Universo Escolar
Liane Goia de Araújo Marson Professora de Literatura brasileira e portuguesa do Curso Pré-Vestibular Anglo Cassiano Ricardo de Taubaté, SP.

A Oposição Vida/Morte - 19/10/2009
Liane Marson

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O que a palavra morte tem que muitas pessoas não conseguem sequer pronunciá-la, ou se a pronunciam é com um medo extremamente respeitoso? Uma palavra remete a uma imagem e a imagem provoca uma sensação negativa. As imagens que se associam à ideia é que fazem com que a visão negativa cresça mais: um ser usando uma roupa negra, comprida, com capuz encobrindo o rosto como representação do desconhecido, além de segurar a foice responsável por ceifar vidas.

Apesar de a imagem da morte ser forte, muito mais forte deve ser a imagem da vida – o início de tudo, a ação, a realização, a caminhada para um objetivo e sua conquista, o aprendizado do eu e o conhecimento do outro, a vida em sociedade e a descoberta dos próprios limites, o respeito ao próximo e a consciência do dever, da ética, da moral, de todos os valores que os seres humanos devem ter consigo e com o próximo, a vida com todas as suas oportunidades de  crescimento e enriquecimento pessoal.

Muitas pessoas recusam-se a encarar o fim da matéria, mas desrespeitam essa mesma matéria quando bebem, fumam ou comem em excesso; revoltam-se contra Deus, mas nem sempre O tiveram no coração; sofrem pela morte, mas se esquecem de viver a vida.

Sendo assim, o que é o sofrimento pela morte senão o sofrimento por si mesmo, a autopiedade por se ver privado do ente que partiu, a saudade antecipada, a tristeza não compartilhada, a dependência interrompida, o amor não verbalizado, o pedido de desculpa não formulado, a ideia de fim inexorável e de tudo o que não se teve tempo de pensar e de fazer.

Mas se o fim é tão assustador quanto imprevisível, por que não viver como se cada dia fosse o último? Viver plenamente o dia de hoje, valorizando a família, buscando os amigos, respeitando o inimigo; viver intensamente todos os momentos e não desperdiçá-los com coisas pequenas, mesquinhas e insignificantes; viver conscientemente sua função no ambiente familiar e no cosmos; viver respeitosamente, começando pelo respeito a si e estendendo-o a todos os seres vivos que se estão no mundo é por uma razão especial, como é especial a razão de existir de cada um.

E se cada um é especial, por que não fazer da vida um dia a dia especial? Por que não acordar agradecendo por estar vivo? Agradecendo pelo ar respirado, pela água bebida, pela comida na mesa, pela família, pelas grandes e também pelas pequenas coisas, pelo canto dos pássaros, pela beleza do céu azul e pela bênção da chuva, pelo vigor do sol e pela poesia da lua, pela imensidão do planeta e pela pequenez do homem, pelo frio e pelo calor, pela primavera e pelo outono, pelo dia e pela noite, pela felicidade e pela dor, por todas as pessoas, coisas e situações que nos fazem crescer.

Viva, portanto, plenamente. Chore quando se sentir triste, ria muito se tiver vontade, diga não se não quiser fazer algo, diga sim mesmo que incompreendido, abrace quando esse for seu impulso, diga que ama mesmo surpreendendo, mande flores sem data especial, olhe para quem se ama como se fosse a última vez, elogie sem esperar algo em troca, revele às pessoas próximas que elas o magoaram, deixe um bilhete de bom-dia ou um post-it com um carinho pregado na tela do computador.

Porque a vida é uma oportunidade que o universo dá a cada um de nós e, por isso, devemos ter muito respeito por tudo o que nos cerca. E como seres transitórios é que devemos compor nossa consciência de vida e morte, essa oposição tão desequilibrada a princípio e que acaba se caracterizando como algo complementar à grandeza que é essa missão que cada ser recebe do criador.

Viver é, pois, ter plena consciência de cada momento para, assim como Bandeira, quando a indesejada chegar estarmos com o campo lavrado, a casa limpa, a mesa posta e cada coisa no seu lugar.

Liane Marson

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4 COMENTÁRIOS

1 Thiago Cunha - São José dos Campos
Vida plena, algo almejado por muitos e que se resume , erronêamente, em arrumar um bom emprego, casarse e ter filhos. É claro que isso não é o suficiente e viver cada momento como se fosse único e especial não para você mas para as pessoas ao seu redor seria uma forma de vida plena. Este texto me faz lembrar como as pessoas agem mecânicamente a maior parte do dia, sem darem conta que suas vidas estão se esgotanto. Um filme que mostra bem essa reflexão seria Click. A única informação que não digeri muito bem foi por que não viver como se cada dia fosse o último? pense sobre isso. Viver cada dia como se fosse o último... Não seria muita pressão à uma pessoa que realmente conseguisse fazer isso? Não estou falando que viver intensamente seria viver aquele carpe diem deformado pela juventude atual mas imagine uma pessoa fazendo tudo que se pode fazer em um dia por quê ela acha que este pode ser seu último dia ou pelo menos imagine um individuo vivendo como se fosse seu último dia. Eu simplismente não conseguiria viver assim apesar de concordar com o ideal de viver uma vida plena mas não pensando que este dia poderia ser meu último. Espero ter sido claro na minha opinião. Gostei muito do seu texo professora Liane, obrigado pelo oportunidade de lêlo.
17/11/2009 20:08:54


2 Patricia Soliva - São José dos Campos
Texto excepcional ! Admiro a Liane como uma excelente professora, depois desse texto, me surpreendi mais ainda! confesso que me emocionei... mudei meu jeito de pensar e aprendi mais um pouco. Parabéns! carpe diem! :
17/11/2009 19:35:04


3 paulinha - macapá
essa reflexão é muito boa.leia e reflita
10/11/2009 21:17:53


4 Lívia - Caçapava
Achei muito interessante o modo como se trata a morte no texto.
30/10/2009 20:38:58


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