Aprender com as Diferenças
Emilio Figueira Jornalista, psicólogo, pós-graduado em Educação Inclusiva e doutorado em Psicanálise. Autor de mais de quarenta artigos científicos nesta área e de vinte livros, dentre os quais destaca-se “Caminhando em Silêncio – Uma introdução à trajetória da pessoa com deficiência na história do Brasil”.

Prevenções e Intervenções do Psicólogo Junto às Pessoas com Deficiência - 17/02/2010
Psicologia e Deficiência – Professor Emílio Figueira

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Muito mais que as paredes de nossos consultórios, tantos outros horizontes abrem-se para o psicólogo, ampliando nosso campo de atuação, lançando-nos às novas possibilidades.

Uma vez que a principal meta da Psicologia é promover a saúde mental da população em geral, a prevenção deve ser uma área cada vez mais valorizada. 

As normas sobre Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência, das Nações Unidas (ONU), adotadas por sua Assembleia Geral em 20 de dezembro de 1993 (resolução 48/49) diz:

“A palavra prevenção significa ação destinada a impedir a ocorrência de impedimentos físicos, intelectuais, psiquiátricos ou sensoriais (prevenção primária) ou a evitar que os impedimentos causem uma deficiência ou limitação funcional permanente (prevenção secundária). A prevenção pode incluir muitos tipos diferentes de ação, tais como atenção primária de saúde, atenção pré-natal e pós-natal, educação em nutrição, campanhas de imunização contra doenças transmissíveis, medidas para controlar doenças endêmicas, regulamentações de segurança, programas para prevenção de acidentes em diversos ambientes, incluindo adaptações de locais de trabalho para evitar deficiências e doenças ocupacionais, bem como prevenção de deficiência resultante de poluição ambiental ou conflito armado”.

Quando se trata especificamente sobre prevenções, ou seja, quando o assunto é “prevenções às deficiências”, estas se darão em três níveis:

- Prevenção primária – De conceito social, visa a diminuição de novos casos, com medidas saneadoras dirigidas à população como um todo, incluindo “fatores do meio” e “fatores dos hospedeiros”. 

Utilizando-se de profissionais de várias áreas, publicitários e equipes de saúde, a prevenção primária foca a deficiência em seu primeiro aspecto, ministra ações como vacinação, saneamento básico, assistência materno-infantil, políticas de segurança no trabalho, consciência e eliminação de acidentes de transito etc.

- Prevenção secundária – Programas e procedimentos visando reduzir a taxa de prevalência na população em risco, diminuição das consequências de distúrbios ou doenças já instalados. Aqui, profissionais mais ligados às áreas de saúde e da educação atuam em gravidez de risco, diagnóstico precoce, estimulação, rápido encaminhamento às equipes e serviços necessários para a diminuição das consequências da deficiência.

- Prevenção terciária – Enfaticamente, esforços minimizam os efeitos, otimizam os potenciais residuais após a já instalação da deficiência ou do distúrbio. 

Visa diminuir a desvantagem originada da deficiência/incapacidade, minimizar todos os seus efeitos de desvantagens, visando a reestruturação psicossocial do indivíduo, por meio do processo individual de Reabilitação.

No campo das prevenções, nós, enquanto psicólogos, poderemos atuar de quatro formas:

- Na pesquisa.
- Na divulgação de informações e campanhas públicas.
- Na formação e treinamento de mão de obra especializada.
-Na reabilitação propriamente dita (que vou detalhar em outro artigo).

a) Pesquisa

As pesquisas são fundamentais nas questões referentes às pessoas com deficiência. 

Segundo o Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiências – PAM (1992), parágrafo 184, "visto que pouco se sabe a respeito do lugar que cabe às pessoas portadoras de deficiência nas diferentes culturas, fato esse que, por sua vez, determina certas atitudes e normas de conduta, é necessário iniciar estudos sobre os aspectos socioculturais vinculados às deficiências. 

Isso permitirá compreender melhor as relações entre as pessoas com deficiência e as sem deficiência, nas diversas culturas (...)".

Do mesmo documento podemos destacar o parágrafo 186: 

“É de particular importância que se pesquisem as questões sociais, econômicas e de participação que repercutem na vida das pessoas com deficiência e suas famílias, bem como a forma pela qual a sociedade trata os referidos assuntos. Podem-se obter dados por meio de institutos nacionais de estatísticas e de censos. Não obstante, deve-se ter em mente que é mais provável que se obtenha resultados úteis mediante um programa de pesquisa por domicílio, destinado a coletar informações sobre as questões referentes à deficiência, do que mediante um censo geral da população”.

b) Na divulgação de informações e campanhas públicas

Dados obtidos com pesquisas podem ser úteis para estruturações de campanhas públicas, as quais devem sempre apresentar uma imagem real das pessoas com deficiência, mais aproximada possível da realidade social, conforme sugere o parágrafo 27 do PAM: 

“Das pessoas com deficiência, deve-se esperar que desempenhem o seu papel na sociedade e cumpram as suas obrigações como adultos. A imagem delas depende de atitudes sociais baseadas em diversos fatores, que podem constituir a maior barreira para a participação e a igualdade. É costume ver a deficiência como a bengala branca, as muletas, os aparelhos auditivos e as cadeiras de rodas, sem se ver a pessoa. É necessário focalizar a capacidade da pessoa com deficiência, não as suas limitações”.

Caberá a nós e à equipe na qual estivermos inseridos, a missão de preparar e divulgar informações de diferentes formas (palestras, cursos, escrevendo artigos etc.), com o objetivo de prevenir novos casos de aquisição de deficiências. Podemos ser agentes multiplicadores de informações que visam melhorar a situação das pessoas com deficiência. 

Estimular para que todos os meios de informação pública cooperem, apresentando essas questões ao público e aos próprios interessados, de forma que se fomente a compreensão das necessidades das pessoas com deficiência, combatendo assim os estereótipos e preconceitos tradicionais.

Quando possível, dar voz às pessoas com deficiência, isso constitui o grande desafio dos últimos anos. Só de algum tempo prá cá, é que elas passaram a ser ouvidas, dizendo o que é melhor para si mesmas e suas reabilitações. Então, ao iniciarmos um trabalho voltado ao campo da comunicação social, já devemos atentar para esse cuidado. 

"Deve-se proporcionar às pessoas com deficiência e às suas entidades igualdade de acesso, utilização, recursos suficientes e treinamento no que se refere à informação pública, a fim de que possam expressar-se livremente, valendo-se dos meios de informação e comunicar as suas opiniões e experiência ao público em geral" (PAM, parágrafo 154). 

Recomendamos a todos os envolvidos nesta área – pessoas com deficiência ou não -, que conheçam o PAM em sua íntegra, tendo como principais metas a prevenção, reabilitação e igualdade de oportunidades.

c) Na formação e treinamento de mão de obra especializada

Nós, enquanto profissionais que também atuamos em recursos humanos e treinamentos, podemos somar forças na formação de mão de obra de equipes médicas e centros de orientação, que sejam responsáveis pelo desenvolvimento e pela prestação de serviços destinados às pessoas com deficiência, tais como:

Detecção precoce de deficiências. Prestação de cuidados básicos. O encaminhamento a serviços apropriados. Medidas de acompanhamento.

E aspectos integrados em serviços correlatos:

- Cuidados básicos de saúde.
- Escolas e os programas de desenvolvimento comunitário.
- Funcionários dos serviços sanitários e sociais nas comunidades.
- Atividades relacionadas com a prevenção e os serviços para as pessoas com deficiência.

Ministrar em comunidades, distritos e nas mais diferentes localidades e dar a esses funcionários a orientação e a instrução especiais, por exemplo, sobre medidas e técnicas básicas de reabilitação para uso das pessoas com deficiência e suas famílias. Treinamento especial para os profissionais de nível médio que terá a responsabilidade de supervisionar os programas locais, bem como a de manter contato com os serviços de reabilitação e de outro tipo disponíveis na sua região.

Nesse trabalho, formaremos trabalhadores comunitários com conhecimentos teóricos e práticos especializados, informação pormenorizada sobre as necessidades sociais, nutricionais, médicas, de educação e de formação profissional das pessoas com deficiência que poderão prestar a maioria desses serviços num valioso auxílio para a solução dos problemas de falta de pessoal. 

O seu treinamento deve incluir informação apropriada sobre tecnologia de contraceptivos e planejamento familiar. Os trabalhadores voluntários podem prestar serviços de grande utilidade e de apoio sob outras formas.

Em contrapartida, devemos insistir mais em aumentar os conhecimentos, as capacidades e as responsabilidades daqueles que já prestam outros serviços na comunidade em esferas correlatas, como os encarregados do planejamento do ciclo básico, professores, assistentes sociais, auxiliares profissionais dos serviços sanitários, administradores, responsáveis pelo planejamento ao nível governamental, líderes comunitários, religiosos e assessores para questões familiares. 

Estimulá-los na compreensão das razões e a importância de se solicitar, estimular e favorecer a participação plena dessas pessoas e de suas famílias na adoção de decisões relativas aos cuidados, tratamento, reabilitação e disposições ulteriores quanto a condições de vida e de trabalho.

As ações preventivas devem ser fundamentadas no investimento em Saúde, Educação, Alimentação, Habitação, Trabalho e Lazer, como princípios básicos de exercício de cidadania.

Uma vez em que as deficiências atingem todas as camadas sociais, sendo seus efeitos e problemas mais frequentes e agravados junto a populações de baixa renda, populações desassistidas e marginalizadas ou populações sem condições mínimas de acesso à atenção primária de saúde e educação, torna-se necessário e urgente sua promoção no campo das deficiências, pressupondo um conhecimento de suas causas ou situações de risco capazes de gerar mais crianças ou pessoas com sequelas ou limitações.

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1 COMENTÁRIOS

1 alana - maceió
como citar este artigo para colocálo na referência bibliogr
28/11/2012 17:00:08


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