A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Idéias importantes para a educação Brasileira - 08/07/2008
Para efetivar uma revolução nas escolas do país

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Quanto custa educar direito? - Os cálculos de especialistas acerca do custo de uma educação de qualidade para nosso país informam que temos que aumentar os investimentos em aproximadamente 1% a mais do Produto Interno Bruto em nossas escolas. Isso representaria saltar dos atuais 72 bilhões de reais gastos para um montante de 93 bilhões...

Penso que qualquer investimento adicional em educação é sempre bem vindo. Aumentos expressivos de capital aplicados em educação podem e devem representar ganhos muito maiores para o país do que se tivermos a mesma verba sendo disponibilizada para construir presídios, tapar buracos de estradas ou comprar equipamentos que ficam ociosos em escolas ou hospitais. Vale muito mais aumentar os créditos para a educação do que alimentar o sistema político corrompido que temos...

Agora, cá entre nós, não adianta ter mais dinheiro em mãos se não soubermos como gastar, estipulando quais são as prioridades, que regiões ou segmentos são mais carentes ou ainda que o aperfeiçoamento das redes passa necessariamente por uma melhor qualificação do corpo docente, com cursos e atualizações constantes que realmente repercutam em sala de aula...

De que adianta comprar uma Ferrari e colocar como piloto uma pessoa que só tenha dirigido fuscas... A escola só irá melhorar quando os professores estiverem preparados para esse desafio e muito dispostos (com salários melhores, planos de carreira, assistência médica, incentivos por produtividade, cobranças de resultados,...) a encarar suas novas responsabilidades, entre as quais, por exemplo, encontra-se a necessidade de utilizar com inteligência pedagógica as tecnologias em sala de aula!

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Escolas que ensinam e aprendem - A revista Época destacou em recente reportagem um artigo sobre educação com o título "O que as escolas precisam aprender". Destaco o texto da revista para chamando a atenção para seis idéias de grande importância apresentadas por especialistas no tema para construirmos uma escola não apenas melhor, mas realmente eficiente... São elas:

- Ter pensamento crítico
- Conectar idéias
- Saber aprender sozinho
- Conviver com pessoas diferentes
- Estabelecer metas e fazer escolhas
- Ter visão globalizada

Concordo com todas elas. Penso que temos que nos dedicar agora a aprender como chegar lá. A realidade de nossa educação está muito distanciada dessas proposições. Os professores precisam se reinventar e também rever toda a concepção de escola que construíram até o presente momento.

Para levar os nossos alunos a habilidades e competências tão importantes quanto o pensamento crítico, a capacidade de conectar idéias, a possibilidade de aprender por conta própria, a tolerância para o convívio com as diferenças, a capacidade de estabelecer objetivos e selecionar prioridades e a extensão do olhar para além de nossos quintais e cercanias... Será necessário e fundamental que os professores também sejam capazes de realizar os mesmos intentos, senão... Como serão capazes de ensiná-los?

Como poderei ensinar a operar uma retro-escavadeira se nunca aprendi a fazer isso? De que forma serei capaz de orientar meus alunos a realizar um projeto de pesquisa se não faço pesquisas acadêmicas? Será que conseguirei preparar um time de basquete, futebol ou handebol para um campeonato se nunca joguei ou estudei esses esportes?

Acredito que os professores podem realizar essas operações e demonstrar muitas outras habilidades e competências além das mencionadas, mas trabalhando sempre de olho nos conteúdos programáticos, de forma repetitiva, sem qualquer estímulo a criatividade, desmotivados pelas condições inadequadas de trabalho e não contando com recursos para implementar suas ações, será praticamente impossível reverter esse quadro!

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O merecido sucesso de quem estuda - Recente reportagem publicada na Revista Veja com o título "A Cultura do Sucesso" - traz a tona importantes e relevantes dados sobre o êxito obtido pelos estudantes de origem asiática nos exames de admissão nas melhores faculdades brasileiras e também no decorrer do ensino universitário.
 
De acordo com a reportagem, que tem como base dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), "37% dos estudantes de origem asiática no Brasil concluem a universidade", percentual que é quatro vezes maior do que a média nacional. Dados obtidos a partir de pesquisa na USP (Universidade de São Paulo) indicam que os jovens de origem asiática ocupam 20% das vagas dos cursos mais concorridos naquela que é considerada a instituição universitária mais importante do país. Se levarmos em conta que os asiáticos representam menos de 0,5% do total da população nacional fica ainda mais expressiva essa conquista...

Esses dados revelam que o intelecto desses jovens de origem asiática é superior ao dos demais brasileiros? Não, em absoluto. O que fica claro é que o fato de se aplicarem mais nos estudos é que lhes garante o sucesso atingido na educação. Além disso, é evidente que para as famílias e também para esses estudantes, a escola é um fator mais do que considerável para a obtenção de êxito na profissão e na vida, por isso vale a pena (na opinião dos mesmos), dedicar-se muito para obter bons resultados.

Para os brasileiros em geral ainda prevalece à idéia de que quem estuda demais é "CDF" ou, mais modernamente, "Nerd" - o que o desqualifica em relação aos demais que seriam, teoricamente, "normais". Estudar demais não implica em abdicar do restante daquilo que compõem uma vida normal - como namorar, sair com os amigos, praticar esportes, ir ao cinema, ouvir música, etc. - mas adicionar a essa realidade uma prática regular de estudos que garanta não apenas o tradicional "passar de ano" na escola, mas principalmente a aprendizagem efetiva.

Entre os descendentes de asiáticos prevalece a noção de que estudar demais prepara e dá chances que dificilmente aparecerão para quem não for tão qualificado. E eles têm razão quanto a isso. O que falta aos demais estudantes brasileiros é a percepção dessa realidade, a superação desse preconceito tolo em relação ao estudo disciplinado e a organização para esses estudos, de forma que não fique tudo para a última hora.

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Direitos e Deveres em Educação - Duas outras questões importantes quanto à educação pública em nosso país foram levantadas por Gustavo Ioschpe, a saber:

- "A escola tem mesmo é que ter foco na retenção de bons professores e paparicá-los, pois estes têm grande propensão de irem para outras áreas."

- "Quando há a necessidade de prestar contas, a gestão melhora. Por isso o sistema educacional privado é bom, pois os pais exigem resultados."

Quanto à primeira afirmação, que a princípio dispensaria maiores comentários, vale destacar que nosso país não considera realmente que educação seja prioridade (a não ser em períodos eleitorais) e que o incentivo aos professores demanda não apenas salários (muito) melhores do que aqueles que temos nesse presente momento, mas também todos os benefícios trabalhistas que a classe merece e que tantas vezes não são dados a esses profissionais.

Ganhar mais é importante, mas valorização demanda reconhecimento pelo trabalho e pede, da mesma maneira, fiscalização e cobrança. O que realmente acontece nas salas de aula é praticamente um grande mistério para a comunidade e, muitas vezes, até mesmo para a direção da escola, a secretaria de ensino (municipal, estadual) ou para o MEC...

É nesse sentido que a segunda afirmação de Ioschpe se junta à primeira para complementá-la, ou seja, é preciso cobrança regular de rendimento e conhecimento de causa quanto ao trabalho dos professores para que se saiba, ao certo, como a educação nesse país acontece de fato...

O que é ensinado, como é ensinado, que metodologias e recursos são efetivamente utilizados, de que forma o professor controla (ou não) a disciplina, qual o nível de comprometimento em aula dos alunos, o que torna um professor eficiente e outro ineficaz,... Temos que abrir os olhos e cobrar ao mesmo tempo em que os professores devem mostrar o seu profissionalismo e abrir as portas de suas salas de aula sem receio (a não ser que de alguma forma "tenham o rabo preso" ou que estejam conscientemente agindo de forma prejudicial ao desenvolvimento de seus alunos...).

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