Matemática
Ton Ferreira Consultor de Governos da Planneta Educação, uma empresa do grupo Vitae Brasil. Mestre em Projetos Educacionais de Ciências pela USP; MBA em Gestão de Pessoas pelo Centro Salesianos e Pós-Graduado em Ética, Valores e Cidadania pela USP; graduado em Matemática pela UNESP. Experiência na área Gestão de Pessoas e de Formação Continuada, Docência e Palestras com foco em educação, ciência e tecnologia.

Professores de Matemática ou Algebristas? - 28/05/2009
Adreiton Ferreira Bellarmino de Deus

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Estatísticas nos mostram que o ensino da matemática em nosso país não é um dos melhores do mundo, e em virtude disso é preciso tomar uma providência para inverter esse quadro.

Em recente entrevista à revista Nova Escola, Jeremy Kilpatrick, professor norte-americano do Instituto de Educação em Matemática da Universidade de Geórgia e integrante da Academia Nacional de Educação dos EUA, declarou que a única saída para melhorar o ensino de matemática é aprimorar os programas de formação dos educadores.

Não diria a única saída, mas com certeza uma das mais importantes para aprimorar o ensino da Matemática. Atualmente há universidades que falham em suas matrizes curriculares, fazendo com que os profissionais saiam sem a devida preparação para ministrar aulas. Além disso, o aluno do ensino fundamental ou médio não consegue entender a matemática que lhe é ensinada nas escolas, muitas vezes é reprovado nesta disciplina, ou então, mesmo que aprovado, sente dificuldades em utilizar o conhecimento "adquirido", em síntese, não consegue efetivamente ter acesso a esse saber de fundamental importância. O professor é consciente de que não consegue alcançar resultados satisfatórios junto a seus alunos e tendo dificuldades de, por si só, repensar satisfatoriamente seu fazer pedagógico, procura novos elementos - muitas vezes, meras receitas de como ensinar determinados conteúdos - que, acredita, possam melhorar este quadro. Uma evidência disso é, positivamente, a participação cada vez mais crescente de professores nos encontros, conferências ou cursos.

O professor deve apropriar-se dos diferentes caminhos de se fazer matemática em sala de aula, e mais importante que isso, utilizar a linguagem matemática, assim desenvolverá seu principal papel: mostrar o que é e qual a necessidade da aprendizagem dessa disciplina. Estando inserida em quase tudo a nossa volta, a Matemática requer do docente a interação de assuntos diversos, produção de textos e questionamentos sobre quaisquer temas, por isso, o professor de matemática não deve saber somente a matemática.

Malba Tahan, um dos grandes educadores do seu tempo, citou uma frase justificando a desestima dos alunos pela matemática: “ isso é obra de um inimigo roaz e pernicioso; um inimigo que é para a Matemática como a broca é para o café, a lagarta para o algodão e a saúva para todo o Brasil” (TAHAN, DIDÁTICA DA MATEMÁTICA, 1965v1), atribuindo-a ao professor meramente algebrista que, na sua total falta de aptidão para chegar a conclusões úteis ou interessantes, inventa problemas obscuros, enfadonhos, incríveis, inteiramente divorciados de qualquer finalidade prática ou teórica; procura, para resolver questões simples, artifícios complicados, tropeços sem o menor interesse para o aluno, apresentando a matemática fora dos objetivos reais, sem nenhuma aplicação.

O algebrista se preocupa com questões que possam confundir o estudante, não se interessa com os dados nem com a finalidade e, muito menos, com a realidade do problema.

Um exemplo: “5120 litros de chumbo, com 785000 centímetros cúbicos de algodão, mais 2500 quilogramas de água, quantos quilolitros pesam?” Este problema é completamente irreal. Essa mistura de unidades de medição não tem fundamento algum. Quilolitros é uma unidade fora de contexto, que ninguém a utiliza no cotidiano. Seria plausível medir a água em mililitros, litros ou até mesmo em metros cúbicos do que em quilogramas.

Para atenuar os efeitos do algebrismo, algumas etapas poderiam ser seguidas:

1. Uma minunciosa revisão dos programas de matemática é a primeira etapa objetivando sua simplificação, tornando-os mais vivos e interessantes.

2. Apresentar todos os pontos do programa sob forma analítica. O programa sintético colabora indiretamente com a tendência albegrista de certos professores. Por exemplo, se no programa estiver escrito “estudo das equações irracionais”, o algebrista descobre, logo, um pretexto para exigir dos alunos uma infinidade de tipos de equações irracionais. Como não existe, no universo dos alunos, problema algum que conduza a uma equação irracional extremamente complicada, deve-se evitar este tipo de abuso matemático. O professor tem que se limitar a equações mais simples, de modo que o aluno possa visualizar uma possível aplicação para a equação estudada, tornando a aprendizagem mais direcionada e interessante.

3. Não permitir que nas provas sejam propostos aos alunos exercícios com unidades inusitas.

4. Não propor problemas em falso, isto é, problemas com dados numéricos fora da vida real. O problema apresentado ao educando não deve falsear a verdade.

Porém, só isso não garante. As escolas carecem de materiais, recursos tecnológicos e novas metodologias. É preciso um conjunto de ações, bem articuladas e planejadas, pois a matemática, como qualquer outra disciplina, tem suas dificuldades ou complicações e é comum ouvir-se de estudantes a confissão de incapacidade para compreendê-la. Por esse motivo, seu estudo deve ser atraente, simples e de acordo com a realidade.

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21 COMENTÁRIOS

1 Diogo - Taubaté
Pelo visto apenas comentários elogiosos são aprovados. O meu comentário anterior não aparece aqui, uma vez que critico essa visão.
20/09/2011 20:32:13


2 Marco Antonio Santilli - Ribeirão Preto SP
O texto vai de encontro aos meus pensamentos, visando sempre a melhora no aprendizado da Matemática de forma prática e real de nosso dia a dia. Muito bom mesmo,Professor Adreiton !!!!! Para confirmar o que escrevi, conheça meu blog http://mascurtindomatematica.blogspot.com Um grande e forte abraço !!! Professor Santilli 27/07/2011
27/07/2011 12:27:04


3 Lucimar L. de Lacerda - Cubatão
Maravilhoso o texto, traz uma reflexão muita boa a cerca da nossa realidade nas salas de aula. Hoje se faz necessário humanizar o ensino da matemática, colocandoa para todos como uma ciência presente no cotidiano, sem mistérios.
09/11/2009 19:53:21


4 Ricardo Vianna - Juiz de Fora
Excelente matéria Os Currículos precisam ser revistos sob olhar mais atento do professor. Buscando o tripé fundamental para o ensino: conceituaçãomanipulaçãoaplicação. A maioria dos livros didáticos de nosso país dão ênfase quase que total à manipulação e quase nada à aplicação. Se quiser ver algumas aplicações de matemática, visite o site: http://profricardovianna.blogspot.com/ Ricardo Vianna
27/09/2009 11:47:36


5 kelly christinne Professora de matematica - cubatao
A matematica deve ser interpretada como uma ferramenta básica para o uso do nosso dia a dia.
29/08/2009 23:08:29


6 Ivani Ribeiro - Redenção para
Parabens!!! seria muito bom se a matematica fosse trabalhada dessa maneira pois levaria o aluno a se envolver com os problemas e não afastta lo do aprender.
29/07/2009 20:28:24


7 Beatriz Moura - Japaratuba
Esse breve comentário, é uma das formas de influenciar os alunos a gostarem mais de Matemática.....
23/07/2009 15:22:50


8 Carmen Silvia Lopes - Lençóis Paulista
Acrescentaria que além do saber tem que haver um gostar ,somente assim o educador faz o élo entre saber e educando,sou a favor em repensar na formação do educador e em qual disciplina tem maior afinidade sendo assim seu domínio será o grande sucesso da sala. Quando se leciona o que se gostasabe é prazeroso.
26/06/2009 17:08:53


9 Rogerio Ferreira Cruz - PradoBA
Muito bem! Realmente a Matemática para alguns educadores é desconectada da realidade dificultando assim o interesse e entendimento dos nossos alunos, ficando sem significado embora é uma ciência valiosíssima, sem desvalorizar as outras disciplinas, o que falta é trabalhar com ela de forma contextualizada e interdisciplinar, valoriazando os recursos tecnológicos e as situações problemas do diaadia. Abcs.
22/06/2009 10:00:27


10 suely benedita prudenciatti - lençóis paulista
Parabéns pelo texto!PRECISAMOS MUITO DE TEXTOS ASSIM.
15/06/2009 18:51:55


11 Valéria Borante Galli - Lençóis PaulistaSP
Parabéns, professor Andreiton muito bom o artigo faz o professor refletir as pratica pedagógica do ensino de matemática.
07/06/2009 22:14:30


12 Thaís - Cachoeira Paulista
Parabéns pela clareza e pelo desenvolvimento do assunto.
07/06/2009 18:57:22


13 Andrea Antunes - Guaratinguetá
Professor Adreiton parabéns pelo excelente texto.
05/06/2009 22:35:49


14 Vera Lia Marcondes Criscuolo de Almeida - Guaratinguetá
Parabéns pelo artigo. Super atual e reflete a realidade escolar.
05/06/2009 15:50:23


15 Paula Gallvao - Rio de Janeiro
É extamente de pessoas q penssam assim dessa forma que nosso pais esta pecisando. Pensando m um futuro melhor para nossas crianças ate msm e o fato de vc questinoar q um professor de matematica nao tem que trabalhar so na area de estudos e sim a paciência tb pois acredito eu q falta muita paciencia pr muitos professores muito bom seu arigo ...
05/06/2009 11:39:39


16 Ana Lúcia - Taboão da Serra SP
Parabéns, Ton. Seu artigo está maravilhoso! Espero que todos sejam professores de matemática e não algebristas. Realmente é necessário investir na formação dos educadores.
05/06/2009 11:28:32


17 Susi Carla Barbosa Leite - Lençóis Paulista
Muito bom o texto. Parabéns .
01/06/2009 08:35:57


18 Ricardo Fernandes - São Sebastião
Tenho certeza e acredito que um dia vamos realmente ter somente professores de matemáticas, pessoas comprometidas com a Educação!!! Parabéns ao artigo.
30/05/2009 17:32:48


19 Anderson Schmidt - São Paulo
Parabéns pelo texto, muito interessante principalmente do ponto de vista da informação e da didática utilizada nas escolas para o aprendizado da Matemática.
30/05/2009 17:27:20


20 Juliana Lemos - CruzeiroSP
Muito bom o artigo, parabéns Professor Andreiton.
30/05/2009 16:31:55


21 Raimundo Rainner - Guararema
Muito bom o texto e reflete realmente a realidade das escolas. Meu filho tem 13 anos e chega sempre em casa com listas e mais listas de exercícios desse tipo. Até que ponto isso ajuda na aprendizagem?
29/05/2009 12:08:03


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