A Casa - 20/01/2009
Porta Curtas Petrobras - Direção de Andrés Lieban
Como é a sua casa? Têm janelas e portas, paredes e pisos, banheiros e quartos, sala e cozinha? É amarela, azul ou branca? É térrea ou sobrado? Ou será um apartamento? Quem sabe está localizada em uma chácara, sítio ou fazenda. Há ainda as favelas e os cortiços e os mais desafortunados que moram embaixo da ponte ou pelas ruas das cidades a esmo...
Mas a primeira casa de todos, ricos ou pobres, brancos ou negros, homens ou mulheres é sempre a mesma. E o endereço? Para espanto geral, apesar de não ser o mesmo, foi carinhosamente identificado e ratificado na cultura brasileira a partir da popularíssima canção de Toquinho e Vinicius, “A Casa”, como sendo a tal “Rua dos Bobos, número zero”.
Esta casa em que todos foram aguardados, acalentados e geridos com zelo é o útero materno. A barriga de nossas mães, devidamente semeada pelo amor entre um homem e uma mulher, lar este em que não há paredes – ao menos não como aquelas de nossas casas das outras fases da vida, de tijolos ou blocos – e também onde não estão disponíveis penicos ou privadas, chuveiros ou pias...
Não dá nem mesmo para esticar uma rede ou montar uma cama com um confortável colchão para tirar um cochilo agradável... Ainda assim, por mais que seus moradores em desenvolvimento pareçam apertados e mal acomodados, é certo que não há mais confortável e seguro lar que este primeiro que nos traz ao mundo.
Alimentados, protegidos, amados e embalados em nossos primeiros sonhos pela doce voz de nossas mães ou pelo tom mais grave, mas não menos carinhoso dos pais, é no útero materno que começamos a conhecer o mundo, a se preparar para ele, a entender as pessoas que estão ao nosso redor, a perceber sensações que posteriormente irão se tornar mais claras.
Por isso chutamos o barrigão da mamãe quando ela acaricia com seu leve e gentil toque a nossa primeira casa. Quando falam conosco, cantam ou nos permitem dançar juntamente com nossos progenitores percebemos a arte, o amor, a leveza e nos preparamos também para embalar depois nossas próprias danças e degustar os tantos ritmos e sons que iremos conhecer.
E é no encanto da música de Toquinho e Vinicius que o cineasta Andrés Lieban se inspirou para produzir este curta-metragem de mesmo nome, “A Casa”. Singelo como a canção, compassado com a música e a melodia, o curta celebra não apenas um clássico da música popular brasileira, mas, em especial, a magia que reside naquilo que é simples e tocante. Confiram!
João Luís de Almeida Machado não entendia a canção quando pequeno, mas sempre se deliciou ao escutá-la e concorda quanto ao fato de que a barriga da mãe, na Rua dos Bobos, número zero, foi a mais segura em que viveu...
1 Maria Cristina Galli Nacli - Macatuba sp
O texto é de grande sutileza, belíssimo em seu conteudo, e acredito piamente em todas as palavras que li, pois a nossa casa é o melhor lugar do mundo para se fazer tudo que se tem em mente. Em relaçâo à nossa primeira morada, tudo é muito convidativo,pois é nela que se inicia uma vida, um acalanto, um sonho e o início de toda uma existência.
20/05/2009 13:19:13
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