Seja um literato - 18/01/2010
Paulo Castro
A literatura em sala de aula, aplicada pelo professor da educação formal como é hoje feita, é uma literatura quadrada nos moldes já aplicados e demonstra uma certa limitação, pois precisa-se falar como e o que é literatura para alguns jovens de hoje, o que para eles é uma bobagem sem pé e nem cabeça.
A literatura vai além da educação limitada e entulhada de conhecimento e forma de decorar datas, épocas, nome de autor e algumas de suas obras em resenha curta e breve.
A literatura verdadeira é aquela que quebra os paradigmas e vai além da razão, que a própria razão desconhece. O diferencial da literatura é perceptível na pessoa que é diferente e só algumas são.
A literatura, por exemplo de Clarice Lispecto, é diferente e muito íntima na sua peculiaridade de ser introspectiva. Para mim, Clarice é tudo diferente e moderna o tempo todo.
Sua época do Modernismo, Realismo-Naturalismo e Romantismo-Simbolismo é as veias por onde passa e constroem sua perspectiva estilística-pessoal.
Eu busco isso nas minhas aspirações e inspirações para compor meus textos.
O que eu penso de Clarice, ah! está em um texto que eu fiz com o título: Eu e Clarice.
Eu e Clarice : “Nasce um escritor e morre uma escritora".
Eu acredito que nasci e morri ao mesmo tempo com Clarice e tudo dela agora me pertence, pois nesse lance da transmigração de ir e vir, eu obtive todos os seus segredos de uma escritora introspectiva e mais do que sensata de suas loucuras sãs.
Tento me ver sem estar enxergando-a , pois em vê-la partir, o que reluz em mim não é saudade que fica, mas a esperança de si mesma, eu sou, mas que realmente sou ela em mim mesmo.
Quando penso, leio, mas eu nunca a vi, e se eu tivesse conhecimento, Clarice, seríamos grandes amigos daqueles de trocar “figurinhas” em cartas ao amigo, e como eu sei disso? A parte que está em mim é a parte que pertence a ela e, por isso, penso e leio Clarice.
Eu vejo a mim mesmo nas entrelinhas de suas escrituras em longas, curtas e rápidas frases insustentáveis, pois nascem e morrem as palavras. O atemporal para ela nunca existiu, definiu em si seu passado, o presente e o futuro já está pronto em algum lugar de sua mente, esperando a sair depois daquela que já não me pertence e foi impressa as palavras que pertencia a ela e agora sai de mim nas longas, curtas e rápidas linhas em frases, parágrafos e livro.
Sou o que sou de Clarice e tento não a vêr , pois sei que ela está em mim. A parte que devo mostrar sem vacilar, em nenhum momento, é dela que vem o que de mim sai da ponta do lápis as verdadeiras letras da estória inacabável de um livro, que já se foi e agora vem outro cutucar e não largar mais o lápis de mim.
Leio o que tem que ler, mas não refaço o que já fiz, e o que está feito já está pronto e não tem como parar ou voltar, e aí vêm os outros que aguardam eu aceitar e pronto! Não penso, escrevo. O escritor é uma esperança. Ela me deixou nessa parte que agora pertence a mim que é ela.
Nota: eu, Paulo Castro, escritor, nasci em Dezembro de 1977 e ela, Clarice Lispecto, escritora, morreu em Dezembro de 1977.”
Assim, a literatura nos encantam quando me proponho a viver e sentir a diferença de produzir e ensinar literatura que rompe e liberta como uma borboleta que alça voo quando sai do casulo. E para isso, os professores de literatura devem motivar-se na própria leitura, transmitindo com alma desprendida, num simples ato de ensinar literatura para os alunos que agora sabem que não é bobagem, e sim, uma verdadeira “curtição” como eles mesmo dizem.
E que tal sermos literato?
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