De Olho na História
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Gripe Espanhola - 03/08/2009
Mais vítimas do que a Primeira Guerra Mundial

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Soldados-com-máscaras-carregando-corpo-de-vítima-numa-maca
Nos Estados Unidos, o surgimento de vítimas levava as autoridades a decretar

quarentena em casas, ruas e bairros inteiros, como em Saint Louis, em 1918.

O final da Grande Guerra parecia próximo. A paz estava no horizonte. Depois de quase 4 anos de batalhas e milhões de vítimas de ambos os lados, a paz estava logo adiante. A entrada dos Estados Unidos na guerra trouxera novos ventos para o conflito e tornara iminente a vitória da "Tríplice Entente" sobre a Tríplice Aliança. A guerra das trincheiras parecia próxima de seu fim e do pesadelo que viviam os soldados, brutalizados pelas condições nefastas de vida ao longo das linhas de guerra em que estavam instalados.

Surgiu então mais um poderoso inimigo a ser enfrentado. Forte e desconhecido para todos, confrontou não apenas os combatentes das duas alianças envolvidas na Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1919), resolveu ir além dos limites da carnificina estabelecida no front europeu, cruzou o Atlântico, o Índico e o Pacífico, não se intimidou com as distâncias e chegou ao Oriente. Fez-se presente no hemisfério Norte e também no Sul. Era o vírus Influenza. Tornou-se mundialmente conhecido como a Gripe Espanhola.

Nas trincheiras localizadas na França em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, um considerável número de soldados ficou doente. Ainda era primavera, mas os combatentes estavam com dor de cabeça, perda de apetite e dor de garganta. A doença parecia ser infecciosa, mas a recuperação era rápida e por este motivo os médicos de plantão passaram a chamá-la de “febre dos três dias”.

No princípio os médicos não conseguiram identificar com clareza a doença. Depois de algum tempo, porém, perceberam se tratar de uma variação do vírus Influenza. Os soldados, por sua vez, deram o nome de Gripe Espanhola à enfermidade, sem que houvesse qualquer evidência ou indício real de que a origem deste mal fosse a Espanha. Os espanhóis, até mesmo como forma de rechaçar tal identificação, resolveram chamar a doença de Gripe Francesa. Havia aqueles que diziam ser o Oriente Médio, a China ou a Índia o país de origem de tal enfermidade. Estudos mais recentes defendem a ideia de que a Gripe Espanhola, como ficou conhecida historicamente, teria surgido a partir de soldados norte-americanos oriundos do estado do Kansas. Ainda não há, no entanto, unanimidade quanto ao fato.

Passaram-se alguns meses e as tropas continuavam a ser infectadas pelo vírus, as baixas, porém, eram poucas. O advento do verão de 1918 trouxe consigo sintomas mais severos e graves para os doentes. Perto de 50% dos doentes começaram a apresentar pneumonia e problemas sanguíneos. A maioria dos contaminados acabou perecendo. Dificuldades respiratórias tornaram ainda pior o quadro dos enfermos, que em virtude da má circulação do oxigênio no sangue, sofriam muito mais e viam aumentar a quantidade de vítimas para perto de 95% entre todos os que contraíam a doença.

Homem-com-máscara-com-equipamento-de-desinfetação
Na Inglaterra, uma das estratégias de combate à

Gripe Espanhola era a desinfecção das ruas
com o uso de produtos químicos.

Calcula-se que somente entre as tropas americanas estacionadas na frente ocidental da guerra foram contabilizadas mais de 70 mil vítimas. No final do verão, o vírus Influenza havia também atingido o outro lado do combate e começava a abater soldados alemães. E o pior de tudo para os comandantes alemães é que, exauridos pelo esforço grandioso para se manter em batalha, não haviam sequer soldados para repor os contingentes que perdiam recrutas para a Gripe Espanhola. Quando 1918 chegou ao fim somente na Alemanha, entre militares e civis, já tinham morrido mais de 400 mil pessoas.

A Grã-Bretanha, por sua vez, também não conseguiu se manter isolada quanto a contaminação pelo vírus Influenza. Os primeiros registros de doentes apareceram em Glasgow, na Escócia, no mês de maio de 1918. Rapidamente a doença se alastrou por inúmeras cidades e vilas e, ao longo dos meses seguintes, vitimou mais de 225 mil pessoas nos países do Reino Unido. Tal mortalidade não era vista entre os ingleses desde a epidemia de Cólera que se abatera sobre a região em 1849.

Tentou-se de tudo entre os súditos da rainha para prevenir e remediar o avanço da doença. O uso de máscaras antigermes, quarentenas e tentativas de desinfecção ambiental com produtos químicos sendo espalhados pelas ruas foram duas das alternativas utilizadas pelos britânicos. Informações ventiladas à época que diziam ser o tabaco um eficiente preventivo que impediria a propagação do vírus levaram muitas localidades a permitir o fumo em locais que anteriormente eram restritos aos fumantes. Outro boato surgido na ocasião dizia que as pessoas estariam protegidas se comessem aveia em grande quantidade. Nada era verdade e, de fato, tudo parecia ineficiente no combate à Gripe Espanhola.

Hospitais-em-tendas
Hospitais de campanha eram erguidos nas frentes de batalha para

auxiliarem no combate à epidemia de Gripe Espanhola (Influenza).

Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, que não se sabe ao certo se deram origem a gripe ou se foram vítimas da entrada do vírus em virtude do movimento de tropas e imigrantes que entravam no país, passava por igual dificuldade ao ver uma enorme quantidade de pessoas morrer em virtude da enfermidade. Ao final de dezembro de 1918, as autoridades já contabilizavam mais de 450 mil mortes entre os americanos.

As maiores baixas foram, no entanto, do outro lado do mundo, na Índia. Os relatos iniciais de enfermidade datam de junho de 1918, em Bombaim. Outras cidades indianas foram rapidamente infectadas a partir de então. Como expressiva quantidade de médicos indianos servia as tropas britânicas na guerra (a Índia ainda era, então, colônia inglesa), o país não tinha meios de evitar e combater o surto epidêmico. De acordo com dados de alguns historiadores, o país teria perdido perto de 16 milhões de pessoas em virtude da Gripe Espanhola entre os anos de 1918 e 1919.

Os dados quanto às vítimas da Gripe Espanhola são tão aterradores que dão conta de que mais de 70 milhões de pessoas morreram, ao redor do mundo, em virtude da doença. Somente a quantidade de vítimas na Índia supera o total de mortos em toda a Primeira Guerra Mundial.

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7 COMENTÁRIOS

1 Oscar Delas - Corumbá
muito bom esse texto! Otimo ! Otimo Mesmoo!
12/04/2011 16:20:49


2 jose pedro ferreira sobrinho - são jose dos campossp
Boa tarde prof.João Luis, que ótima matéria sobre o suposto nome da gripe que assolou o mundo inteiro durante e ao final da primeira guerra. Tirei uma grande dúvida, pois fiquei sabendo que ela existiu, e fazia parte de uma dívida que os espanhois tinham com a America, quando Colombo, Cortes e Pizarro, conquistaram e massacraram impiedosamente seus povos. Seria prof uma dívida do outro mundo, acredite.
22/09/2010 15:53:31


3 Rafaela Fabre - São Paulo
Mas Prof João Luís, por que todas as técnicas usadas no combate à doença não obtiveram resultado algum?? Quais foram as dificuldades para que essas técnicas não conseguissem conter o avanço da epidemia? Além disso, o seu texto está muito bom e bem digitado. Ele me ajudou muito. Parabéns.
05/11/2009 14:22:50


4 Nicole Santos - São Paulo
Parabéns Prof João Luís, essa matéria está muuuuuito bem escrita, de fácil entendimento e ajuda muito quem está pesquisando sobre o assunto. Me ajudou bastante! Obrigada
23/09/2009 21:11:59


5 priscila - palhoça
muito bom esse assunto...foi muito bem esclarecido estao de Parabens
24/08/2009 17:21:12


6 monica - Mimoso so Sul EspiritoSanto
Eu estava pesquisando sobre a gripe espanhola .Eu estava ajudando a minha filha um trabalho de ciência .Quando li o seu relatório sobre o caso e gostei muito, pois me ajudou a entender o que foi a pandemia de 1918. Eu precisava saber como viviam as pessoas durante a pandemia e a sua reportagem sobre o fato me ajudou. Obrigada.
13/08/2009 09:08:36


7 Ademir Braga de Oliveira - Ubatuba/SP
Boa tarde prof. João Luis! Lendo a sua matéria percebi como foi assustador o número de pessoas que já morreram infectados com vírus que transmite essa doença. Todavia, isso se deu há quase 90 anos da nossa história. ISso explica que naquela época a sociedade não sabia lidar com os sintomas da doença. Será que hoje já sabemos ou estamos a mercê da sorte ou da falta de política pública? Ou ações de estado não de govrerno que sejam preventivas e que afaste a doença do nosso convívio? Ou ainda será que realmente essa gripe, influenza 1 ou espanhola, tem todo esse poder de fogo ou a mídia simplesmente está vendendo produtos e remédios goelas abaixo do povo a nível mundial? Que achas tu? Um abraço! Ademir.
04/08/2009 15:00:27


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