Quais são seus sonhos? O que você imaginou ainda criança e que gostaria de realizar? Ainda não levou a cabo algum deles? Continua a persegui-los de forma incansável? Ou os abandonou e passou a viver de forma mais “realista”? Randy Pausch, professor da Universidade Carnegie Mellon, renomado especialista em ciências da computação, ao descobrir-se doente, com câncer no pâncreas, e com apenas alguns meses de vida pela frente, resolveu falar em uma palestra de despedida sobre os sonhos que sempre acalentara.

Não queria remoer os ferimentos e as dores provocadas pela doença terminal que, aos 46 anos, determinaram que ele teria muito pouco tempo pela frente na estrada da vida. Deram-lhe entre três e seis meses. Ele já ultrapassou essa marca em quase cinco meses e continua firme, batalhando, contando com o apoio de familiares, amigos e desconhecidos que se sensibilizaram com o seu discurso final na Carnegie Mellon.

Sua apresentação ganhou o mundo em virtude da Internet. É possível vê-la na íntegra no YouTube. E realmente mexe com o coração e a cabeça de todos. Pausch conseguiu muito mais falando sobre os sonhos do que discorrendo sobre a enfermidade que lhe acometeu. Agiu como um moderno Peter Pan, que não quer crescer (no caso dele, morrer) e que também não deseja separar-se de sua sombra (que em sua história seriam representadas por sua família, amigos, trabalho).

Isso não quer dizer que ele está inconformado. Não é isso. Sabe muito bem sua condição clínica, utiliza os recursos da medicina para se tratar, conta com o suporte da esposa e dos médicos e, na medida do possível, está se preparando para o inevitável. Creio até que sua formação como cientista e pesquisador, acadêmico e professor na área de ciências da computação o auxiliam muito no sentido de racionalizar toda a situação.

Mas a despeito disso, falou com o coração ao discursar sobre seus sonhos e permitir que inúmeras pessoas do mundo inteiro viessem a conhecer seus pensamentos. Para tornar ainda maior o eco em relação ao discurso e as idéias do professor Pausch, surgiu também o livro “A Lição Final”, escrito em parceria com o jornalista Jeffrey Zaslow. O livro, diga-se de passagem, não é apenas uma reprodução das principais idéias apresentadas em sua famosa e difundida palestra.

Nem tampouco pode ser qualificado como obra de auto-ajuda. Randy Pausch resolveu, no livro, ir além das receitas que poderiam compor um livro de tal natureza. Ao discorrer sobre os sonhos, resgata valores, acontecimentos, encontros, realizações profissionais e fala sobre a família (lembrando-se, com carinho, tanto da convivência e das lições de seus pais, quanto de toda a convivência com sua esposa Jai e os filhos Logan, Dylan e Chloe).

E é nesse aspecto que suas palavras se tornam singulares. “A lição final” não é o livro de um moribundo, a caminho da cova, que pede a cada um de nós um pouco de piedade... Pausch fala da vida de forma otimista, ciente de que cada minuto que temos é valioso demais e que, nesse sentido, ao invés de reclamar de sua condição, vale muito mais a pena viver intensamente o que lhe resta.

Vale destacar que o pensamento do professor Randy Pausch contrasta com a vida de muitos de nós. Afinal, ainda há incontáveis pessoas que não perceberam que, no final das contas, a finitude do tempo é uma realidade, em maior ou menor escala, para todos, e que, por isso, deveríamos mesmo utilizá-lo com maior sabedoria do que estamos fazendo na maioria dos casos...

Isso significa, de acordo com Randy, agarrar seus sonhos com unhas e dentes, buscar sua realização a todo custo (desde que dentro dos limites da ética e da responsabilidade), não deixar jamais de ter metas e, é claro, amar a vida e suas possibilidades.

Pensei muito a respeito das ponderações do livro e, outro dia, conversando com alguns colegas de trabalho, no carro, a caminho de um compromisso profissional em São Paulo, perguntei-lhes sobre seus sonhos. A primeira reação de ambos - dois jovens que estão na faixa dos 20 aos 25 anos, bastante responsáveis, estudiosos e aplicados no trabalho – foi de surpresa. Não esperavam aquela pergunta.

Expliquei a eles a origem do questionamento, mencionando o livro e dando-lhes algum tempo para pensar na resposta enquanto ainda estávamos no trânsito. O jovem programador respondeu que gostaria de ser presidente de uma grande empresa de tecnologia, de alcance mundial, o Google. A estudante de letras disse que estar trabalhando e fazendo faculdade constituíam partes do sonho que tinha para a sua vida.

Disse a eles que, tendo trilhado uma estrada um pouco mais longa já que tenho 40 anos, alguns dos sonhos conscientes e inconscientes que possuía foram aos poucos se realizando. Formar uma linda família – tendo ao meu lado uma companheira fiel, inteligente e carinhosa que me desse a oportunidade de ser pai (temos dois lindos filhos) – talvez tenha sido o mais claro e presente de todos os sonhos que tive.

Tornar-me um profissional honesto, íntegro e competente era certamente outra dessas aspirações. Sonhos derivados da família, em especial de meus pais. Diria ainda que, inconsciente e embutido nos sonhos profissionais vinham o desejo de que a atuação como educador permitissem não apenas o acesso ao conhecimento e o amor a ciência e ao saber, mas também que do contato com os alunos e colegas de trabalho permanecessem a amizade, o respeito, a consideração e também lhes legar alguma inspiração ou lição adicional para o futuro. 

Queria escrever e ao fazer isso, socializar idéias, histórias e ações. Publicar livros, falar sobre cinema, entender um pouquinho de tecnologia, ajudar a melhorar a educação no país, viajar pelo mundo, trabalhar com gastronomia (cozinhar de vez em quando!), ter uma coluna de futebol... Tantas coisas sonhei e continuo a aspirar...

Acho que todos somos assim e, por isso mesmo, penso que o livro de Randy Pausch, “A lição final”, se tornou um elemento de inspiração que pode ser bastante poderoso para quem se dispuser a ler não apenas com os olhos, a mente, a racionalidade, mas, principalmente, com o coração...

Ficha Técnica do Livro
A lição Final
Autor: Randy Pausch e Jeffrey Zaslow
Ano de Edição: 2008
Editora Agir