Inclusão escolar - 06/11/2009
Luciane Lubianca
Ao ler o Guia da Escola na Zero Hora do dia 3 de setembro de 2008, revivi o processo de exclusão ao qual fomos submetidos em outubro do ano passado com meus três filhos que têm paralisia cerebral. No item F (se recebem alunos com necessidades especiais), algumas renomadas escolas simplesmente respondem não. Fico na dúvida entre a tristeza ao testemunhar corajosa negativa diante de um crime e o alívio pela simples sinceridade. Ano passado, meus pequenos sentiram o que significa a frequente frase que recebem mediante avaliação como um não acovardado.
Recentes reportagens apontaram para a falta de portadores de necessidades especiais em vagas de emprego predestinadas por direito adquirido. Tento imaginar qual a mágica necessária para tornar-se um profissional qualificado sem ter que passar pela educação fundamental.
Meus filhos estão encaminhados, incluídos, acolhidos em escolas maravilhosas. Sou mãe, não tenho formação em magistério ou pedagogia, mas, pelo pouco que já vivi neste processo de inclusão, entendo que haja a necessidade de aceitar a diferença sem negá-la. Colocar na escola crianças com dificuldades diversas sem o preparo adequado é abandono e negligência. Nenhum pai deseja esse desastre. É preciso que haja uma discussão verdadeira sobre o assunto (ajustes, gastos, formação, adaptações).
Minha filha Paula, de cinco anos, fez recentemente cirurgia para alongamento de tendões e obteve uma significativa melhora na deambulação. Ao chegar do colégio, disse: "Mãe, hoje na educação física eu não fiz mais parte da torcida, eu dei um salto em distância e tu não acredita... Meus colegas torceram e ficaram muito felizes por mim!".
Esta é uma das muitas vivências reveladoras que tivemos desde o início do ano letivo. O convívio com outras tantas crianças (os três não são mais colegas) fez com que houvesse realmente "um salto" no desenvolvimento dos mesmos. É lindo perceber as trocas entre pequenos colegas com uma sabedoria que talvez só na infância possa ocorrer de forma tão espontânea.
Sempre explico aos meus rebentos que no nosso mundo existem dificuldades visíveis e invisíveis. Para as últimas, as soluções podem ser até mais difíceis, talvez seja preciso muito mais trabalho do que milhões de sessões de fisioterapia. No olhar tranquilo deles, percebo a generosidade e o entendimento de quem já sabe disto há muito tempo. Sigo aprendendo...
Por Luciane Lubianca - Médica
Fonte: Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2176610.xml&template=3898.dwt&edition=10680§ion=1012)
1 Lucio Carvalho - Porto Alegre
Reencontrar o texto da Luciane faz perceber que as instituições de ensino tem um dever social e dele não podem esquivarse. Sua existência é um concessão do Estado a que atendam toda a cidadania. Depois de muita luta, o Guia da Escola deixou de trazer essa informação textualmente. Ao menos aparentemente vivemos no RS uma situação de crescente respeito aos direitos constitucionais em relação às pessoas com deficiência.
Lucio Carvalho
http://www.inclusive.org.br
08/11/2009 20:38:29
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