A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

As tecnologias nos tornam menos inteligentes? - 07/12/2009
A Geração Internet: Mais burra que as anteriores?

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Lançado recentemente nos Estados Unidos pelo professor Mark Bauerlein, da Universidade de Emory, em Atlanta, o livro "The Dumbest Generation: How The Digital Age stupefies young americans and jeopardizes our future" (A geração mais burra: Como a Era Digital torna mais estúpidos os jovens americanos e compromete nosso futuro, na tradução mais literal possível), coloca em xeque as conquistas do mundo virtual para o desenvolvimento intelectual das crianças e adolescentes nascidos após o advento e consolidação da rede mundial de computadores.

Mas o que motiva o pesquisador a afirmar de forma tão categórica tal pensamento, estampado em letras garrafais no título de sua obra? De acordo com Bauerlein, o que se pode dizer é que:

"Em termos de inteligência pura, eles são tão espertos quanto sempre foram. Mas quando você vê o conhecimento deles de história, literatura, filosofia, eles são completamente ignorantes. Isso porque a maioria do tempo livre dessas crianças é gasto com ferramentas digitais que simplesmente repercutem umas as outras. Eles não leem jornais, eles mexem no Facebook. Eles não leem livros, eles mandam SMS. Isso tira deles o tempo que era destinado para a formação intelectual".

Em suma, o que auferimos é que o uso excessivo destas ferramentas pode realmente causar empecilhos ao pleno desenvolvimento destas novas gerações. Nos tempos atuais garotas e garotos são rápidos, antenados, multitarefas e, aparentemente, por conta igualmente de sua facilidade no uso da tecnologia, parecem muito espertos aos olhos de todos...

Mas o acesso a informação rápida, do modo como ocorre na web, por exemplo, leva os usuários (em especial os mais novos) a apenas "bater os olhos" e passar pelos dados sem se interessar em saber com maior profundidade aquilo que está sendo ali apresentado (fatos, números, imagens, conjecturas, análises...). Lêem-se as manchetes apenas - o que, de certa forma explica a popularidade dos microblogs, como o Twitter. Com isto, não ocorre a leitura focada, atenta, crítica e capaz de gerar movimentos de busca por mais dados e informações complementares, o que suscitaria em tal pessoa, a capacidade de ampliar seus saberes e realizar a transformação destas informações em conhecimento...

Conhecimento este que teria que ser ainda burilado a partir da partilha e debate das idéias e fatos percebidos, estudados e compreendidos, com outras pessoas - mesmo que através do mundo virtual, por exemplo, nas chamadas redes sociais. O que Bauerlein atesta é que, nas redes sociais (como o Facebook, por ele mencionado, e alguns de seus pares - Orkut, MySpace...) só há espaço para jogos, diversão, informação superficial (ou fútil mesmo), egotrips...

O que fazer? Bauerlein fala da necessidade das famílias, especificamente dos pais, acompanharem mais de perto o uso das ferramentas do mundo virtual por seus filhos, estipulando limites e propondo alternâncias entre estas experiências na rede com aquelas do mundo real, como a interação direta com outras pessoas, a leitura, o esporte, a música, o teatro, o cinema...

Concordo com ele, mas como educador incluiria a necessidade de um trabalho educacional que orientasse o olhar dos estudantes - não no sentido de limitá-lo, estipulando apenas por onde deve ir (navegar na web) - mas que tenha o objetivo de dar a esta nova geração o necessário foco, definindo um timing mais adequado para a interação com a informação, articulando a troca com outras pessoas na sala de aula, cambiando dados com o que está nos livros ou em outras fontes, realizando produções acerca daquilo que está sendo lido e estudado a partir da rede (e das outras bases culturais utilizadas)...

Imaginar que esta nova geração, por si só será capaz de realizar esta alteração de rumo por conta própria, sem o auxílio dos pais e dos professores (entre outros), é pensar como possível colocá-los num avião ou num carro de corrida, para pilotá-lo, apenas a partir da experiência que possuem em simuladores de vôo ou games que reproduzem a Fórmula 1, os Stock Cars... Para que isto dê certo, a experiência de quem já voou ou dirigiu tais veículos é de essencial importância tanto quanto a gradual preparação para que, a partir do tempo certo, possam realmente acelerar...

Obs. Leia entrevista "Conectados, multitarefa, radicais, isolados e burros" dada por Mark Bauerlein ao caderno Link, do Estado de São Paulo. Dê também uma olhada na reflexão “Computadores não melhoram a qualidade da educação”, analisando o pensamento de Nicholas Carr sobre o tema.

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