Gattaca – Experiência Genética - 07/08/2009
Em busca da eterna perfeição...
A perfeição sempre foi uma obsessão para a humanidade. A beleza indestrutível. A inteligência suprema. A total eficiência. Em suma, desde tempos imemoriais, os seres humanos definiram padrões de excelência, que certamente variam de acordo com cada época e, com base nesses estereótipos ideais, cobram a si mesmos e aos demais que atinjam este patamar.
É claro que, apesar da cobrança, existe consciência quanto as nossas limitações, próprias destes seres frágeis que somos. Ainda assim, o sonho permanece, persiste e alimenta elocubrações várias que, inclusive, chegam aos círculos científicos e promovem o surgimento regular de fórmulas que garantam a eterna juventude, a beleza infindável, a máxima sabedoria, o fôlego interminável...
Neste sentido a indústria farmacêutica, a medicina, a química e a biologia genética acabam se tornando os principais dínamos deste eterno movimento de busca da perfeição. Cirurgias plásticas, botox, cosméticos e cremes variados, remédios diversos e até mesmo produtos que antecipem os problemas genéticos antes mesmo do nascimento são algumas das alternativas encontradas, até o presente momento, para que burlemos a natureza e prorroguemos nossa aparência jovem, energia, dinamismo, inteligência...
Afinal de contas, quem não quer ser lindo, saudável, lúcido, brilhante e sedutor para sempre?
Mas, que preço estamos dispostos a pagar por esta tão almejada “perfeição”? Quanto custa o elixir que nos dará acesso à fonte da juventude? O que seríamos capazes de fazer – individual e coletivamente – para atingir este sonho? Ainda mais quando sabemos que as pesquisas em genética têm - entre alguns de seus objetivos – alimentado a perspectiva de que possamos, por exemplo, melhorar a natureza humana antecipando com o estudo do DNA de cada indivíduo, suas prováveis fraquezas e defeitos – tanto físicos quanto emocionais, de caráter, de personalidade...
A literatura e o cinema costumam se antecipar à ciência, através de seus principais ficcionistas e roteiristas - que de olho em pequenas notas ou destacadas manchetes publicadas nos jornais, nas revistas ou, mais modernamente, na Internet – criam fantásticas histórias e, através delas, falam às massas sobre tais perspectivas e sonhos da ciência, tão promissores e sombrios ao mesmo tempo...
Esta é, por exemplo, a linha adotada em “Gattaca – Experiência Genética” (1997), filme de Andrew Niccol, estrelado por Ethan Hawke (de “Sociedade dos Poetas Mortos”), Uma Thurman (de “Ligações Perigosas” e “Kill Bill”) e Jude Law (de “A.I. – Inteligência Artificial” e “Círculo de Fogo”)...
O Filme
“Gattaca” nos coloca numa sociedade que estabelece, de forma escancarada e legalizada, a diferenciação social entre os indivíduos a partir de suas origens ainda no nascedouro... Quem foi concebido de forma natural sofre preconceitos por ser impuro, imperfeito e fadado a doenças e fraquezas que não atingem os seres humanos encomendados em laboratório pelos casais e que, por conta disso, são preparados geneticamente para não apresentar nenhum “defeito de fabricação”...
E a situação da imperfeição e da perfeição é vivida da forma mais cruel possível por Vincent Freeman (Ethan Hawke), fruto de uma noite de amor “inconsequente” de seus pais, que algum tempo depois ganha um irmão, geneticamente planejado e, portanto, livre de qualquer problema ou dificuldade inerentes a todos aqueles que surgiram de forma “natural” demais...
Vincent é inferior ao irmão em praticamente tudo o que faz. É mais baixo, mais fraco, menos veloz, tem fôlego mais reduzido e, como consequência de tudo isso, tem menor expectativa de vida e menos chances de se dar bem na sociedade, pois é vítima de velada, mas evidente discriminação, contra todos aqueles que são “naturais”...
Só que Vincent é estudioso, tem muita força de vontade e alimenta grandes ambições para seu futuro. Não quer ser apenas mais um trabalhador braçal. Seu grande sonho é participar de viagens e projetos espaciais. E, por conta de tudo isto, o jovem decide “comprar” o seu acesso a perfeição e burlar o sistema para que seja a ele incorporado como mais um entre os “escolhidos” por suas privilegiadas atribuições genéticas.
Para tanto, se alia a Jerome Morrow (Jude Law), um ex-campeão de natação que, acidentou-se e perdeu a mobilidade nas pernas e, utilizando-se da identificação pessoal de seu novo amigo, ascender social e profissionalmente, dividindo com Jerome os frutos de suas vitórias. O problema é que, próximo de atingir seu principal objetivo, Jerome vê a firma em que trabalha ser abalada por um assassinato e, um de seus cílios promove uma busca ao imperfeito Vincent, agora reinserido socialmente na pele de seu parceiro Jerome Morrow...
“Gattaca – Experiência Genética” é um filme que intriga e instiga ao mesmo tempo em que prende a atenção do espectador por sua ação, suspense e final pouco previsível!
Para Refletir
1- A biologia genética constitui uma das mais poderosas áreas de trabalho científico da humanidade e, certamente, é regida por rigoroso código ético e por normas que tentam, a todo custo, evitar que ocorra a utilização para fins escusos de suas descobertas e experimentos. Quanto a este importante ramo da ciência seria, portanto, recomendado desenvolver trabalhos e pesquisas na escola que permitissem aos alunos conhecer sua evolução, os tratados internacionais que regem a ética no setor, o sistema de trabalho, a condição das pesquisas no Brasil...
2- Desde Narciso, ainda a partir da mitologia Grega, os homens perseguem de forma até obsessiva a perfeição. Mas como dissemos ao longo da reflexão inicial, o ideal de beleza, inteligência, força e demais atributos que compõem aquilo que é considerado mais próximo da perfeição modificou-se muito. Buscar subsídios na história para compreender como mudou o conceito daquilo que seria considerado ideal é, também, outro subsídio a ser explorado a partir de “Gattaca – Experiência Genética”.
3- “Gattaca” tem parentesco direto com a imortal obra de Mary Shelley, “Frankenstein”, ao nos colocar em contato com a ciência em sua busca pela possibilidade de reinventar a vida e a existência. Há, certamente, outros filmes e livros que tratam do assunto, como por exemplo: “A Ilha”, “Matrix”, “Blade Runner” e “A.I. – Inteligência Artificial”. Ideia bastante interessante para desenvolver a questão seria realizar mostra com filmes e leitura de livros sobre o tema para ativar debates e discussões sobre a ética na ciência, os compromissos e perspectivas para o futuro na biologia genética ou na química, a relação direta entre o cinema e a literatura de ficção com o que a ciência pesquisa e produz...
Ficha Técnica
Gattaca – Experiência Genética
País/Ano de produção: EUA, 1997
Duração/Gênero: 112 min., Ficção Científica
Indicação Etária: 12 anos
Direção de Andrew Niccol
Roteiro de Andrew Niccol
Elenco : Ethan Hawke, Uma Thurman, Jude Law, Gore Vidal, Alan Arkin, Elias Kotea, Xander Berkeley, Jayne Brook, Blair Underwood.
Links
http://www.adorocinema.com/filmes/gattaca/
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1878
http://www.imdb.com/title/tt0119177/fullcredits#cast (em inglês)
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=949&aba=detalhe
1 Ademir braga de Oliveira - Ubatuba/SP
Valeu Prof. João Luis!
Outra matéria interessante. Quero assistir este filme. Em casa ainda não tenho como fazer isso.
Na escola poderemos criar condições de refletir entre os professores as virtudes, os desafios da vida e do ideal de ser humano.
Ademir
13/08/2009 22:50:25
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