Ratatouille - 09/05/2008
Receitas de sucesso
Pergunte a quem quiser... Qual a melhor comida que você já teve o prazer de degustar? A maioria das respostas apontará as preparações culinárias das respectivas mães, avós ou esposas. Comida caseira tem um sabor genuíno, próprio, particular e, praticamente, inimitável...
É claro que se mudarmos a pergunta e restringirmos a resposta a restaurantes... Então teremos um pouco de tudo, existem aqueles que adoram restaurantes orientais, outros que preferem a clássica produção francesa, há ainda os apaixonados por massas italianas, os fanáticos por comida brasileira e, até mesmo, os fanáticos por lanches, bem no estilo fast-food...
Com o século XXI um crescente interesse das pessoas pela gastronomia tem sido percebido pelos quatro cantos do mundo. E esse interesse, adicionado a curiosidade por novos sabores e preparações, encontrou na globalização o terreno ideal para que ocorresse uma expansão considerável do segmento culinário.
Livros, programas de televisão, colunas nos principais jornais do mundo, revistas especializadas e, até mesmo, filmes dedicados à temática têm surgido alhures. Chefs de todas as nacionalidades e restaurantes das mais variadas bandeiras ganharam notoriedade e brigam, dia após dia, por um lugar de destaque num cenário local, nacional e, até mesmo, internacional.
Ganhar espaço na mídia, com críticas positivas, ou ainda povoar as páginas dos principais guias gastronômicos ou turísticos do mundo, acompanhados da maior quantidade possível de estrelas se tornou o sonho dos maiores empreendedores na área de restaurantes.
E desde quando o mundo acostumou-se as refeições fora de casa? Isso é uma exclusividade do século XXI? Certamente que não. A história registra o surgimento dos restaurantes, que inicialmente tinham o claro propósito de “restaurar” as energias, em modelos aproximados daqueles que hoje conhecemos, apenas a partir do século XVIII (1701-1800), durante a fase em que a nobreza perdia prestígio e poder e assistíamos à ascensão da burguesia.
Restaurantes são, portanto, um claro símbolo estabelecido do mundo capitalista contemporâneo. Erigiram-se como mais um serviço que, aos poucos, foi se tornando imprescindível peça que permite ao sistema, como um todo, funcionar. Mas não perdeu o seu status de arte, ainda que em alguns de seus segmentos tenham surgido evidentes traços de procedimentos industriais (como alimentos congelados, sistema de produção em série, sabor pasteurizado).
Mas, como íamos dizendo, é no século XXI que a caracterização artesanal e artística retorna, com todo vigor, apesar da globalização e de sua tônica e acentuada vocação para a velocidade. Até mesmo as receitas de nossas mães e avós passaram a ser novamente requisitadas, agora por pesquisadores da área de gastronomia, para que seus sabores possam ser descobertos e reproduzidos (o que, particularmente, acho pouco provável).
E o mais interessante, a vocação para a comida saborosa, o belo prato – aquele que nos conquista também pelos olhos e não apenas pelo olfato – ganha força num contexto em que se busca a plena profissionalização de seus profissionais. O que nos leva a crer que ganham todos, tanto os homens e mulheres que atuam em gastronomia, quanto às pessoas as quais eles dedicam seu trabalho.
“Ratatouille”, essa incrível e deliciosa fábula moderna criada pela Disney, é mais um libelo em prol da idéia de que, em gastronomia e na vida, temos que buscar o sabor pleno, a aventura completa e o deleite absoluto em tudo o que fazemos e vivemos. O mote do chef Gusteau, apresentado ao longo da animação, em que se diz que todos e qualquer um, sem distinção, podem aprender a cozinhar, constitui uma lição que não deve se restringir as cozinhas ou a gastronomia...
Nesse sentido, a grande lição nos é dada, mais uma vez (como em quase todas as produções Disney), por um personagem que nem é humano, o ratinho Remy. É ele que comprova, na prática, o ensinamento do estrelado cozinheiro Gusteau, seu mentor ao longo do filme, e transforma o mais simples e tradicional caldo francês, o Ratatouille, num prato que comensal algum dispensaria ou deixaria de elogiar...
O Filme
Remy é um simpático ratinho do campo que pertence a uma grande comunidade de roedores como ele. A natureza desses animais os leva a buscar constantemente a sua sobrevivência buscando alimentos no lixo e em restos deixados de lado pelos humanos. Nem sempre esses recursos estão bons para o consumo e, em alguns casos, estragados ou até mesmo envenenados, causavam baixas entre os ratos.
Mas Remy desenvolveu um talento nato, pouco peculiar para animais de sua espécie, através do qual consegue discernir pelo olfato, a qualidade dos alimentos – inclusive se são ou não próprios para o consumo. E como esse descendente moderno do Mickey Mouse chegou lá?
Aprendendo a ler para devorar o livro de Chef Gusteau – o mais renomado cozinheiro francês (ao menos no filme), assistindo programas de gastronomia na televisão de uma velha senhora que morava nas proximidades de sua comunidade de ratos, remexendo as prateleiras de especiarias e na despensa de alimentos dessa mesma residência,... Em suma, tudo aquilo que nenhum de seus parentes do reino animal faziam, já que só se preocupavam em sobreviver...
E, principalmente, provando os mais diversos sabores, isolados ou combinados...
Mas um dia... Descoberto pela dona da casa onde fez todas essas pesquisas e experimentos, e sob a mira de uma calibrada espingarda, Remy e seus amigos e familiares são colocados para correr a toda a velocidade para salvar suas peles (pernas para que te quero!).
E depois de uma jornada das menos gloriosas pelas águas de um esgoto local, Remy acaba se separando de seus iguais e vai parar num local que ainda não conhece bem por nunca ter estado lá, mas do qual já tem informações por ter lido e assistido televisão... A capital mundial da gastronomia (e da França), Paris...
Melhor do que isso impossível... Ainda mais que o ratinho azul, por acaso (obra e arte do cinema), acaba chegando ao restaurante de ninguém menos que Chef Gusteau, seu mentor. É nesse outrora ultra-estrelado estabelecimento que ele conhece Linguini, Skinner, Collette, o crítico gastronômico Ego e companhia limitada...
E é nesse ambiente que ele terá que provar a todos e, principalmente a si mesmo, que realmente é possível a qualquer um aprender a cozinhar com qualidade e talento... “Ratatouille” é diversão de primeira, prato cheio para todos os públicos e não apenas para as crianças ou os aficcionados em gastronomia... Bon apetit!
Para Refletir
1- A globalização chegou à mesa. Em “Ratatouille” há evidentes sinais de que estamos vivendo esse fenômeno até mesmo na cozinha. As facilidades advindas da melhoria dos transportes e da comunicação e a velocidade com que as transações são efetuadas e a produção é acondicionada e despachada de um lado para o outro do planeta, tem permitido que alimentos de todas as partes do mundo entrem em qualquer país, sendo disponibilizados para todos os consumidores através de mercados, feiras, supermercados ou, ainda, em casas especializadas em insumos importados. Quais alimentos são típicos de nosso próprio país, o Brasil? Que produtos são provenientes da Europa, da Ásia, da África ou dos outros países americanos? Que tipos de produções culinárias são importadas? Quais são herança de nossas tradições ancestrais? Como se alimentavam nossos pais e avós? De que forma modificaram-se os hábitos alimentares nas últimas três ou quatro décadas? Há, enfim, uma série considerável de questões que podem e devem desencadear projetos, ponderações, debates, trabalhos em grupo e até tarefas escolares nas mais diversas disciplinas, das ciências a história, da língua portuguesa a geografia,...
2- Linguini, um dos personagens principais, é herdeiro de sangue do grande chef Gusteau. E essa informação é por ele utilizada para justificar a sua “natural habilidade e destreza” em gastronomia. É possível atribuir a genética as características que, como um todo, descrevem e definem um ser humano? Afinal, como cantava Elis Regina, somos realmente “como nossos pais” até o último fio de nossos cabelos? Você é como seus pais ou avós?
3- É possível fazer uma analogia entre a forma como a cozinha do filme “Ratatouille” é organizada e operada pela equipe de trabalho que nela atua e todas as outras áreas de atuação humana? Que tal traçar paralelos entre as informações que nos são dadas na animação e a forma como são operacionalizadas instituições como escolas, indústrias, mercados, hospitais, jornais,...
Ficha Técnica
Ratatouille
País/Ano de produção: EUA, 2007
Duração/Gênero: 110 min., Animação/Comédia/Aventura
Indicação Etária:livre
Direção de Brad Bird, Jan Pinkawa
Roteiro de Brad Bird, baseado em história de Brad Bird, Jim Capobianco e Jan Pinkawa
Elenco (vozes): Patton Oswalt, Ian Holm, Lou Romano, Brian Dennehy, Peter O´Toole, Peter Sohn, Brad Garrett, Janeane Garofalo, Will Arnet, Julius Callahan, James Remar.
Links
http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_Filme.aspx?id_filme=2150&aba=detalhe
http://www.adorocinema.com/filmes/ratatouille/ratatouille.asp
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=12318
1 Rosana Santiago - Salvador
Gostei do comentario sobre o filme porém achei que faltou falar em base cientifica sobre a forma de comunicação entre Remy e Linguine.
11/09/2008 10:17:56
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