulas. Seria muito interessante devido a riqueza de seus textos se o Profº Marcelo escrevesse regularmente, por meio de uma coluna semanal. Com certeza ele tem m uitas verdades para nos contar.
28/04/2010 21:48:12


2 Elizabeth Franco Cobo - São Vicente
Quantas verdades estão contidas neste texto! Que clareza de visão. Pena que pessoas como o autor do texto não sejam consultadas quando da implementação de novas políticas educacionais deste país. Parabéns ao autor.
12/03/2010 12:58:15


3 Manuel T. Sousa - São Paulo
Excelente artigo. Também trabalho em Educação e é exatamente isso o que foi retratado. A escola se transformou em um meio de acesso e nada mais. Triste, vergonhoso... isto é Brasil. Parabéns Profº Marcelo
11/03/2010 23:25:44


4 Lauriana Rodrigues Malta - São Paulo
Um texto inteligente, que mostra como a nossa Educação está. A escola se transformou num cabide de programas sociais. Quero ler mais texto desse autor, parece ser um profissional que conhece muito bem a realidade de nossas escolas. Parabéns.
08/03/2010 23:00:01


5 Ricardo S. Werbeck - Curitiba
Muito bem redigido o texto. Claro, objetivo.
08/03/2010 14:39:43


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