A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Web rumo à onipresença - 25/05/2009
É preciso melhorar o uso da Internet nas Escolas

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As principais fontes de atualização de informações que utilizo para meu trabalho em educação são... (220 respostas)

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          Há aproximadamente 15 anos alguns pioneiros aventuravam-se pelas BBS (Bulletin Board System). Era uma pequena revolução em curso. O que, até então, consistia em privilégio de universidades norte-americanas, militares, governos ou ainda, de forma incipiente, empresas poderosas, tornava-se realidade para alguns milhares de usuários espalhados pelo Brasil (e poucos milhões mundo afora).

          O Sistema BBS pode ser considerado como avô ou pai da Internet Comercial, aquela que todos nós conhecemos hoje em dia. Naqueles primeiros anos da década de 1990, ainda diante de telas verdes, armazenando dados em disquetes 5¼, usando sistemas operacionais que não tinham uma visualização gráfica atraente e estimulante como a dos dias atuais, consolidava-se o mundo que conhecemos tão bem hoje.

          Não se passaram sequer duas décadas e ao examinarmos os dados acima, de pesquisa rápida realizada através da própria web, no Planeta Educação, ainda que num universo de respostas limitado (220 pessoas responderam), constatamos a força da revolução ocorrida com o advento da Internet.

          De cada 100 pessoas, chegamos a um número bastante significativo para compreender o impacto da rede entre nós. Em média, 85 pessoas revelaram realizar suas pesquisas e levantamentos para trabalhos em educação utilizando-se da Internet como principal fonte ou referência. Apenas 10% - somando-se aqueles que utilizam livros, equivalente a 7,5% do total e os 2,5% que se declararam como usuários de outras fontes escritas, como jornais e revistas – referenciam seus planejamentos e ações a partir de recursos encontrados em bibliotecas. Quanto a filmes, músicas ou outras referências culturais, cerca de 5% dos participantes revelaram utilizar estes recursos como fontes de pesquisa e trabalho.

Mais do que números, podemos constatar que:

1- O futuro é mesmo digital. Não há como retroceder, voltar no tempo. Ainda que em outra recente pesquisa as pessoas tenham admitido ter maior prazer e satisfação ao lerem publicações escritas em papel que em mídias virtuais/digitais, a realidade dos fatos aponta em outra direção. A concretude dos fatos nos mostra cada vez mais que as pessoas estão, em número crescente e avassalador, plugadas na rede mundial de computadores. E é neste ambiente que se informam, se programam para suas atividades profissionais (e pessoais) e, ainda, se formam...

2- É preciso realizar trabalhos consistentes e permanentes em prol da leitura de livros, revistas e jornais nas escolas. Isto não quer dizer que iremos criar um movimento de guerrilhas contra as mídias digitais e as Tecnologias de Informação e Comunicação. Pelo contrário, agregar forças a esta realidade sem volta, com o acréscimo poderoso da leitura dos livros e de outros formatos de publicação em papel, esta é a ideia. E o contexto é favorável, conforme dados publicados recentemente pelo Observatório do Livro e da Leitura1 , que atestam como campeões da leitura em nosso país as crianças e adolescentes.

3- Apesar da grande facilidade que tem relativamente às tecnologias, a nova geração não sabe pesquisar como deveria na Internet. E sobre esta temática é importante trazer a tona e dar o devido destaque as conclusões apresentadas nas Jornadas 30 Anos de Leitura e Escrita na América Latina2, realizadas em La Plata, na Argentina no mês de março de 2009. Entre os dados importantes destacados neste encontro, temos que dar atenção ao fato de não haver incentivo por parte dos educadores quanto à pesquisa na Internet e também a outra estatística, aquela que revela que apenas 10% dos alunos participantes da pesquisa disseram ter aprendido a usar o computador e a web com professores.

          E é este terceiro item que gostaria de desenvolver mais neste artigo. Inicialmente voltando à atenção para o fato dos professores não estarem trabalhando tanto o computador e a web como recursos poderosos e indissociáveis do futuro de todos nós. Questão esta que merece ser avaliada não sob o prisma da execração pública destes profissionais por esta ação não desenvolvida. Não culpem os docentes, eles carecem de maior informação e preparo para o exercício pleno de ações que envolvam as tecnologias de informação e comunicação e suas aulas. Isto envolve medidas nacionais de reformulação dos currículos das universidades e faculdades que formam os pedagogos e licenciados que atuam em nossas escolas.

          Pensando a médio e longo prazo, cabe ao Ministério da Educação (MEC) implementar modificações curriculares que preconizem esta formação que associe pedagogia e tecnologia. E, a curto prazo, cabem medidas emergenciais que não apenas informem a atual geração de professores que está em sala de aula quanto aos computadores e a web, mas que também os preparem para, gradativamente, inserirem os computadores em suas atividades cotidianas nas escolas.

          Aos professores, por sua vez, compete cobrar tanto do MEC quanto das autoridades estaduais e municipais, que esta formação ocorra e que seja de qualidade, não apenas “para inglês ver”, como dizem popularmente. Com isto o que se quer é que realmente se capacitem os docentes a utilizar de forma regular, não como subterfúgio, as tecnologias, sendo então capazes de orientar melhor e de forma mais consistente seus alunos quanto ao uso destas tecnologias.

          Agora, mais importante ainda, é que tanto autoridades quanto professores percebam e ajam no sentido de já, de imediato, se prestarem a dar orientações básicas aos seus alunos quanto ao uso da rede mundial de computadores em seus trabalhos, tarefas e pesquisas escolares. Neste sentido, vale lembrar algumas dicas dadas pelos especialistas do encontro realizado em La Plata, a saber:

- Os professores devem dar orientações muito claras quanto aos objetos e temas de consulta buscados pelos alunos na internet. Neste sentido é sempre válido destacar termos e palavras que podem ser associadas ao objetivo mais evidente neste levantamento. Por exemplo, se ao aluno compete buscar dados sobre alimentos, esclareça o que se quer em relação a esta temática. Defina que a meta é saber mais sobre alimentação equilibrada, ou ainda sobre higiene e etiqueta a mesa. Dê-lhes subsídios mais precisos, como alguns endereços ou instituições em que estes dados poderão ser conseguidos. Refine o olhar destes associando tais buscas a autores, pesquisadores ou livros referenciais para que encontrem excertos na web...

- Ao trabalhar em buscadores como o Google, o estudante deve ser persistente em sua pesquisa. Quanto a isto, compete aos educadores explicar que nem sempre a melhor resposta para a busca que está sendo realizada está na primeira página. Normalmente, de acordo com os pesquisadores, os estudantes não passam das 3 ou 4 primeiras respostas da primeira página em seus levantamentos. É preciso ir além. A qualidade, no que se refere a pesquisas escolares na web, na maior parte das vezes, pode estar em alguma página escondida, produzida por universidade, jornal, site educacional...

- A assinatura dos artigos e a credibilidade das instituições e pessoas por trás de sites sempre devem ser avaliadas pelos estudantes como critério para a seleção de informações. Neste sentido é importante que em suas buscas, os alunos sejam orientados por seus professores a buscar sites governamentais, de universidades, de grupos de pesquisa, de empresas especializadas e críveis, de Organizações Não Governamentais. Outra importante recomendação refere-se à questão dos dados e informações de quem assina os artigos. Atentar para a formação, especialização e histórico profissional sempre que possível é de essencial importância para saber se quem escreve realmente tem autoridade para tal.

- Trabalhar também com imagens e vídeos ao utilizar-se da internet é outra questão bastante importante. A atual geração é eminentemente visual e, em conformidade com este dado, é preciso que também a orientemos quanto à seleção de fotos, reproduções de pinturas, charges, quadrinhos ou ainda vídeos através da web como complementos a seus trabalhos. Neste sentido as orientações anteriores são igualmente válidas também para as mídias visuais.

          Mais importante que tudo, no entanto, é perceber que o uso mais apropriado e inteligente da internet entre os membros das novas gerações depende da orientação dos educadores (e também da família), portanto sendo urgente que, cada vez mais, as escolas participem e atuem sempre em consonância com os pais.

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1 Para maiores informações leia a reportagem Crianças, as campeãs de leitura- Estudo revela que o público mirim é o que mais lê no País e mostra a importância da família na criação deste hábito, de Rodrigo Cardoso, publicada pela Revista Isto é, em Maio de 2009.

2 Para saber mais sobre o assunto leia a reportagem As buscas via internet - Estudo realizado pela Universidade de Buenos Aires, na Argentina, mostra como os estudantes procuram informações na rede mundial, de Gabriel Pillar, para a Revista Nova Escola, de Maio de 2009.

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2 COMENTÁRIOS

1 Ademir Braga de Oliveira - Ubatuba
Professor João Luis! Concordo em grau e número. Acredito também que nós professores poderemos melhorar nossas aulas com o melhor uso da internet. Porém tenho que superar os limites...
06/06/2009 01:55:20


2 Prof. Francisco Assis Martins Fernandes - Taubaté, SP
Em prineiro lugar, sou um assíduo leitor de seus artigos. A Internet me proporciona essa oportunidade. No que tange ao conteúdo de A Web rumo à onipresença, concordo com suas pontuações, uma vez que vivemos sob a égide das novas tecnologias da comunicação. A Internet torna as mensagens transnacionais. Tanto as que recebemos como as que transmitimos. E no plano da educação, é preciso que a família e o Estado apontem novas formas de pesquisar e estudar, sem a tirania da web. Sou prof. aposentado da USP e da Unitau.
26/05/2009 09:13:35


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