De Olho na História
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Caça as Bruxas em pleno Século XX - 09/09/2008
O Macartismo e a histeria anti-Comunista nos EUA

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     Em 29 de junho de 1940 o congresso dos Estados Unidos aprovou o Alien Registration Act. Esta nova lei tornou ilegal para qualquer pessoa nos Estados Unidos manifestar idéias e articular oposição franca e aberta ao governo daquele país. A lei também tornou obrigatória a todos os estrangeiros residentes no país, com mais de 14 anos, a apresentação de uma declaração completa do seu estatuto profissional e, além disso, de um registro das suas convicções políticas. Dentro de quatro meses uma quantidade superior a 4,7 milhões de estrangeiros já haviam sido registrados.
 

      O principal objetivo do Alien Registration Act foi prejudicar o Partido Comunista americano e outros grupos políticos de esquerda nos Estados Unidos. Para atingir esse objetivo, ficou decidido que o Comitê de Atividades Anti-Americanas, criado pelo Congresso em 1938 para investigar pessoas suspeitas de comportamento antipatriótico, seria o melhor veículo para descobrir se as pessoas estavam tentando derrubar o governo.

      Em 1947 o Comitê de Atividades Anti-Americanas iniciou um inquérito sobre a Indústria Cinematográfica sediada em Hollywood. Foram entrevistadas mais de 40 pessoas que estavam trabalhando na capital do cinema mundial. Essas pessoas participaram voluntariamente e ficaram conhecidas como “testemunhas amigáveis". Durante essas entrevistas dezenove pessoas foram acusadas de vinculação ideológica com a esquerda.

        Uma dessas pessoas, o renomado dramaturgo Berthold Brecht, deu provas de sua afinidade ideológica com a esquerda norte-americana e, em função disso, migrou para a Alemanha Oriental. Dez outros: Herbert Biberman, Lester Cole, Albert Maltz, Adrian Scott, Samuel Ornitz, Dalton Trumbo, Edward Dmytryk, Ring Lardner Jr., John Howard Lawson e Alvah Bessie se recusaram a responder a qualquer pergunta.
 
        Passaram a ser conhecidos como “The Hollywood Ten” (Os dez de Hollywood). Alegaram que a Constituição dos Estados Unidos dava-lhes o direito de fazer isso. O Comitê de Atividades Anti-Americanas e os tribunais não aceitaram essa alegação e consideraram todos eles culpados, condenando-os a penas que se estendiam por períodos de seis a doze meses de prisão.

        Em junho de 1950, três ex-agentes do FBI e um produtor de televisão de direita, Vincent Harnett, publicaram um panfleto chamado Red Channels que listava os nomes de 151 escritores, diretores e atores que eram ou teriam sido membros de organizações subversivas antes da Segunda Guerra Mundial e que, até aquele momento não tinham sido colocados na lista negra do Comitê de Atividades Anti-Americanas. Os nomes tinham sido elaborados a partir de arquivos FBI e de uma análise detalhada do Daily Worker, um jornal publicado pelo Partido Comunista americano.

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        Uma cópia gratuita do Red Channels foi enviada a todos os responsáveis por empregar pessoas no setor do entretenimento. As pessoas nomeadas no panfleto foram penalizadas até o momento em que confrontassem o Comitê de Atividades Anti-Americanas e convencessem seus membros que tinham renunciado completamente ao seu passado esquerdista.
 
        Edward Dmytryk, um dos membros da lista “Hollywood Ten” teve problemas financeiros. Diante dessa situação, Dmytryk decidiu tentar fazer com que o seu nome fosse retirado da lista negra e, para isso, compareceu perante a Assembléia da Comitê de Atividades Anti-Americanas novamente. Desta vez ele respondeu todas as questões, incluindo a nomeação de vinte e seis antigos membros dos grupos de esquerda.
 
        Dmytryk revelou também o modo como alguns de seus superiores (como John Howard Lawson, Adrian Scott e Albert Maltz) tinham colocado pressão sobre ele para se certificar que seus filmes expressassem os pontos de vista do Partido Comunista. Isto foi particularmente prejudicial para os membros do original “Hollywood Tem” que naquela época foram envolvidos em processos judiciais com seus antigos empregadores.
 
        Se as pessoas se recusassem apresentar nomes quando comparecessem perante o Comitê de Atividades Anti-Americanas, eles próprios eram adicionados a uma lista negra que tinha sido elaborado pelos estúdios cinematográficos de Hollywood. Mais de 320 pessoas foram colocadas nesta lista o que lhes obrigou a parar de trabalhar na indústria do entretenimento. Nomes importantes do cinema norte-americano foram incluídos nessa relação, como Leonard Bernstein, Charlie Chaplin, John Garfield, Dashiell Hammett, Lillian Hellman, Arthur Miller e Orson Welles.
 
        Decidiu-se então usar o Alien Registration Act americano contra o Partido Comunista. Os dirigentes do partido foram presos e, em outubro de 1949, depois de um julgamento que durou nove meses, onze pessoas processadas foram condenadas por violar tal lei. Ao longo dos dois anos seguintes um total de 46 membros do partido comunista foram presos e acusados de defender a derrubada do governo. Acusações de espionagem contra Alger Hiss, Julius Rosenberg e Ethel Rosenberg, ajudaram a criar um profundo receio nos Estados Unidos de que uma conspiração comunista estava próxima.

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        Em fevereiro de 1950, Joseph McCarthy, senador de Wisconsin, fez um discurso em que afirmava ter uma lista com mais de 200 pessoas no Departamento de Estado identificados como membros do Partido Comunista Americano (lista reduzida, posteriormente, para 57 nomes pelo próprio McCarthy). A lista de nomes não era um segredo e, na realidade, tinha sido publicado pela Secretaria de Estado em 1946. Estas pessoas tinham sido identificadas durante uma análise preliminar de 3000 agentes federais. Alguns tinham sido comunistas, mas outros tinham sido fascistas, alcoólicos ou eram homossexuais. O comportamento de McCarthy quanto a bebidas e sexo o teriam colocado também nessa relação, mas como ele era o principal inquisidor desse processo, obviamente se excluiu e omitiu suas preferências e ações. McCarthy também começou a receber as informações de J. Edgar Hoover, chefe do Federal Bureau of Investigation (FBI).
 
        Os avanços comunistas da Europa Oriental e na China somados aos maus resultados dos norte-americanos na Guerra da Coréia aumentaram o temor do público americano quanto às possibilidades de subversão interna, com um suposto avanço dos comunistas nos Estados Unidos. McCarthy foi escolhido então para presidir uma comissão governamental no senado, e isso lhe deu a oportunidade de investigar a possibilidade de subversão comunista.

        Durante os dois anos seguintes, a comissão de McCarthy investigou vários departamentos governamentais e questionou um grande número de pessoas sobre o seu passado político. Alguns perderam seus empregos depois que admitiram ter sido membros do Partido Comunista. McCarthy deixou claro para as testemunhas que a única maneira de mostrar que tinham abandonado as suas posições de esquerda era a delação de outros membros do partido.

      Essa caça às bruxas e a histeria anti-comunista logo se tornou conhecida como Macartismo. Vários artistas e intelectuais da esquerda resolveram que não queriam viver em uma sociedade que oprimia as pessoas por suas diferentes convicções políticas e passaram a viver e trabalhar na Europa.

        O radicalismo de McCarthy levou o senador e seus partidários a atacar também em outras frentes oposicionistas. Harry S. Truman, ex-presidente dos Estados Unidos e membros da sua administração Democrática como George Marshall e Dean Acheson, foram acusados de serem coniventes com o comunismo. Truman foi retratado como um perigoso liberal. Contando com o apoio de McCarthy, Eisenhower se elegeu presidente em 1952.
 
        Depois do que tinha acontecido aos oponentes políticos de McCarthy nas eleições do início da década de 1950, a maioria dos políticos não quiseram criticar o senador e seus posicionamentos no Senado. Uma exceção notável foi William Benton, o proprietário da Enciclopédia Britânica, e um senador de Connecticut. McCarthy e os seus aliados começaram imediatamente a desmerecer e atacar abertamente ao senador Benton.

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        Alegou-se, por exemplo, que enquanto secretário de Estado adjunto, ele tinha conhecido e protegido comunistas e que ele havia sido responsável pela compra e exibição de obras de arte subversivas. Benton, que também foi acusado de ser desleal por Joseph McCarthy por ter muito do seu trabalho da empresa impresso na Inglaterra, foi derrotado nas eleições 1952.
 
        Em 1952 Roy Cohn McCarthy foi nomeado conselheiro-chefe do Governo para a Comissão de Operações do Senado. Cohn tinha sido recomendado por J. Edgar Hoover, que tinha ficado impressionado pelo seu envolvimento na repressão a Julius e Ethel Rosenberg. Pouco depois de nomeado, Cohn recrutou o seu melhor amigo, David Schine, para se tornar seu principal consultor.
 
        O alvo seguinte de McCarthy foi o que ele acreditavam ser livros anti-americanos disponíveis nas bibliotecas. Seus assessores nessa empreitada afirmavam ter descoberto 30 mil livros escritos por comunistas e simpatizantes. Após a publicação desta lista, esses livros foram retirados das prateleiras da biblioteca.
 
        Enquanto isso acontecia, os adversários políticos de Joseph McCarthy buscavam provas relativas às suas atividades homossexuais. Vários membros do seu pessoal, incluindo Roy Cohn e David Schine, eram também suspeitos de ter relacionamentos homossexuais. Apesar de o fato ser conhecido dos jornalistas que cobriam política em Washington, o primeiro artigo sobre as preferências sexuais do senador foi publicado apenas em outubro de 1952.

        Joseph McCarthy considerou a possibilidade de interpelar os jornais por difamação, mas decidiu voltar atrás quando seus advogados lhe informaram que ele teria que responder em tribunal a perguntas sobre sua sexualidade. Em uma tentativa de parar os rumores que circulavam, McCarthy casou-se com sua secretária, Jeannie Kerr. Mais tarde o casal adotou uma menina.

      Em outubro de 1953, McCarthy começou a investigar uma possível infiltração comunista nas forças armadas. Essa investigação conduzida por McCarthy tinha o claro objetivo de desacreditar Robert Stevens, o secretário do Exército, um de seus desafetos políticos. Essa mobilização de McCarthy fez com que o presidente Dwight Eisenhower ficasse furioso e percebesse que era hora de pôr um fim às atividades de McCarthy.
 
      O Exército dos Estados Unidos começou a passar informações sobre Joseph McCarthy aos jornalistas reconhecidos como oposição ao senador. Isto incluiu a notícia de que McCarthy e Roy Cohn tinham utilizado de seus privilégios como congressistas ao tentar impedir que David Schine fosse recrutado pelas forças armadas.

        Alguns expoentes dos meios de comunicação que faziam oposição ao macartismo, mas antes estavam assustados quanto a possibilidade de pronunciar-se, agora, começavam a ter a necessária confiança para participar do contra-ataque. Edward Murrow, o experiente âncora de um programa de rádio e televisão, usou seu programa na TV (See It Now) para criticar os métodos de McCarthys.

      As investigações no senado dos Estados Unidos foram televisionadas e isto ajudou a expor publicamente as táticas de Joseph McCarthy. Em dezembro de 1954, uma moção de censura condenou a sua conduta por 67 votos a 22.
 
        McCarthy perdeu a presidência da Comissão do Governo no Senado. Ele agora não possuía mais uma base de poder e os meios de comunicação de massa perderam o seu interesse em alegações de uma conspiração comunista. Embora alguns historiadores afirmem que a derrocada de McCarthy marcou o fim da histeria anti-comunista nos Estados Unidos, outros defendem que essa onda durou até o fim da Guerra Fria.

Observações:

- Edward Murrow foi retratado no filme “Boa Noite, Boa Sorte”, do ator e diretor George Clooney; o ator David Strathairn que viveu Murrow no cinema recebeu uma indicação ao Oscar por sua interpretação. Saiba mais sobre o filme e o Macartismo acessando o artigo “A intolerância política em xeque”, na coluna Cinema na Educação ou ainda a reflexão “Crise de Consciência”, na coluna Carpe Diem.

- O texto acima foi revisado, traduzido e adaptado a partir do original em inglês disponibilizado no site britânico Spartacus Educational. O responsável pela tradução é o editor do Planeta Educação, professor João Luís de Almeida Machado.

 

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2 COMENTÁRIOS

1 Anderson Cardoso dos Santos - São Paulo
Parabéns pelo texto! É raro ver algum relato contra McCarthy, Nunca vi algo sobre ele na Tv! É Muita coragem postar e escrever sobre ele... parabens realmente também pelo alto conteudo historicoliterario deste texto. Mas fica ai a duvida, porque é tão dificil achar algo que fale o que aconteceu durante esses anos de 52 a 57, será que as informações que dispomos são tão manipuladas a este ponto?
26/02/2009 17:16:59


2 JANE BEZERRA - TERESINA /PI
NÓS SABEMOS ,Q. TUDO Q. PODE FERIR A SAGRADA DEMOCRACIA AMERICANA PODE SE TORNAR UMA AMEAÇA!MAS,ELES PODEM FERIR A AUTONOMIA DOS POVOS E NADA ACONTECE! POR CAUSA DA MINHA FORMAÇÃO POLITICAIDEOLÓGICA,ESTOU SEMPRE C/ UM PÉ ATRAS C/ ESSES AMERICANOS,MESMO TENTO TORCIDO PELO B. OBAMA,SEI Q. ELE É AMERICANO! ABRAÇOS JANE
09/11/2008 10:44:09


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