Diário de Classe
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Cinema para Crianças... na escola - 16/01/2009
Entrevista com o autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte”

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A relação entre cinema e crianças existe desde que a Sétima Arte surgiu, ainda que de forma bastante incipiente e restritiva naqueles primeiros tempos. A ludicidade dos filmes sempre seduziu espectadores de todas as idades e, entre o público infanto-juvenil não foi diferente. O primeiro grande realizador na área foi, certamente, Walt Disney, com o lançamento regular de animações destinadas especificamente a este público tão ávido por novidades e diversão.

O tempo passou e dos desenhos de Mickey Mouse [ou Mortimer como a princípio pretendia chamá-lo o saudoso Walt], chegamos aos anos 1940 e 1950 a uma Hollywood mais preocupada com as diferentes faixas etárias e focada na produção de filmes que atendessem a demanda tanto do público adulto quanto dos jovens, adolescentes e das crianças. Surgiram então clássicos como O Mágico de Óz, Branca de Neve e os Sete Anões, Fantasia, Dumbo, Pinóquio e tantas outras criações derivadas da literatura ou criadas especialmente para as telas dos cinemas.

E nos dias de hoje? Como está estabelecida a relação entre o público infanto-juvenil e a Sétima Arte? Para compreender um pouco melhor esta questão, apresentamos a seguir, uma entrevista concedida pelo professor João Luís de Almeida Machado, Doutor em Educação pela PUC-SP, Mestre em Educação, Arte e História da Cultura, Editor do portal Planeta Educação, autor de histórias infantis no site Planetinha e autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema” [Editora Intersubjetiva, 2008].

 Capa-do-livro-Na-sala-de-aula-com-a-7-arte

Vamos então aos questionamentos:

1. Uma dos grandes sucessos recentes aqui no Brasil e em outros países é High School Musical. Em artigo sobre o primeiro filme você fala sobre algumas questões abordadas na produção, como o respeito às diferenças ou as tribos que se formam nas escolas, entre outros. O senhor acha que essas questões são percebidas pelas crianças sem ajuda de pais ou professores?

JL – São mais percebidas pelas crianças, pré-adolescentes e adolescentes do que pelos adultos em geral, inclusive pais e professores. O fato é que elas convivem nas escolas, entre seus pares, com questões como tribos, diferenças, intolerância, dificuldades de adaptação ao se transferirem de uma instituição para outra... E, por conta dessa proximidade quanto a essas situações, precisam encontrar respostas que os auxiliem a enfrentar as durezas cotidianas sem poder contar com o apoio dos pais e, muitas vezes, prescindindo até mesmo dos professores no espaço escolar. High School Musical se tornou um sucesso merecido, pois trata questões sérias de forma leve, idílica, idealizada – bem ao estilo da Disney, empresa que o produziu. Parece descompromissado, mas consegue divertir ao mesmo tempo em que propaga uma mensagem positiva, que nos faz acreditar no diálogo, nas boas relações entre as pessoas, na compreensão e no respeito à diversidade.

Cena-do-filme-High-Scool-Musical

2. O senhor acha que deva existir um acompanhamento dos pais para que as crianças percebam o que podem aprender com a história? Se sim, como poderia ser este acompanhamento?

JL – A compreensão dos temas trabalhados em High School Musical, assim como nas melhores produções destinadas ao público infanto-‑juvenil (como Shrek, Ponte para Terabítia, Menino Maluquinho, Os Sem-Floresta, O Rei Leão,...) independe, ou pelo menos deveria, da presença física dos pais. O que quero dizer com isso? Que a formação dada pela família ao longo do tempo deve ser bem realizada, dando aos filhos a condição de interpretar, avaliar, pensar e criar em cima dos produtos culturais com os quais venham a ter contato – sem que para isso seja fundamental a presença de qualquer adulto. O mesmo deveria acontecer em relação à escola. Educar para a autonomia, os voos próprios, sempre buscando ir mais longe é dever da família e dos educadores. No entanto, como educador e pai de duas crianças que têm entre 10 e 11 anos, considero fundamental que saibamos o que nossos filhos assistem ou leem, com quem se relacionam, quem são seus professores, se praticam atividades físicas regulares, como se alimentam,... Penso também que programas em família são ótimos e, quando relacionam lazer e cultura, melhores ainda. Por isso eu e minha esposa, que é orientadora educacional e psicopedagoga, sempre queremos participar da vida de nossos filhos e ajudar aos mesmos dando-lhes sugestões, partilhando ideias, respeitando seus posicionamentos, escutando suas críticas, permitindo leituras de mundo,...

Cena-do-filme-Shrek

3. Shrek é um filme de estrondoso sucesso entre crianças e adultos. Como o senhor acha que é a percepção das crianças em relação a esta história de conto de fadas que elas não estavam acostumadas a ver?

JL – Shrek é fruto típico da contemporaneidade, em que o acesso à informação é rápido e farto. A releitura feita através do desenho quanto aos contos de fadas tem estreita relação com a necessidade atual de superarmos a intolerância, o racismo e o preconceito em geral. A inversão dos valores dominantes socialmente, aqueles que preconizaram durante muito tempo que os “mocinhos” eram sempre os ocidentais, de preferência norte-americanos, com cabelos e olhos claros, de boa estatura – cai por terra de forma irônica já no primeiro Shrek, com o príncipe malvado que é baixinho, tem cabelos escuros e, principalmente, que é tão maldoso que chega mesmo a “torturar” o homem-biscoito... Enquanto, por outro lado, os vilões que durante algum tempo foram os inimigos das frentes de batalhas mundiais (como os japoneses, alemães ou os russos) e que, mais modernamente, são identificados como os mulçumanos – numa triste e infeliz radicalização dos meios de comunicação de massa que dominam o cenário mundial (em especial os norte-americanos) – podem ser percebidos no ogro medieval, abrutalhado, forte como vários homens, verde da cabeça aos pés e que, a despeito de sua forma pouco usual, é justo, tem bom coração, demonstra várias vezes ser honrado e ético,... Essa percepção que lhe apresento, com toda a velocidade da informação no mundo em que vivemos, pode ser concebida a partir das palavras e interpretações das crianças. Elas logo entenderam a mensagem do filme. Posso assegurar-lhes isso com base em e-mails que recebo comentando o artigo que escrevi sobre o filme, assim como a partir da visão de meus próprios filhos.

Imagem-de-Os-Simpsons

4. Quais são as características gerais que o senhor identifica nos filmes feitos para crianças nos dias de hoje? O que os diferencia de filmes dirigidos a este público algumas décadas atrás?

JL – Sobressaem à inteligência, o humor fino e a estreita ligação entre o que aparece nos desenhos e produções para o público infanto-juvenil e a realidade do mundo em que vivemos. As situações cômicas ou mesmo as mais dramáticas remontam a literatura, as notícias dos jornais, ao uso da tecnologia, a situações vividas nas salas de aula, ao que comemos ou mesmo as relações familiares. Vejam, por exemplo, casos como o do desenho O Rei Leão, que tem como base a produção de William Shakespeare, ou ainda Os Simpsons (tanto na televisão quanto no cinema) – que ironiza ao extremo a estrutura familiar e social norte-americana. No caso de Os Simpsons, trata-se de uma produção que inicialmente destinava-se prioritariamente ao público adulto, mas a repercussão entre as crianças e adolescentes é enorme – demonstrando a empatia provocada em relação a um produto cultural mais elaborado, crítico e irônico do que, a princípio, imaginávamos que essas faixas etárias iriam apreciar. Isso não quer dizer que as produções passadas não contavam com essas qualidades, se bem que no caso da estreiteza com a realidade fosse muito pequena... O que acontecia é que as produções eram mais ternas, adocicadas e destinadas a um público infanto-juvenil que tinha muito menos estímulo cultural do que hoje em dia.

[Obs.: Entrevista originalmente concedida a Revista Almanaque Saraiva, da Livraria e Editora Saraiva, no ano de 2008]

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2 COMENTÁRIOS

1 Natália Carvalho De Barros - vila sabel
Eu estou querendo mais de um filme para crianças no cinema voces tem .
02/07/2011 10:29:38


2 simone Cardoso - Macatuba
os filmes são asuntos interessantes, porém temos que tomar cuidados ao escolher os temas , tem que ser de acordo com asunto dado em sala de aula como uma atividade para complementar.
08/06/2009 11:05:46


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