A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

W.O. Pedagógico - 03/11/2009
Considerações sobre as faltas excessivas de professores...

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Escutei a expressão W.O. Pedagógico em algum texto ou escola que visitei... Referia-se, no caso, à excessiva quantidade de ausências de professores na escola pública em que atua... As palavras, no entanto, não saíram de minha cabeça durante todo o dia e, mesmo à noite, ainda continuava pensando nelas. Talvez porque tal situação de faltas excessivas não seja condizente, pelo menos a meu ver, com o compromisso e responsabilidade que assumimos quando nos tornamos profissionais, ainda mais na educação, em que nossa ação está diretamente relacionada à formação das futuras gerações...

Há também o histórico profissional de cada um e, é claro, acabamos pensando em nossas trajetórias quando analisamos tal situação... Não me lembro, pessoalmente, exceto quando fui operado de apendicite (e fiquei duas semanas de licença), de uma ausência anual maior que duas faltas ou o equivalente a uma por semestre, sempre relacionada a alguma doença ou a problemas familiares (falecimento, filhos doentes...).

Talvez por isso me sinta chocado com relatos publicados, pela mídia, de escolas onde há 4, 5 ou até mais professores faltando diariamente...

Mas pensei em ir além do fato, da indignação, do descaso e do descompromisso. E passei a analisar as palavras, a expressão... 

W.O.vem do inglês e significa Walk Over, no sentido de desistência, abandono de campo, não entrada de uma equipe em jogo, portanto, está muito relacionado a esportes, como o futebol, o basquete, o vôlei... Pode ser motivado por diferentes fatores, por exemplo, quando a equipe está incompleta e, portanto, sem suficiente número de jogadores para realizar a partida; outra possibilidade é algum tipo de desagravo quanto a algum fato específico relacionado ao torneio; há também casos de W.O. quando a equipe desistente não se acha à altura do adversário que irá enfrentar e prefere desistir a levar uma "lavada"...

De qualquer modo, o termo proveniente do esporte dá uma exata medida do que significa o W.O. Pedagógico, ou ao menos nos permite sondar esta terminologia... E, além da demonstração de descaso ou descompromisso com aqueles que realmente precisam de sua presença e atuação, os alunos, em que direção aponta o uso desta expressão? De certa forma demonstra que há professores que estão literalmente "desistindo" da educação e, ainda, nos remete a outro questionamento: se faltam, quando presentes, será que realmente estão fazendo o melhor que podem?

A tradução da expressão ao pé da letra nos diz que não apenas estão ausentes, mas que desistiram da partida, do desafio, do jogo (e a educação nem pode ser comparada a qualquer tipo de embate esportivo, pois representa muito mais para a vida dos alunos). Sei que há inúmeras queixas dos professores, relacionadas a salários, a condições de trabalho, à violência nas escolas, à falta de material didático...

Bandeiras mais do que justas e que devem ser levadas em consideração, com medidas práticas a serem efetivadas em curto espaço de tempo pelos gestores das redes públicas de ensino... É igualmente perceptível que a sociedade precisa valorizar o professor, não apenas com uma remuneração maior, mas com a plena percepção do papel social de vital importância realizado, nas escolas, por estes profissionais... Mas acima de tudo, a recuperação social do professor, de sua autoestima, de sua dignidade, passa primeiro pelos próprios educadores...

E esta ação de revitalização profissional se inicia com a demonstração de brio, disposição, capacidade de superar obstáculos, demonstração de criatividade, presença de espírito e, acima de tudo, comprometimento com a educação, a comunidade, a escola e, em especial, os alunos... É hora de dar a volta por cima e nada de Walk Over...

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1 COMENTÁRIOS

1 Lucas Monteiro de Castro - PirangaMG
O texto é bom e interessante. A ênfase maior está na falta de consciência dos professores faltosos. Este argumento é bom e verdadeiro. Não se falou, no entanto, dos demais professores presentes que representam a imensa maioria. Estamos vivendo numa sociedade que as vezes puxa para o excesso de punição e, em outras ocasiões, para o volume de direitos sem fim ou limite. No meu entender, a crise da escola é reflexo direto da crise social de valores. Em épocas em que Deus é o mercado e o norte político é o custo zero do Estado mínimo e nulo, o professor é apenas um pequeno peão de manobra que vem deixando de ser a referência, vem deixando de ser o transformador de conceitos formadores da crítica e da consciência e, até mesmo, vem deixando de ser o velho transmissor de conteúdo. A grande maioria dos professores é vítima do descaso destes mesmos valores. A política assistencial vem, aos poucos, transformando o que era escola em instituição de menores, onde o docente está sujeito a ser desvalorizado, agredido, ameaçado, humilhado e minimizado em suas ações. Aqueles que conseguem uma formação mais elaborada procuram, via de regra, escolas particulares de educação básica ou superior para lecionar, sendo estas últimas formadas, também em maioria, pelo interesse pecuniário que expande a oferta de péssimos cursos superiores à patamares nunca vistos no país. Enquanto isto, a elite se torna perpétua ocupando as melhores escolas básicas e superiores, particulares ou não. Parece que o Brasil está superando o desafio quantitativo, mas o qualitativo ainda está distante do horizonte. Quero ver um editorial que toque de fato na ferida viva e que tenha mais comprometimento com a cobrança, tanto do professor, quanto do gestor. Enquanto isto não ocorre, vamos remover a pequena cereja no topo do bolo. Pobres professores . . .
22/11/2009 13:45:36


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