A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Educação e Esporte - 12/08/2008
O que aprender com a Olimpíada

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Talvez a primeira grande lição dos Jogos Olímpicos de Pequim seja sobre o Fuso Horário... Assistir as competições de madrugada é tarefa inglória para todos aqueles que vivem do outro lado do mundo, como os brasileiros. Pelo menos estamos acordando cedo (muito cedo!) e não temos motivos de atraso para a escola ou para o serviço... A não ser que acordemos, assistamos a algumas provas e jogos e depois voltemos a dormir... Daí certamente é atraso ou até mesmo falta na certa...

De qualquer forma, os Jogos de Pequim começaram e não há muito espaço para outros temas entre todos, especialmente nas salas de aula. Os primeiros dias de competição estão nos fazendo falar de natação, ginástica artística, basquete, vôlei, futebol... E isso é muito positivo. Há uma energia no ar e temos que aproveitá-la, ou seja, torná-la não apenas mais um tema a ser discutido de forma convencional nas escolas, mas usufruir das imagens, histórias, vitórias, derrotas, organização do evento, apresentação, culturas diversificadas, etnias reunidas...

O brasileiro normalmente se envolve e comove mais com a Copa do Mundo de futebol masculino. Isso se relaciona, evidentemente, com a tradição e as vitórias já alcançadas por nossos compatriotas nessa modalidade. Pelé, Rivelino, Garrincha, Romário, Zico, Sócrates, Falcão, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, entre inúmeros outros craques de nossa história, consagraram o futebol brasileiro como o melhor de todos os tempos.

Isso pesa muito a favor dessa competição para os corações dos brasileiros. A possibilidade de vencer é uma realidade. Bem diferente daquilo que ocorre nas Olimpíadas, em que somos meros coadjuvantes, aspirando por algumas poucas medalhas, vibrando com a classificação de nossos atletas para as finais ou esperando ficar entre as 30 melhores nações no cômputo final dos jogos (no quadro de medalhas).

O que nos faz recordar o célebre Barão de Coubertin, o francês que reinaugurou os Jogos Olímpicos no final do século XIX, criando a versão moderna desse magnífico evento. Dizia o grande entusiasta dos esportes que “o importante é competir”. A esmagadora maioria das pessoas que conheço não concorda com isso. Por esse motivo, quando os atletas brasileiros se sentem felizes ao conseguirem um 7º ou 12º lugar, há comentários desdenhosos por parte de muita gente...

Penso que Pierre de Coubertin tinha razão. É claro que todos desejam a vitória, no entanto, a prova só tem um vencedor e o pódio só acomoda os três melhores de cada modalidade. E essa é uma importantíssima lição a ser aprendida a partir dos esportes competitivos, ou seja, para subir no lugar mais alto e galgar o Olimpo do esporte, é necessário contar com uma estrutura de apoio de altíssimo nível, disposição invejável e única para treinar, abdicar de certas regalias normalmente associada à vida de um jovem comum, estar disposto a enfrentar a rotina dos treinos e das competições e possuir um quesito fundamental, demonstrar talento, habilidade, força e criatividade únicas para uma modalidade esportiva.

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O Brasil é um país que ainda engatinha em termos de infra-estrutura para a maioria dos esportes. Há projetos notáveis em andamento, autênticos celeiros de craques, como o trabalho que está sendo desenvolvido há alguns anos sob a supervisão e comando do técnico ucraniano Oleg Stapenko, na ginástica artística. Daiane dos Santos, Danielle Hipólito e Jade Barbosa, as nossas campeãs mundiais, que estão atrás de medalhas olímpicas e celebram uma realidade nunca antes vislumbrada para essa modalidade nobre dos esportes olímpicos no Brasil puderam surgir, se aperfeiçoar e competir em alto nível em função desse trabalho.

Outro espaço de conquistas recentes e de grande brilho para o Brasil é o vôlei. Como no caso da ginástica, o trabalho de Bernardinho na equipe masculina e de José Roberto Guimarães na feminina, que resultou em conquistas dificílimas como vitórias em campeonatos e ligas mundiais e ainda a disputa de medalhas em Jogos Olímpicos é resultado do planejamento, investimento e treinamento rigorosíssimo aliado a qualidade técnica e talento dos atletas brasileiros.

Esporte de alto nível exige dor, sacrifício e dedicação sem igual por parte dos atletas. As mãos das ginastas, os joelhos dos jogadores de vôlei, os braços dos nadadores ou as pernas dos corredores do atletismo sofrem um desgaste inimaginável para uma pessoa comum. Dores de lado, câimbras e contusões são parte do caminho tanto quanto as duras dos treinadores, a necessidade de concentração e precisão, as derrotas (e o reconhecimento das qualidades dos oponentes) e as vitórias.

E quando falamos de esportes coletivos surge outra lição essencial. Apesar da mídia exaltar alguns astros como Giba, Sheylla, Martha ou Ronaldinho Gaúcho, as competições entre equipes são como verdadeiros jogos de xadrez. Temos em mãos várias peças e a vitória depende da combinação das melhores qualidades de cada uma delas. Todos sabemos que a rainha pode e certamente será uma das peças fundamentais para o êxito a ser obtido. Mas cada peão, cavalo ou bispo disponível tem que ser utilizado a partir de suas habilidades e forças disponíveis.

Para Giba brilhar é preciso contar com Dante, Murilo, Serginho, Gustavo e todos os outros atletas, tanto os que são considerados titulares quanto os reservas que a todo o momento entram na partida. Isto também é válido para as outras equipes que disputam esportes coletivos. Nesse sentido prevalece a lógica dos três mosqueteiros, da célebre obra de Alexandre Dumas, ou seja, “um por todos e todos por um”. Não há espaço para estrelismos ou para apenas um brilhar. Temos que pensar em termos da equipe como sendo uma constelação, em que tanto o camisa 10 quanto o 16 são fundamentais para o time.

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E as equipes coletivas assim como os atletas que competem individualmente tem que colocar em prática estratégias, táticas e planos de ação. Para isso, contam com o precioso apoio de treinadores e auxiliares técnicos que os orientam e lhes abrem os olhares para os adversários que terão pelo caminho. Equipe técnica e atletas estudam seus oponentes, descobrindo quais são suas maiores qualidades e pontos fracos. Sabendo que também estão sendo observados, filmados e analisados por membros das outras delegações.

Na Olimpíada, portanto há muitas lições a serem aprendidas, como a necessidade do planejamento, o investimento em projetos pessoais e coletivos, a abertura para ouvir e acatar orientações, a liberdade de opinar sobre os treinamentos e competições, a consciência do valor de cada atleta, o trabalho tático como peça básica para um bom resultado, o trabalho de aprimoramento físico constante...

Penso que, tanto quanto todos esses caminhos e possibilidades de crescimento percebidos numa competição como os Jogos Olímpicos, há também o amor e o respeito pelas cores da bandeira do país em que nasceu cada atleta. Seja uma estrela como Michael Phelps, o gigante da natação americana, ou o último colocado da Maratona, prova que fecha essas competições, acima de qualquer interesse material ou mesmo pessoal, o fato de estar competindo em nome de seu país, representando sua bandeira nacional e envergando as cores da pátria, constituem também um grande e valioso presente...

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