O Rio continua lindo - 15/10/2009
Marcelo Moreira
Estamos no século XXI com o horizonte aberto de possibilidades, enquanto que a nossa rotina no século passado era a de ter dúvidas todos os dias.
Imediatamente após a declaração de que o Rio seria sede dos jogos olímpicos de 2016, começaram as piadas e as brincadeiras. Tive o prazer de morar no Rio por dois anos, tempo que me mata de saudade e um tempo em que pude compreender o porquê chamam aquela bela cidade de "Cidade Maravilhosa".
O Rio enfrenta exatamente os mesmos problemas que qualquer cidade grande enfrenta. A cantora Lily Allen critica Londres em uma de suas músicas, fala da desigualdade, da pobreza, da insegurança. Quando passou pelo Brasil, em algumas partes da mesma música trocou "London" por "São Paulo" e a letra continuou fazendo sentido, assim como faria sentido se fosse Nova York ou Rio de Janeiro. As estatísticas mostram que morrem mais pessoas assassinadas em São Paulo do que no Rio. No entanto, existe um pensamento que vem dos anos 80 de se satanizar o Rio, naquela época era para ligar o que se acontecia no Rio com a figura controversa de Leonel Brizola, mas o Brizola se foi e tudo continuou.
Quem tomou um café na Confeitaria Colombo, comeu uma feijoada na Mangueira, tomou uma cerveja em um trailer em Realengo, ou simplesmente se sentou à noite sobre areia da praia da Barra de costas para o mar e ficou observando a bela paisagem das encostas da Barra contra um céu estrelado... Sim, no Rio tem lugares que não são bonitos. Mas me diga o que realmente pensa em quando atravessar o Rio pela Orla chegando até a Barra.
Eu prefiro acreditar que a chegada dos jogos olímpicos venha fazer aqui o que fez em Barcelona, além de ajudar no resgate do nosso orgulho, venha também voltar os olhos do mundo para a cidade que era constantemente retratada por Hollywood na década de 50, para a cidade que presenteou o mundo com a Bossa Nova, pra cidade que simboliza, melhor que qualquer outra, a essência do povo brasileiro.
Prefiro ser otimista e ver o lado positivo ao invés de sentar-me e começar a falar que os políticos vão roubar, que a violência vai aumentar. Prefiro imaginar que as empresas vão querer investir no esporte, que mais meninos vão descer o morro agora pra treinar, que vai virar uma corrente patriótica e fará nascer o pensamento de Otto Lara Resende que dizia no século passado: "Precisamos urgentemente amar o Brasil". Prefiro acreditar que nascerá um movimento que vai implodir o ranço que está entranhado em nós brasileiros, de sempre acharmos que não somos tão bons, que talvez Chicago fosse o lugar certo para estas Olimpíadas.
Não, o momento é nosso e talvez ele nos coloque em uma encruzilhada, oferecendo-nos um caminho que pode mudar tudo. Um caminho que eu quero para os meus filhos.
E acreditem: O Rio continua lindo.
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