A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Por uma Revolução Verde nas Cidades - 18/08/2008
Pelo direito aos 12m² de área verde por habitante

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Imagem-do-Parque-do-Ibirapuera

Quanto mais conheço cidades no Brasil, mais me convenço que realmente somos um país atrasado. Digo ainda, para não ser deselegante com os cidadãos de outros municípios, que a situação que motiva o surgimento dessas linhas, também aflige a cidade em que nasci e resido (além de praticamente todos os locais onde já morei no país). O crescimento urbano, acelerado e desordenado, está extinguindo as áreas de vegetação nativa e pouco (ou nada) acrescenta no que se refere a parques, jardins e áreas reflorestadas.

O prejuízo não é aparente à primeira vista. O surgimento de novas edificações – tanto residenciais quanto empresariais – é sempre saudado como amostragem do progresso que vitaliza a economia, cria empregos e fortalece as finanças locais e nacionais.

O desmatamento pressupõe para as pessoas não apenas a premissa desenvolvimentista, mas também parece carregar consigo a idéia da capacidade interminável de revitalização da natureza. Não que isso não possa ou não vá ocorrer. Já pudemos ver como florestas, rios, espécies animais e variedades vegetais conseguiram sobreviver a desastres naturais de diferentes envergaduras (como as glaciações ou queimadas de grandes proporções) e até mesmo resistiram, em alguns casos, a desastradas incursões humanas (como pode comprovar a Mata Atlântica, que a despeito de toda a devastação a ela imposta no Brasil, dá mostras de que é possível sobreviver e ressurgir).

Demoramos muito tempo para perceber como nossa ação predatória, motivada em muitos casos por uma ambição desenfreada, causou a exaustão, a destruição parcial ou ainda a extinção de imensas áreas de cobertura vegetal (e conseqüentemente de toda a vida animal que nela existia). Somente a partir dos anos 1960 vimos surgir em escala global a preocupação, o engajamento, a pesquisa, a busca de alternativas, o planejamento e as práticas ambientalistas.

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E durante um longo período, certamente muito fértil e rico para os defensores da natureza, o foco foram os grandes ecossistemas e luta pela vida (vegetal e animal) encerrada nos próprios. Temas fortes nesse sentido foram a Floresta Amazônica, o Pantanal e a Mata Atlântica, no que tange ao Brasil.

Fechamos os olhos para os acontecimentos que aconteciam ao nosso redor. E o fenômeno urbano, acentuado pelo crescimento demográfico verificado ao longo dos últimos 30 ou 40 anos (que levaram o mundo a ultrapassar a barreira dos 6 bilhões de habitantes), foi sendo relegado a um segundo (talvez terceiro) plano. Hoje já temos, de acordo com os dados das Nações Unidas, mais de 25 regiões metropolitanas no mundo com população superior a 10 milhões de habitantes.

A maior delas é Tóquio, no Japão, seguida por Nova Iorque, nos Estados Unidos. Os dados das últimas três décadas revelam, no entanto, que esse clube é cada vez mais freqüentado por regiões metropolitanas de países pobres ou em desenvolvimento. São Paulo, por exemplo, está em 5º lugar, com praticamente 21,5 milhões de habitantes. O Rio de Janeiro, com todas as suas limitações geográficas para expandir-se, encontra-se na 18ª posição desse ranking, com quase 13,5 milhões de habitantes.

É importante perceber que quando nos referimos a São Paulo, ao Rio de Janeiro ou a qualquer outra megalópole, falamos de um conglomerado de cidades próximas (ou nem tanto assim), que não possuem qualquer elemento de distinção ou diferenciação nas regiões fronteiriças que as delimitam. Nesse sentido, é praticamente impossível saber quando se está em São Paulo, Santo André, Diadema, Osasco ou qualquer outra cidade dessa região perimetral a não ser pela observação de placas ou marcos indicativos dessa situação.

E esta situação não se refere apenas as megalópoles, mas também a regiões metropolitanas de menor porte, ou ainda a áreas urbanas médias ou mesmo pequenas. E as semelhanças não param por aí, ou seja, não se restringem ao fato de que entre as cidades já não há ou praticamente inexistem espaços livres de ocupação humana. As similitudes continuam na forma como os espaços urbanos estão organizados e continuam a ser constituídos.

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Casas construídas lado a lado, sem a preocupação por parte das autoridades públicas no sentido de criar parques ou jardins nas proximidades, concreto para todo o lado e a não exigência de que nas residências sejam construídos elementos de reaproveitamento de água, economia de energia elétrica (com o uso de iluminação natural ou sistemas de energização pela luz do sol) ou ainda de criação de espaços verdes, estão nos condenando a um futuro dos mais árduos.

O esgotamento dos lençóis freáticos, a poluição dos rios e lagos, a emissão de poluentes na atmosfera por automóveis e fábricas e a ampliação das áreas concretadas aumentam o calor, impedem uma circulação mais livre e freqüente do ar, levam a uma menor umidade do ar, ocasionam aumento nas doenças cardiorrespiratórias, aumentam as estatísticas de mortes entre idosos e crianças...

Há ainda questões extremamente relevantes como o que fazer com o lixo das cidades, como resolver a questão da escassez de água relativamente a um número cada vez maior de pessoas residindo nas áreas urbanas, até quando será possível prover trabalho para tanta gente nessas localidades ou ainda o que fazer com o esgoto proveniente das áreas residenciais, comerciais e industriais?

Estudiosos de países do primeiro mundo e também do Brasil estão tentando responder a alguns desses dilemas com soluções simples, mas bastante eficientes para algumas dessas questões.

Imagem-de-metro

O reaproveitamento da água da chuva, a criação de canteiros verdes até mesmo nos telhados das casas e prédios, a ampliação e barateamento dos custos para a instalação de provedores de energia solar ou eólica, a criação de legislação que obrigue as pessoas e as empresas a manterem áreas verdes no ambiente doméstico ou em áreas públicas, a criação de parcerias entre o setor público e o privado para o surgimento de novas áreas verdes como jardins, praças e parques (ou ainda áreas reflorestadas), o pedágio urbano no centro expandido das grandes metrópoles, o uso de biocombustíveis ou ainda, a melhoria na qualidade dos serviços de transporte público (com o incremento de opções que utilizam fontes de energia limpa) são alguns dos caminhos que estão sendo aplicados.

Pessoalmente sonho com o dia em que nossas cidades tenham, ao menos, a proporção mínima de área verde prevista pela Organização das Nações Unidas para cada habitante, ou seja, 12 m2 (doze metros quadrados). Já imaginaram o que isso significaria em termos de melhoria da qualidade de vida dos habitantes?

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1 COMENTÁRIOS

1 Gabriel - S.paulo
Vale lembrar também que não é so o Rio de Janeiro que tem favelas o artigo cita somente o Rio S. Paulo tem muuuuuuuitas favelas também.
06/10/2009 16:09:30


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