Universidade para o povo - 16/11/2009
Mais alunos das classes D, C e E chegam ao 3º Grau
“Em breve - e breve significa mais três ou quatro anos - as classes C, D e E serão maioria nas universidades. Uma consultoria especializada em ensino superior (Hoper) informa que, de 2004 até 2008, o número de alunos da classe C cresceu 84%, e da classe D, 52%. Isso significa um batalhão de quase 680 mil pessoas. São brasileiros com mais expectativas profissionais, já que, ao entrarem na faculdade, imaginam-se com mais chance de um bom emprego. É gente que, em geral, tende a tornar-se mais crítica e ciosa de seus direitos - vejam como Geisy Arruda defendeu seus direitos. É também gente que, em geral, tem mais garra. Não é fácil sobreviver ao ensino médio público, trabalhar à noite e estudar de dia” (pobres vão tomar a universidade, artigo de Gilberto Dimenstein, para a coluna Pensata, da Folha de São Paulo, disponível no link http://tinyurl.com/yayva3k).
Está em curso uma mudança que poderá alterar de forma sensível o futuro do Brasil. E não se trata de algo que está sendo conseguido à custa de investimentos altíssimos... Tampouco de uma revolução armada que irá derrubar governos... É, no entanto, visível a partir do momento em que nos deparamos com números como aqueles informados pela pesquisa da consultoria especializada, Hoper, e divulgados por Gilberto Dimenstein.
Números que revelam um crescimento considerável de matrículas de cidadãos brasileiros provenientes das camadas sociais mais desprovidas - as classes C, D e E – em cursos de ensino superior no país. E estes dados são maiúsculos ao demonstrarem que o contingente de alunos da classe D já é 52% superior ao período anterior a 2004 e que, entre os estudantes provenientes da classe C, tal evolução já é de 84% em relação ao mesmo período prévio.
Entrar na faculdade significa, como ressalta Dimenstein, aos olhos desta nova e crescente leva de estudantes universitários, a real possibilidade de ascender socialmente, conseguir melhores empregos, ter salários mais altos, participar mais ativamente da vida política, estar apto a lutar com maior conhecimento de causa por seus direitos...
E isto é, certamente, mais do que simplesmente necessário para o mercado de trabalho em expansão e carente de mão de obra mais capacitada – é um pré-requisito para o pleno exercício da cidadania. Quanto maior a capacitação da população no que tange a anos de escolarização, tanto maior será sua capacidade de articulação, participação, trabalho qualificado, envolvimento em causas políticas e sociais...
E isto não é só discurso. Trata-se da realidade percebida a partir do exemplo de outras nações, que historicamente antecederam o Brasil em muitos anos e mesmo décadas quanto a esta legítima conquista, o acesso de maior quantidade de pessoas ao ensino superior e técnico, degrau básico para o tão sonhado desenvolvimento econômico, cultural, social e político.
França, Inglaterra, Alemanha e Holanda, ainda no século XIX, trabalharam no sentido da universalização do ensino e, ao longo do século XX, se preocuparam em expandir as possibilidades de acesso aos bancos universitários, em especial a partir dos anos 1940 e 1950. Países como a Coreia do Sul e o Chile, que até bem recentemente (anos 1970 e 1980) também tinham desempenho pífio na área, perceberam a necessidade de investir maciçamente não apenas no ensino básico, mas na ampliação da oferta de formações técnicas e universitárias.
O desafio do Brasil neste sentido é maior, não apenas por suas dimensões continentais, mas porque, além de oferecer mais vagas, tem que se preocupar com a melhoria da qualidade de ensino nas etapas anteriores da formação de seus universitários e demandar, desde já, que a oferta também crescente de vagas para este público numeroso em busca de oportunidades de ensino seja acompanhada de rigorosos procedimentos que garantam, em todas estas universidades e faculdades que estão surgindo, a necessária qualificação dos cursos por elas oferecidos.
Não adianta simplesmente abrir novas portas, autorizar o funcionamento de mais e mais cursos se aquilo que está surgindo não é compatível com o que o mundo lá fora está demandando... As instituições, por sua vez, independentemente da fiscalização e do rigor do MEC quanto à aprovação de seus cursos devem, por si só, plantar sementes que lhes garantam colheitas fartas não apenas no atual momento, mas principalmente a médio e longo prazo...
E o que quero dizer com isto? Que é imprescindível que tais universidades e faculdades tenham sempre em mente a necessidade de investir em corpos docentes titulados e atualizados, instalações modernas e com plena infraestrutura, conexão à rede mundial de computadores e bibliotecas com acervos renovados anualmente, parcerias com empresas privadas e governamentais para estimular os alunos a obterem melhores resultados (tendo em vista valorização profissional, estágios, empregos futuros...), laboratórios adequados aos cursos oferecidos...
Do mesmo modo, este público que a partir de agora está cada vez mais presente nas salas de aula do 3º grau deve não apenas “assistir às aulas” passivamente, imaginando que somente por terem chegado lá, ou seja, nestas faculdades e universidades, a batalha já está ganha... E, como destaca Dimenstein em seu artigo, o perfil destes alunos, que trabalham ao longo do dia, auxiliam na renda mensal familiar e tem que se ausentar num determinado período para estudar, não é o de meros observadores, atônitos, passivos, como descreveu Quintino Bocaiúva ao falar do povo que assistiu a “proclamação da república” por Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889... Pelo contrário, esta dura realidade e o acesso à informação acabará fazendo com que eles não se acomodem e sejam verdadeiros lutadores por aquilo que lhes é de direito: formação qualificada!
Ampliar a oferta é uma ótima notícia, ainda mais quando vem acompanhada de dados que revelam e tornam pública tão grande busca por esta oportunidade junto aos substratos sociais que antes nem ao menos cogitavam tal chance. Melhorar os cursos passa a ser, desde já, o objetivo maior de toda e qualquer instituição de 3º grau que queira ser considerada séria e digna de pertencer ao rol das melhores universidades e faculdades brasileiras... Educação de Qualidade também para o 3º grau é, então, a meta maior!
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