“Os grandes educadores sempre souberam que aprender
não é algo que você faz apenas na sala
de aula ou sob a supervisão de professores. Hoje,
é por vezes difícil para quem quer satisfazer sua
curiosidade ou resolver suas dúvidas encontrar a
informação apropriada. A estrada dará
a todos nós acesso a informações
aparentemente ilimitadas, a qualquer momento e em qualquer lugar que
queiramos. É uma perspectiva animadora porque colocar essa
tecnologia a serviço da educação
resultará em benefícios para toda a
sociedade”. (Gates, 1995, p.231)
Nestas sábias palavras proferidas por Bill Gates,
há quinze anos, podemos
compreender que o “hoje” a que ele referia-se, para
a época se tornaria somente passado, entretanto é
presente para nós. Satisfazer curiosidades, resolver
dúvidas e encontrar informação
apropriada já não é mais
“tão difícil” quando temos
acesso às diversas aplicações da
informática e, como protagonista destas possibilidades
referidas por ele, a Internet é o que ele denominava de
“a estrada”.
A escola trabalha com as ferramentas que estão ao seu
alcance, dentro de uma infraestrutura marcada por
deficiências, inserida num mundo informatizado que dita as
regras de uma sociedade capitalista, cujo processo evolutivo
não consegue ser acompanhado pelo sistema escolar.
É neste contexto que o computador surge como um grande
aliado. Entretanto, parece tornar-se um imenso bicho-papão
para os educadores, uma máquina da qual nossas
crianças não têm medo e que a colocam
num pedestal, ela é inovação, basta
apertar os botões que as coisas acontecem e, mais
interessante ainda, é se apertarmos o botão
certo, enfim, nada acontece se nós não estivermos
no seu comando.
Muito antes de o computador apontar como referência na esfera
escolar, os processos escolares eram questionados, iniciando com os
estudos de Piaget, nos quais a construção do
conhecimento é objeto de estudo, culminando com a
disseminação - até então
dos estudiosos da pedagogia moderna - o construcionismo (teoria
proposta por Seymour Papert, o aprendiz constrói alguma
coisa, ou seja, é o aprendizado por meio do fazer, do
"colocar a mão na massa"). Paralela à
evolução da pedagogia, a informática
também sofre grande evolução numa
velocidade incrível, esta é a palavra-chave:
“velocidade” - que caracteriza a tecnologia da
informação, promovendo avanços no
armazenamento e tratamento das informações.
Nos ambientes de aprendizagens, nos quais o educando
constrói conhecimento, o computador torna-se fundamental
quando nele ficam depositadas todas as
informações necessárias para o
desenvolvimento dos processos que envolvem o ensino aprendizagem.
Assim, fica claro que o computador ocupa seu devido lugar de agente
transformador da educação, mudando as estruturas
em que o aluno deve ter habilidades procedimentais e atitudinais, pois
quando está diante da informação
fornecida, ele se vê diante de um quebra-cabeça e,
neste momento, evidencia-se o fazer e o compreender, nos quais o
professor tem papel fundamental de conduzir o educando à
construção do conhecimento.
Hoje, o acesso à informação pode
satisfazer curiosidades e dúvidas de natureza conceitual
como era no passado (o que acabava concentrando no papel do professor o
detentor de todas as informações e
conhecimentos). Para encontrar a informação
apropriada, segundo Bill Gates (1995), não haverá
limites com o acesso à Internet, e afirmamos que mesmo sem
ela, com a agilidade e capacidade de armazenamento dos computadores,
uma enciclopédia digital, livros eletrônicos ou um
banco de dados bem-organizado pelo usuário atento,
será o suficiente para encontrar as peças do
quebra-cabeça.
“[...] Mesmo que nós, humanos, costumemos reter
apenas as imagens mais superficiais dos acontecimentos complexos.
Assim, o computador e suas tecnologias associadas, sobretudo a
internet, tornaram-se mecanismos prodigiosos que transformam o que
tocam, ou quem os toca, e são capazes, inclusive, de fazer o
que é impossível para seus criadores. Por
exemplo, melhorar o ensino, motivar os alunos ou criar redes de
colaboração. Daí vem a
fascinação exercida por essas tecnologias sobre
muitos educadores, que julgam encontrar nelas a nova pedra filosofal
que permitirá transformar a escola atual.”
(Sancho, 2006, p.17)
Uma década depois das colocações de
Bill Gates, Sancho coloca as TIC’s como a pedra filosofal que
permitirá transformar a escola, será que
é somente filosofia? Nós cremos que
não, cremos que ela pode ser um caminho, um instrumento de
caráter estritamente evolutivo na sua essência.
Partindo das conclusões de Sancho (2006, p. 16), as
TIC´s têm caráter transformador:
1. Alteram a estrutura de interesses: as coisas em que pensamos.
2. Mudam o caráter dos símbolos: as coisas com as
quais pensamos.
3. Modificam a natureza da comunidade: a área em que se
desenvolve o pensamento.
Estas questões remetem-nos a várias teorias, como
a de Vygotsky, reveladas nas palavras de Sancho (2006, p. 16):
“[...] As novas tecnologias da
informação não apenas ampliaram
consideravelmente este repertório de signos como
também os sistemas de armazenamento, gestão e
acesso a informação, impulsionando um
desenvolvimento sem precedentes [...]”.
Diante destas conclusões de Sancho, podemos verificar que o
computador é uma tecnologia que pode implicar diretamente o
processo de ensino-aprendizagem, o que nos remete à
questão da educação e na sua principal
relação entre aprendiz e educador.
Então, podemos constatar que as potencialidades da
informática vão revelando-se às
práticas pedagógicas como agentes de
transformação.
Todas as tendências levam-nos a crer que a Internet e a
educação a distância (em destaque)
serão grande aliadas nas atividades escolares, formando
grupos colaborativos de aprendizagem, sendo que os ambientes virtuais
que integram e tornam possível essa conexão
precisam ser compreendidos, e é interessante perceber como
esses ambientes estão bem mais acessíveis e
fáceis de operar. Entretanto, este acesso não
é tão simples e necessita de apoio do sistema
educacional que deve promover a inclusão digital,
mobilizando-se para ajudar educando e professor, não
permitindo que ele jamais fique isolado na reflexão de suas
práticas.
“Há pelo menos duas
interpretações possíveis e relevantes
para o tema Computador e Ensino. A primeira delas é que
não é necessário nem
desejável empregar o computador para acelerar o ritmo do
desenvolvimento ou da aprendizagem, ou seja, para colocar os alunos no
ritmo dos bits. A segunda é que também
não se precisa ter pressa para fazer vingar o emprego dos
micros na escola: eles estão aí para ficar,
quando forem achadas formas convincentes de dar-lhes uma
função pedagógica, sempre
haverá alguns disponíveis.” (La Taille,
1990, p.212)
Esta afirmação de La Taille responde, acredito,
às expectativas atuais, embora sua conclusão
tenha sido feita há mais de dezoito anos. Percebe-se como se
esbarra na questão da preparação do
professor para que tenha competência para estabelecer a
tecnologia da informação como ferramenta
pedagógica, que isso é possível, e
também o fato de que a utilização das
TIC’s remete a um panorama diferenciado no processo
ensino-aprendizagem.
O que fica mais evidente é que a escola precisa
reestruturar-se de forma radical desde sua artéria
principal, na medida em que a tecnologia da
informação e os nativos digitais são
elementos dominantes na sociedade do conhecimento, para impedir
justamente que o professor não fique isolado nas
práticas e estruturas escolares ultrapassadas.
Porém, penso que sempre haverá
funções pedagógicas convincentes e,
muito mais que apenas “algumas funções
pedagógicas”, como escreveu La Taille, hoje
há muito mais estudos que ampliam esta
afirmação, quando há
décadas atrás a Internet ainda não era
uma realidade como hoje, mas o fato é que a
educação transformadora precisa apoiar-se no
computador como elemento cultural histórico e divisor de
águas nas ações
pedagógicas, indicando competências até
então não tão necessárias
como agora.
Pode-se contemplar, neste artigo, três referências
importantes para a educação, as TIC´s e
a sociedade de um modo geral. Autores consagrados demonstram o quanto o
computador pode acrescentar para a transformação,
quando ele próprio é fruto da
transformação do homem e, como elemento cultural,
significa um objeto do conhecimento histórico situado nos
afazes em diversos segmentos em nossas vidas. Neste cenário,
a educação será sempre a protagonista,
mas ela precisa considerar o computador como coadjuvante e os agentes
escolares devem abarcar o papel de humanizar a
relação homem- máquina, pois somente
assim podemos evoluir da ação de
“transformar” para a ação de
“transcender” a educação
histórico e culturalmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GATES, Bill. A estrada do futuro. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
LA TAILLE, Yves de. Ensaio sobre o lugar do computador na
educação. São Paulo: Iglu. 1990.
SANCHO, Juana Maria; HERNÁNDEZ, Fernando. Tecnologias para
transformar a educação. Porto Alegre: Artmed,
2006.