Universo Escolar
Cristina Almeida Rosa Zaragoza  Tecnóloga em Processamento de Dados e pós-graduada em Implantação e Administração de Sistemas Informatizados. Pedagoga atuando na área de Educação a Distância e projetos especializados pela Vitae Futurekids/Planeta Educação.

O Computador como Agente de Transformação na Educação - 04/02/2010
Aspecto Cultural e Histórico

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        “Os grandes educadores sempre souberam que aprender não é algo que você faz apenas na sala de aula ou sob a supervisão de professores. Hoje, é por vezes difícil para quem quer satisfazer sua curiosidade ou resolver suas dúvidas encontrar a informação apropriada. A estrada dará a todos nós acesso a informações aparentemente ilimitadas, a qualquer momento e em qualquer lugar que queiramos. É uma perspectiva animadora porque colocar essa tecnologia a serviço da educação resultará em benefícios para toda a sociedade”. (Gates, 1995, p.231)

Nestas sábias palavras proferidas por Bill Gates, há quinze anos, podemos compreender que o “hoje” a que ele referia-se, para a época se tornaria somente passado, entretanto é presente para nós. Satisfazer curiosidades, resolver dúvidas e encontrar informação apropriada já não é mais “tão difícil” quando temos acesso às diversas aplicações da informática e, como protagonista destas possibilidades referidas por ele, a Internet é o que ele denominava de “a estrada”.

A escola trabalha com as ferramentas que estão ao seu alcance, dentro de uma infraestrutura marcada por deficiências, inserida num mundo informatizado que dita as regras de uma sociedade capitalista, cujo processo evolutivo não consegue ser acompanhado pelo sistema escolar. É neste contexto que o computador surge como um grande aliado. Entretanto, parece tornar-se um imenso bicho-papão para os educadores, uma máquina da qual nossas crianças não têm medo e que a colocam num pedestal, ela é inovação, basta apertar os botões que as coisas acontecem e, mais interessante ainda, é se apertarmos o botão certo, enfim, nada acontece se nós não estivermos no seu comando.

Muito antes de o computador apontar como referência na esfera escolar, os processos escolares eram questionados, iniciando com os estudos de Piaget, nos quais a construção do conhecimento é objeto de estudo, culminando com a disseminação - até então dos estudiosos da pedagogia moderna - o construcionismo (teoria proposta por Seymour Papert, o aprendiz constrói alguma coisa, ou seja, é o aprendizado por meio do fazer, do "colocar a mão na massa"). Paralela à evolução da pedagogia, a informática também sofre grande evolução numa velocidade incrível, esta é a palavra-chave: “velocidade” - que caracteriza a tecnologia da informação, promovendo avanços no armazenamento e tratamento das informações.

Nos ambientes de aprendizagens, nos quais o educando constrói conhecimento, o computador torna-se fundamental quando nele ficam depositadas todas as informações necessárias para o desenvolvimento dos processos que envolvem o ensino aprendizagem. Assim, fica claro que o computador ocupa seu devido lugar de agente transformador da educação, mudando as estruturas em que o aluno deve ter habilidades procedimentais e atitudinais, pois quando está diante da informação fornecida, ele se vê diante de um quebra-cabeça e, neste momento, evidencia-se o fazer e o compreender, nos quais o professor tem papel fundamental de conduzir o educando à construção do conhecimento.

Hoje, o acesso à informação pode satisfazer curiosidades e dúvidas de natureza conceitual como era no passado (o que acabava concentrando no papel do professor o detentor de todas as informações e conhecimentos). Para encontrar a informação apropriada, segundo Bill Gates (1995), não haverá limites com o acesso à Internet, e afirmamos que mesmo sem ela, com a agilidade e capacidade de armazenamento dos computadores, uma enciclopédia digital, livros eletrônicos ou um banco de dados bem-organizado pelo usuário atento, será o suficiente para encontrar as peças do quebra-cabeça.

“[...] Mesmo que nós, humanos, costumemos reter apenas as imagens mais superficiais dos acontecimentos complexos. Assim, o computador e suas tecnologias associadas, sobretudo a internet, tornaram-se mecanismos prodigiosos que transformam o que tocam, ou quem os toca, e são capazes, inclusive, de fazer o que é impossível para seus criadores. Por exemplo, melhorar o ensino, motivar os alunos ou criar redes de colaboração. Daí vem a fascinação exercida por essas tecnologias sobre muitos educadores, que julgam encontrar nelas a nova pedra filosofal que permitirá transformar a escola atual.” (Sancho, 2006, p.17)

Uma década depois das colocações de Bill Gates, Sancho coloca as TIC’s como a pedra filosofal que permitirá transformar a escola, será que é somente filosofia? Nós cremos que não, cremos que ela pode ser um caminho, um instrumento de caráter estritamente evolutivo na sua essência. Partindo das conclusões de Sancho (2006, p. 16), as TIC´s têm caráter transformador:

1. Alteram a estrutura de interesses: as coisas em que pensamos.

2. Mudam o caráter dos símbolos: as coisas com as quais pensamos.

3. Modificam a natureza da comunidade: a área em que se desenvolve o pensamento.

Estas questões remetem-nos a várias teorias, como a de Vygotsky, reveladas nas palavras de Sancho (2006, p. 16):

“[...] As novas tecnologias da informação não apenas ampliaram consideravelmente este repertório de signos como também os sistemas de armazenamento, gestão e acesso a informação, impulsionando um desenvolvimento sem precedentes [...]”.

Diante destas conclusões de Sancho, podemos verificar que o computador é uma tecnologia que pode implicar diretamente o processo de ensino-aprendizagem, o que nos remete à questão da educação e na sua principal relação entre aprendiz e educador. Então, podemos constatar que as potencialidades da informática vão revelando-se às práticas pedagógicas como agentes de transformação.

Todas as tendências levam-nos a crer que a Internet e a educação a distância (em destaque) serão grande aliadas nas atividades escolares, formando grupos colaborativos de aprendizagem, sendo que os ambientes virtuais que integram e tornam possível essa conexão precisam ser compreendidos, e é interessante perceber como esses ambientes estão bem mais acessíveis e fáceis de operar. Entretanto, este acesso não é tão simples e necessita de apoio do sistema educacional que deve promover a inclusão digital, mobilizando-se para ajudar educando e professor, não permitindo que ele jamais fique isolado na reflexão de suas práticas.

“Há pelo menos duas interpretações possíveis e relevantes para o tema Computador e Ensino. A primeira delas é que não é necessário nem desejável empregar o computador para acelerar o ritmo do desenvolvimento ou da aprendizagem, ou seja, para colocar os alunos no ritmo dos bits. A segunda é que também não se precisa ter pressa para fazer vingar o emprego dos micros na escola: eles estão aí para ficar, quando forem achadas formas convincentes de dar-lhes uma função pedagógica, sempre haverá alguns disponíveis.” (La Taille, 1990, p.212)

Esta afirmação de La Taille responde, acredito, às expectativas atuais, embora sua conclusão tenha sido feita há mais de dezoito anos. Percebe-se como se esbarra na questão da preparação do professor para que tenha competência para estabelecer a tecnologia da informação como ferramenta pedagógica, que isso é possível, e também o fato de que a utilização das TIC’s remete a um panorama diferenciado no processo ensino-aprendizagem.

O que fica mais evidente é que a escola precisa reestruturar-se de forma radical desde sua artéria principal, na medida em que a tecnologia da informação e os nativos digitais são elementos dominantes na sociedade do conhecimento, para impedir justamente que o professor não fique isolado nas práticas e estruturas escolares ultrapassadas. Porém, penso que sempre haverá funções pedagógicas convincentes e, muito mais que apenas “algumas funções pedagógicas”, como escreveu La Taille, hoje há muito mais estudos que ampliam esta afirmação, quando há décadas atrás a Internet ainda não era uma realidade como hoje, mas o fato é que a educação transformadora precisa apoiar-se no computador como elemento cultural histórico e divisor de águas nas ações pedagógicas, indicando competências até então não tão necessárias como agora.

Pode-se contemplar, neste artigo, três referências importantes para a educação, as TIC´s e a sociedade de um modo geral. Autores consagrados demonstram o quanto o computador pode acrescentar para a transformação, quando ele próprio é fruto da transformação do homem e, como elemento cultural, significa um objeto do conhecimento histórico situado nos afazes em diversos segmentos em nossas vidas. Neste cenário, a educação será sempre a protagonista, mas ela precisa considerar o computador como coadjuvante e os agentes escolares devem abarcar o papel de humanizar a relação homem- máquina, pois somente assim podemos evoluir da ação de “transformar” para a ação de “transcender” a educação histórico e culturalmente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GATES, Bill. A estrada do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

LA TAILLE, Yves de. Ensaio sobre o lugar do computador na educação. São Paulo: Iglu. 1990.

SANCHO, Juana Maria; HERNÁNDEZ, Fernando. Tecnologias para transformar a educação. Porto Alegre: Artmed, 2006.

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1 COMENTÁRIOS

1 marlene - ijui
Excelente este artigo.Parabéns ao autor
11/06/2010 08:33:47


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