Está lá? É do inimigo? - 02/03/2009
Porta Curtas Petrobras - Direção de Pedro Lobito e Jel
Você já participou de alguma guerra? Creio que não, como a maioria das pessoas que conheço. Eu mesmo nunca estive em uma frente de batalha, seja como militar, civil, profissional ou mesmo como inocente, perdido entre balas e explosões. Nem gostaria, como todas as pessoas com as quais já tive a oportunidade de falar a este respeito. Acompanhando guerras a distância pensamos saber do que se trata, imaginamos [ou ao menos tentamos] como é o sofrimento de quem está no “olho do furacão”, envolvido por uma atmosfera de caos, desorganização, sujeira, feridos, mortos...
Tudo o que sabemos é proveniente da mídia. A partir dos jornais impressos, das rádios, da televisão ou da Internet temos a impressão de que a guerra nos é familiar, ainda que esta sensação seja semelhante àquela que temos quando pensamos na lua ou nas profundezas máximas dos oceanos... Sabemos, ou imaginamos saber, por termos visto fotografias, filmagens, gravações em áudio, discursos e relatos transcritos por jornalistas...
Mas o que realmente sabemos daquilo que acontece numa frente de batalha? Que motivos mobilizam os homens às armas? De onde vêm tantos artefatos bélicos? Quem ganha com tudo isto? O que acontece com as pessoas que sofreram perdas irreparáveis com os conflitos? Por que as pessoas concordam em participar de guerras? Ainda que saibamos dos altos custos perpetrados a sociedade e aos envolvidos nas guerras a humanidade continua a envolver-se em tais conflitos. Como? Por quê? Quantas guerras mais veremos pelos quatro cantos do mundo, como na Coreia, no Vietnã, no Afeganistão ou no Iraque?
E se não bastassem as guerras envolvendo nações, há ainda outros conflitos em andamento, como a guerra contra o terror e o tráfico de drogas [e armas] ou ainda conflitos sociais que dominam regiões de alguns países e os condenam a inúmeras mortes relacionadas a conflitos entre gangues, contrabando de entorpecentes, pobreza, choques étnicos, disputas tribais ou políticas...
O curta-metragem português “Esta lá? É do inimigo?”, de Pedro Lobito e Jel, procura através do choque entre o que se vê e o que se ouve ao fundo, nos sensibilizar para os paradoxos que estamos vivendo nessa Era de Informação e Globalização. Estamos a todo o momento sendo municiados com informações e dados sobre os diversos conflitos nos quais o mundo afora ceifa milhares de vidas de forma tão intensa que, literalmente, entramos em estado de torpor.
Não mais derramamos lágrimas ou nos mostramos indignados. Abandonamos as passeatas e manifestações contra as guerras. Deixamos de lado a bandeira da não-violência. Parecemos estar cada vez mais conformados com todas as atrocidades que sabemos ocorrer em Guantámano, nas favelas e cortiços dos países pobres, nas guerras étnicas e tribais africanas, no conflito entre o mundo islâmico e o Ocidente...
Enquanto as imagens nos mostram o ex-presidente norte-americano George Walker Bush como representante e retrato de uma liderança desmoralizada e sem rumo em vigor no mundo de hoje, ao mesmo tempo assistimos alguns dos horrores das guerras e ouvimos uma fala cantada que ironiza a situação e quer nos fazer rir daquilo que não é cômico ou engraçado. É claro que o vídeo tem o propósito de desconstruir as visões de guerra que temos, ou seja, ao tentar nos forçar um impossível sorriso, ainda que amarelo, diante de tanta insensatez e brutalidade, “Esta lá? É do inimigo?”, quer mesmo é provocar em cada um de nós o despertar de um sentimento de revolta, dor, angústia e compaixão que ainda deve existir dentro de cada um...
João Luís de Almeida Machado nasceu nos anos 1960, quando as pessoas pareciam mais engajadas e dispostas a lutar pelo bem comum, contra as guerras, a favor da paz e da não-violência...
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