O Direito de Errar - 11/01/2010
A utopia do mundo perfeito é opressora
Veja - Existe uma fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado?
Jean Pierre Lebrun - É preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar. Todo mundo, em algum momento, vai passar por isso. Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo. Às vezes é preciso lembrar coisas muito simples que as pessoas parecem ter esquecido completamente. Estamos como que dopados. Os pais sabem que as crianças não ficarão com eles a vida inteira, que não vão conseguir tudo o que sonharam, que vão estabelecer ligações sociais e afetivas que, por vezes, lhes farão mal, mas tentam agir como se não soubessem disso. Hoje os filhos se tornaram um indicador do sucesso dos pais. Isso é perigoso, porque cada um tem a sua vida. Não é justo que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa depositada neles. (Entrevista de Jean-Pierre LeBrun a Revista Veja, Ed. 2142, 09/12/09)
Não há tempo e espaço para erros nos dias de hoje. E isto se aplica ao mundo dos negócios tanto quanto à escola. Pelo menos é esta a postura adotada por milhões de pessoas em diferentes países que compõem o planeta. Errar deixou de ser uma possibilidade, tornou-se praticamente um crime ou um pecado mortal, como queiram... E se tentarmos raciocinar dentro desta linha de pensamento, vamos na seguinte direção: Qualquer falha, por menor que seja, indica fraqueza e, com isto, incapacidade de quem errou para estar na posição em que se encontra em uma empresa, por exemplo.
Outra circunstância, se os erros são percebidos nas crianças ou nos adolescentes é preciso resolver tais questões e dificuldades o mais rapidamente possível, para que eles não sejam fadados ao fracasso e possam, hoje e no futuro, fazer parte do grupo dos vencedores, aqueles imortais que ascendem aos melhores postos de trabalho, no alto do pódio, no Olímpio da vida...
Com isto, na verdade, estamos, todos nós, errando feio... Não percebemos que tal pressão acaba gerando uma série de problemas para todos, que vão do stress à depressão, passando pela síndrome do pânico e a ansiedade, para mencionar apenas os efeitos psicológicos...
Imaginem esta pressão entre os alunos de uma escola, por exemplo, aonde pode levar? E em funcionários de uma empresa, que sempre devem lucrar e que, para tal, precisam todo o tempo do mais alto grau de comprometimento e sucesso de todos os seus trabalhadores? Aonde vamos parar com isto?
Quando li a entrevista de Jean-Pierre LeBrun à Veja, identifiquei a temática por ele abordada como fundamental para nossas vidas. Até mesmo porque me vejo pressionado, sinto que também acabo cobrando o erro zero de pessoas com as quais convivo, percebo tantos conhecidos e colegas passando por situação semelhante, leio nos jornais a carga de responsabilidades crescendo num ritmo avassalador no que tange a cobranças de sucesso permanente...
E o Direito de Errar, não existe mais? E a ideia de que aprendemos com nossos erros, onde foi parar?
Gosto sempre de lembrar que somos seres errantes, sei que o sentido mais óbvio é o de que vagamos pelo mundo, realizando nossas vidas por diferentes (ou nem tanto assim) trilhas. Errar, neste sentido, significa conhecer, explorar, viajar, descobrir e tentar... E nestes caminhos que percorremos, é certo que vamos sempre cometer falhas, pequenas ou grandes, que podem nos legar dores e dissabores, mas sem as quais nossas vidas não teriam a mesma grandeza e possibilidade de nos refazermos, de crescermos, de amadurecermos diante daquilo que a princípio pode parecer azar, amargura, drama, tragédia...
Erro porque sou humano e esta não é uma sina, mas uma certeza em nossas vidas, a de que em alguns momentos iremos falhar. Temos que administrar melhor isto, nos permitir o erro como outrora o fazíamos. Estender esta possibilidade para as novas gerações, cuja bagagem que carregam parece cada vez mais pesada e difícil para os trajetos que terão pela frente, o que torna ainda mais complexa a tarefa de passar por esta existência sem que sejam errantes, no duplo sentido do termo...
Peço perdão se nestas palavras revelo minha fraqueza, que também é a de todos os demais seres humanos, e reconheço nossa perspectiva de erro, certeza tão grande em nossas vidas quanto os acertos e a morte, que é hora de admitirmos o quanto isto é natural em nossas vidas e que nos violentar é tentar a todo o custo e tempo viver como se fôssemos imaculados, ou seja, livres de qualquer erro, falha, pecado...
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